Crítica: Um show à parte, 2ª temporada de GLOW reafirma a opressão feminina nos anos 1980

Crítica da segunda temporada da série GLOW, da Netflix.

Imagem: Netflix/Divulgação
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O que era bom ficou ainda melhor!

Acho que a Netflix ainda não reconheceu o grande valor que GLOW possui. Isso porque a segunda temporada estreou sem muitos alardes, chegando timidamente no catálogo da plataforma na última sexta (29). Logo comecei a minha maratona, e assim assisti a todos episódios rapidamente, como na primeira temporada.

Não é qualquer série que proporciona a prática do “binge watching” (saiba mais aqui), e GLOW nos prende do início ao fim, quando o quesito é maratonar. Claro, eu creio que ela seja feita para um nicho muito bem específico – se não para um público feminino, certamente para as homens e mulheres saudosistas da década de 1980. Mas seu texto possui algo incrível, que ainda vejo em poucas produções da gigante do streaming.

Mulheres à frente de seu tempo, ou apenas tentando sobreviverem?

Se na primeira temporada (relembre a crítica aqui) tínhamos mulheres que soavam desesperadas por um emprego – ou mesmo por apenas reconhecimento, neste ano temos todas elas tentando se reafirmar.

O programa GLOW agora se tornou uma atração semanal na grade de uma filial da KDTV, um canal a cabo que praticamente servia ao trash na década de 1980. Mas enganam-se quem pensa que a vida dessas renomadas atrizes seria apenas mamata a partir daqui.

Participar do GLOW se tornou o ganha pão dessas mulheres, mas ao mesmo tempo elas precisavam se reencontrar como profissionais e principalmente como mulheres. Suas histórias paralelas brilharam nessa temporada, tanto que o arco da luta em livre em si ficava muitas vezes em segundo plano – o que pode ser uma coisa até boa, se for para contar histórias envolventes como a desta temporada.

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Imagem: Netflix/Divulgação
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Mas o principal era perceber que nada era fácil para o gênero. Desde os gritos vindo de homens que se achavam superiores às mulheres, apenas por serem homens. Ou da falta de credibilidade que muitas carreiras passavam, a mulher é mostrada em GLOW como um símbolo daquela que precisa trabalhar 12 horas em pé, em um turno de fast food, para poder sustentar a família. E dessa página que as protagonistas tentam virar, em tramas que fisgaram.

Rivalidade interessante.

O revanchismo perdurou entre as personagens de Allison Brie e Betty Gilpin. Ruth e Debbie continuaram em busca de algo a mais nesta temporada, e isso as colocou de frente em diversos momentos.

Ruth, ainda tentando ser mais do que uma mulher de uma fala apenas, queria atuar como diretora ou assistente de direção em diversos momentos. Era a oportunidade dela ser ouvida, em um mundo onde apenas homens eram ouvidos. Já Betty queria fugir do transtorno de seu divórcio, seja vendendo os móveis de sua casa ou seja mostrando que ela poderia atuar como produtora – exigência por ser uma das estrelas mais famosas do show. Com o mundo de Liberty Bell e Zoya vindo para a realidade, restou à Debbie e Ruth se adaptarem uma com a outra.

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Imagem: Netflix/Divulgação

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Isso acabou por levar a trama da temporada a convergir em um acerto de contas na reta final, rendendo um momento dramático onde Betty quebra o pé de Ruth. No hospital, já com Ruth engessada – e praticamente fora do programa, Allison Brie e Betty Gilpin tiveram atuações dignas de chamar a atenção da Academia para o Emmy de 2019 (este ano, as atrizes concorrerão pela primeira temporada). E ali, Debbie despejou toda a raiva que sentia da rival, por ter dormido com seu ex-marido. Mesmo Ruth estando errada na situação, ela mostrou arrependimento, somado à uma visão de que talvez Betty não fosse feliz em sua relação. No final, o bate boca serviu para colocar ambas em seus devidos lugares, e isso fez muito bem para a série.

Episódios que chamaram a atenção!

GLOW colecionou em sua segunda temporada alguns episódios extremamente inteligentes, em muitos aspectos. Talvez, o que chama mais atenção seja o episódio 08, onde o público tem a experiência de assistir à um episódio do GLOW da KDTV.

Essa experiência foi extremamente nostálgica, e feita em uma qualidade digna de prêmio – e digo isso com razão, uma vez que até mesmo aquele curta metragem que a Netflix produziu com Xuxa no Brasil, revivendo aspectos dos anos 1980 na TV, ganhou prêmio. Não seria difícil ver GLOW abocanhar nomeações – e até mesmo vitórias – com este episódio incrível.

Outro episódio genial foi o que mostrou a “finale de GLOW“, com o casamento de Britânica com um fã. As reviravoltas, a conversão para que Ruth finalmente alcançasse o seu status de protagonista, além da tentativa desesperada de todos envolvidos com a produção mostrarem que GLOW era um programa que valia a pena ser produzido, são características simplesmente incríveis. Ao final da jornada de dez episódios, a sensação é de que você compra essa briga das mulheres, a ponto de querer mais e mais.

Tramas coadjuvantes que brilharam.

Muitos tiveram vez na segunda temporada de GLOW, e fazendo uma alusão à Orange is The New Black, com um elenco feminino muito grande, não dá tempo de abordar a história de todas as personagens em uma só temporada. Então, nesta, foi a vez de algumas brilharem.

A trama de Ruth com Debbie foi uma das mais interessantes, mas sua narrativa sozinha é digna de atenção. Isso porque GLOW alcançou o sucesso, mas perdera rapidamente a partir do momento em que um diretor de programação tenta dormir com a personagem de Allison Brie, tendo a mesma recusado. E na riqueza do texto, mostrando que a dignidade feminina existia – mesmo que timidamente durante a década de 1980, houve um trabalho de redenção, ao mostrar que mulher não deve se sentir culpada por uma tentativa de estupro. E isso é uma das coisas mais geniais do texto.

O plot da Rainha da Providência também serviu para ambientar que além de ser difícil viver como mulher na década de 1980, ainda era um desafio à parte ser mulher e negra. Mas ela lutou – em todos os sentidos – para poder dar uma vida boa para seu filho, mesmo passando por muitas humilhações. A cena que seu filho vai assistir uma luta e a vê sendo completamente humilhada no ringue é de partir o coração. E nesses momentos, você compra a briga de todas elas, sem pestanejar.

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Também tivemos destaque para a filha de Sam, que serviu para desenvolver ainda mais seu personagem. Um pouco da evolução de Bash Howard, que de ricaço boa pinta, foi de produtor que chora pela morte do mordomo. Além da inserção de novos personagens, como o cinegrafista, que complementaram o texto, que “brilhou” entre o humor ácido e a realidade feminina nos anos 1980.

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Imagem: Netflix/Divulgação

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Uma nuance, um olhar, uma fala que mostra o gênero feminino sendo oprimido em um homem governado por homens. Mas, certamente, estas mulheres estão ali para mostrar que elas estão prontas para dominar a Terra, apenas buscando uma oportunidade de mostrarem suas forças e poderes.

Gostinho de quero mais…

A série termina sua segunda temporada dando uma solução para o cancelamento do programa da TV: um produtor resolveu levá-las para Las Vegas, fazendo uma alusão ao que aconteceu com o verdadeiro programa em 1992 – que ao perder espaço na TV para sitcoms, continua fazendo apresentações ao vivo.

Seria muito interessante ver o desenrolar dessa história em Vegas, e a torcida para uma terceira temporada já está sendo feita.

Mas, por essas e outras, que o texto inteligente e astuto de GLOW precisa ser apreciado. E claro, para os amantes dos anos 1980, uma excelente pedida para matarmos saudades dessa década nostálgica, com muita música que marcou época, roupas, e carões que só aqueles anos proporcionariam.

Manda mais GLOW, Netflix, a gente agradece!

Sobre o autor
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Anderson Narciso

Criador do Mix de Séries, atua hoje como redator e editor chefe do portal que está no ar desde 2014.Autor na internet desde 2011, passou pelos portais TeleSéries e Box de Séries.Fã de carteirinha de Friends, ER e One Tree Hill, é aficionado pelo mundo dos seriados. Também é fã de procedurais, sabendo tudo sobre o universo das séries Chicago, Grey's Anatomy, entre outras.

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