Final da 2ª temporada de The Handmaid’s Tale reafirma seu posto de melhor da atualidade

Review dos três últimos episódios da segunda temporada de The Handmaid's Tale, da Hulu, intitulados, respectivamente, Holly, Postpartum, The Word.

Imagem: Hulu/Divulgação
Imagem: Hulu/Divulgação

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A segunda temporada The Handmaid’s Tale chegou ao fim e o que corre pela internet é que a série teve um ano inferior ao primeiro, e que a série não andou para frente. A indignação de alguns é válida, mas com doses de exagero. O próprio Mix de Séries alertou para este problema de desenvolvimento ainda nos capítulos iniciais da segunda temporada. Quando teve sua fuga impedida e retornou para a casa de Waterford, June acabou retrocedendo ao ponto anterior. Apontamos isso afirmando que a série brincava com retrocesso quando devia avançar.

Fomos criticados por alguns fãs mais ardorosos, mas o fato torna-se cristalino neste encerramento: Handmaid’s Tale flertou com as ideias de retrocesso e desenvolvimento várias vezes durante a temporada. Em uma espécie de “morde e assopra”, a série ameaçava vários movimentos que ficaram pelo caminho. Em 13 episódios, June teve oportunidade de fugir não uma, mas três vezes (a primeira no avião, a segunda quando ficou sozinha na casa e a terceira nos minutos finais da finale). Em nenhuma delas June fugiu, sendo que em duas, decidiu ficar.

Questões morais movimentam episódios finais.

O que nos leva a uma das maiores questões morais da temporada: o fato de June abandonar ou não Hannah. Entendemos o instinto materno e o amor que ela nutre pela criança, mas fugir e ficar segura talvez fosse a melhor forma de bolar um plano e retornar para salvar Hannah, não é mesmo? Ao disparar o sinalizador e trazer pessoas à casa onde efetuou o próprio parto, June estava tentando salvar a sua vida e a do bebê. No final, contudo, nos segundos derradeiros do segundo ano, a aia entrega a criança para Emily e sai caminhando sozinha por Gilead, ainda debilitada pelo parto e vestindo o manto vermelho.

Esse “vai e não vai” não fica por aí, já que o próprio desenvolvimento dos personagens é inconstante. Serena mudou incontáveis vezes: de vilã desalmada à mulher perdida e vítima das circunstâncias, Serena é um enigma. Por um lado isso é positivo, pois agrega camadas à personagem; por outro, revela certa incerteza por parte dos roteiristas que não sabem ao certo o que fazer com ela.

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Os roteiristas, aliás, parecem não ter certeza sobre uma porção de coisas. O fato de June sempre retornar ao ponto de origem indica que a equipe não sabe o que fazer fora de Gilead. É uma zona de conforto para o roteiro se manter em Gilead e orbitando ao redor dos Waterford, e o programa parece evitar alçar voos maiores. Outra prova disso é o fato de que pouco vemos sobre o Canadá e praticamente nada da porção de terra dos Estados Unidos que não se rendeu ao regime. The Handmaid’s Tale é tão boa que usa todo o potencial que tem e já explorou, mas ainda poderia ser maior, explorando terrenos ainda mais inóspitos.

Parto e pós-parto.

O décimo-primeiro capítulo, Holly, é um atestado da potência narrativa da série. Focado quase inteiramente em June, sozinha na casa em meio a neve, assistimos uma estupenda performance de Elisabeth Moss. A atriz garante seu segundo Emmy em sequências de tirar o fôlego, que são coroadas por uma das mais impressionantes cenas de parto já vistas no cinema e na TV.

Em pouco mais de quarenta minutos, vimos uma série segura de si, investindo em um capítulo inteiro focado em uma personagem presa em um ambiente. Percebemos aqui a noção de ritmo do show, bem como sua habilidade em construir e manter o suspense. Novamente saltam aos olhos a belíssima fotografia, rica em luzes, sombras e cores. Destaque novamente à cena do parto, ancorada em Moss e na chama alaranjada da lareira.

Já o décimo segundo episódio, focado no pós-parto, é um banho de água fria. Anticlimático, o capítulo escancara mais um problema da série: a linha tênue entre o que é necessário e o puro sadismo. Assim, o único ponto realmente relevante do episódio é a dolorosa morte de Eden, afogada em uma piscina enquanto um peso de aço lhe puxava para o fundo. Ademais, a questão do “sequestro” de Nick fica sem muito sentido e o surgimento de um novo Comandante, que fica responsável por Emily, é quase inútil, servindo pra alguma coisa apenas nos segundos finais da temporada.

Vida!

O último capítulo, felizmente, retoma a força e a beleza habituais da série e entrega um desfecho emocionante. Novamente ancorado em Moss e na relação entre June e Serena, o capítulo investe na amarração do núcleo dos Waterford. Muitas pontas ficam soltas, contudo: Nick e Fred ficam num impasse, enquanto Serena entrega o bebê a June. As Marthas parecem ter se reunido em uma rebelião e Gilead parece sofrer vários golpes em diferentes setores, incluindo as esposas, que parecem querer mais liberdade.

A situação de Emily é outra que chama atenção: depois de agredir – talvez fatalmente – Tia Lydia, a moça tem a chance de escapar, e leva a filha de June nos braços. Espero que a personagem siga crescendo e com mais espaço e tempo na próxima temporada. O núcleo do Canadá, infelizmente, ficou de fora da finale, mas é possível que ganhe força no próximo ano, já que personagens importantes estão indo para o país.

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Por fim, vale um novo elogio à qualidade técnica do show, com fotografia e direção caprichadas. E é uma vergonha enorme o fato de Mike Barker não ter sido indicado ao Emmy de Melhor Direção. Barker é o melhor do time de diretores e os melhores episódios da temporada são dele. A última cena, que mostra June ao longe, se afastando da ponte e da água que cai no asfalto, é impecável.

Em meio a algumas polêmicas e pouquíssimos tropeços (quase nenhum), The Handmaid’s Tale terminar de forma satisfatória, reafirmando seu posto como uma das melhores séries da atualidade.

Leia mais sobre The Handmaid’s Tale no Mix de Séries

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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