The End of the F***ing World: o início de uma série f*da

Resenha da surpreendente primeira temporada de The End of the F***ing World.

Imagem: Netflix/Divulgação

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Personagens com sérios distúrbios psicológicos e até mesmo à margem das leis e da sociedade geralmente conquistam o público. O motivo talvez encontre explicações no anseio da própria plateia, que apenas queria viver perigosamente e sem amarras como aquelas pessoas. Há um certo desvio na personalidade de todos nós, que faz com que gostemos – e torcemos – por Dexter Morgan, Hannibal Lecter, Tony Soprano, Walter White e tantos outros. Em The End of the Fucking World, a dupla principal não se comporta como deve. Aos palavrões, falam como se não houvesse limites para nada. Sem filtros, comentam sobre outras pessoas e fatos como se isso não afetasse ninguém ao redor. E além dessa falta de papas na língua, os dois ainda se envolvem em pequenos crimes com o único intuito de seguir em frente na jornada.

Essa falta de vergonha e puderes (explícita no próprio título), que afasta os personagens da nossa realidade, é justamente o que nos conecta e nos faz gostar tanto da dupla. James e Alyssa são dois dos mais interessantes e insanos personagens que a TV nos apresentou nos últimos meses, e acompanhá-los em sua trôpega jornada de auto descoberta e crescimento é uma experiência recompensadora. Dividida em oito episódios de apenas 20 minutos, a primeira temporada acompanha os jovens depois que estes se conhecem e decidem fugir. Ela quer escapar da família e encontrar o pai que não vê há anos; ele, que sempre desejou matar uma pessoa, vê nela a potencial primeira vítima. Eles, então, partem sem dinheiro no bolso, pedindo caronas e roubando carros. Ela sem limites, ele com o desejo de matá-la.

A cada capítulo há uma ou mais reviravoltas, e não revelaremos nenhuma. Vale a pena assistir a rápida primeira temporada sem ter noção do que está por vir. A estrutura da série, aliás, é uma qualidade à parte. Os capítulos começam com cenas no presente, nos mostrando os personagens em situações específicas. O roteiro então retorna algumas horas antes para nos contar como os personagens chegaram naquele ponto. Basta, então, curtir os roteiros simples, mas cuidadosos, baseados em uma HQ homônima. Lançada originalmente em outubro pela plataforma do Channel 4, The End of the Fucking World chega à Netflix internacional como um pacote perfeito para maratona.

Trata-se de uma estranha mistura de Bonnie and Clyde (casal em fuga), Tim Burton (as versões infantis da dupla parecem tiradas de um filme do diretor), Wes Anderson (os quadros bem elaborados, com objetos centralizados e cores fortes) e Irmãos Coen (a violência, os personagens esquisitos e o desenvolvimento na estrada). Ao mesmo tempo em que se inspira em diversas fontes, o show tem sua personalidade própria, e é bem provável que se torne mais um sucesso da Netflix. O único problema é ser tão curta (o primeiro e último episódios têm menos de vinte minutos), o que também é positivo, já que o resultado é uma temporada ágil e objetiva, sem arestas.

Grande parte da qualidade da série se deve à dupla central, vivida pelos talentosos Jessica Barden (Penny Dreadful) e Alex Lawther (o protagonista de Shut Up and Dance, de Black Mirror). Abraçando a esquisitice do casal, os atores fazem um ótimo trabalho ao contornarem as peculiaridades dos personagens (que poderiam torná-los antipáticos) e criarem adolescentes sensíveis perdidos em um mundo muito mais cruel do que eles, em seus momentos mais baixos, poderiam ser.

Pois embora seja uma peça de entretenimento, The End of the Funcking World ainda sugere um interessante debate: nasce-se uma pessoa ruim ou torna-se uma? O anseio de James em matar uma pessoa veio dentro dele quando nasceu ou tornou-se parte de sua personalidade depois de tantos traumas? A força e a falta de sensibilidade de Alyssa começou em que ponto de sua infância complicada? Neste sentido, praticamente todos os adultos vistos na série são deprimentes e horríveis, com raras exceções. Mesmo quando tentam fazer algo certo, os adultos acabam cedendo às circunstâncias de suas tristes realidades.

A fuga de James e Alyssa, portanto, é uma louca escapada desse universo violento e depressivo dos adultos. Pode parecer clichê, mas a dupla freak talvez seja a mais sã de todas aquelas pessoas. Trata-se de uma busca por mudança, por novos horizontes; por mais que estejam ligados à violência, é dela que eles tentam fugir. Assim, os jovens talvez apenas tentem se desvencilhar da realidade que se aproxima: a vida adulta. Não é à toa que um personagem corra em disparada logo após completar 18 anos; aquele mundo sujo não é para ele. Resta fugir.

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Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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