Crítica: Ollie O Coelhinho Perdido é minissérie mais emocionante de 2022

Ollie O Coelhinho Perdido vai partir seu coração, juntar os pedaços e colocar no lugar novamente. Minissérie imperdível e para toda a família!

Ollie O Coelhinho Perdido

Há um consenso tolo entre a indústria e parte do público de que o público infantil é bobo, ou facilmente enganado. Neste processo, subestima-se este grupo que, na verdade, é inteligentíssimo. É na esteira da confiança, então, que andam projetos como os da Pixar e Ollie O Coelhinho Perdido, da Netflix. A minissérie, lançada recentemente no streaming, acredita e confia em sua audiência. No caminho, entrega uma das mais belas obras do ano.

Dividida em 4 episódios de aproximadamente uma hora, Ollie tem um time de peso nos bastidores. Dos produtores de Stranger Things e sob o comando do diretor de Homem Aranha no Aranhaverso, o programa é altamente recomendado para toda a família. Na verdade, Ollie pode ser um pacote indispensável aos adultos, pois há muito para ver, ouvir e sentir na minissérie. 

Ollie O Coelhinho Perdido é perfeita para crianças e adultos

Em um primeiro momento, Ollie O Coelhinho Perdido pode soar infantil demais, ou mesmo simplório. O título em português tratou de infantilizar a identidade, enquanto o visual dos bichinhos é pura fofura. A verdade, entretanto, é que a série tem uma profundidade notável, digna dos grande projetos da Netflix e de releituras mais arriscadas de fábulas e contos infantis. 

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Neste sentido, Ollie é uma mistura encantadora de Toy Story, Sete Minutos Depois da Meia-Noite e Christopher Robin. Na trama, um coelho de pelúcia chamada Ollie se perde de seu dono, o menino Billie. Sozinho no mundo, o bichinho faz de tudo para reencontrar seu melhor amigo. Mas a memória de Ollie é turva e ele não consegue lembrar de muita coisa. Só de que ama muito Billie e que precisa voltar para ele. Na jornada, conhece amigos, ameaças e lugares. 

Narrativa complexa pode render bons debates em família

A princípio parece uma aventura objetiva, mas não demora para que percebamos camadas e mais camadas no roteiro e nos visuais da minissérie. Logo, somos apresentados a um contexto de perda e luto que é brilhantemente trabalhado através do texto e das imagens. Ollie, então, é um emocionante ensaio sobre o luto, sobre deixarmos as coisas e as pessoas partirem, mas sem nunca perdê-las da memória e do coração. 

Neste aspecto, a narrativa de Ollie é surpreendentemente complexa sob o ponto de vista temático e emocional. A minissérie tem uma característica fantástica, que é o entendimento de que ninguém é perfeito, muito menos inteiramente mal. Assim, sabemos que, por mais que o pai de Billie seja rígido, ele também é um homem amável e justo. O mesmo serve para o chocante vilão que surge na metade da história. Emocional e psicologicamente complexo, a ameaça é trágica justamente por sua “humanidade”.

Visualmente, Ollie O Coelhinho Perdido é impecável

O vilão, aliás, é assombrado pelo passado. É por não compreender a passagem do tempo e as mudanças que ele traz, que o personagem se torna o que é. Ollie, por sua vez, encara jornada semelhante. Nesta linha, a minissérie lida com a perda, a morte, a passagem inexorável do tempo, o valor e o peso das lembranças. Sob este aspecto, a série é uma aula sobre crescimento e psicologia. E não surpreende que a narrativa brinque com os conceitos de id, ego e superego com seus personagens e suas transformações. 

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Impecável do ponto de vista técnico, Ollie O Coelhinho Perdido traz técnica semelhante à de Christopher Robin, o live-action da Disney que revitalizou o ursinho Pooh e seus amigos. Na minissérie, vemos a fusão perfeita de cenários e pessoas reais com personagens total ou parcialmente criados por CGI. Neste aspecto, Ollie merece todos os elogios e prêmios possíveis quanto a seus efeitos práticos e especiais. 

Minissérie vai partir seu coração e colocá-lo no lugar

Além disso, a fotografia de C. Kim Miles é digna de Emmy! Cinematográfica, Ollie é épica e intimista na mesma medida, e grande parte deste sucesso vem do visual arrebatador criado por Miles e Peter Ramsey, o diretor. Para completar, o design dos brinquedos são incríveis não só na beleza plástica, mas na riqueza de detalhes que indicam traços da personalidade de cada um. 

Com as excelentes vozes de Jonathan Groff (Mindhunter) e Tim Blake Nelson (Watchmen), Ollie O Coelhinho Perdido é indispensável para qualquer adulto ou criança que busque uma história que vá além do básico. Esta é uma minissérie que promete estraçalhar o seu coração, juntar os pedaços e colocar tudo no lugar. Diferente, marcado, mas cheio de luz, carinho e nostalgia. 

Nota: 5/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.