The Last of Us: Bella Ramsey brilha em episódios 7 e 8
The Last of Us tem Bella Ramsey em seu melhor momento nos ótimos episódios 7 e 8. Série reforça intenção de explorar lado humano de todos.
O apocalipse só faz sentido – e sucesso – quando encontra um elo humano entre a história e o público. É por isso que Cormac McCarthy venceu um Pulitzer por A Estrada, por exemplo. No livro, que depois virou filme com Viggo Mortensen, acompanhamos um homem e seu filho vagarem por um país destruído. Sem ação ou grandes arroubos dramáticos, a narrativa é simples e puramente humana. É um segredo que The Last of Us compreende com facilidade.
Até mesmo grandes blockbusters como Independence Day fazem sucesso não só pelos exuberantes efeitos especiais, mas porque o personagem de Will Smith, por exemplo, é carismático. O mesmo serve para outros filmes-catástrofe, como Titanic, por exemplo. A obra de James Cameron perdura não só pelo espetáculo visual, mas porque a relação de Jack e Rose move multidões até hoje.
É por isso que o longa retorna aos cinemas 25 anos depois de seu lançamento e permanece um sucesso atual e exuberante.
Olhar diferenciado garante conexão com o público
The Last of Us tem feito sucesso – e será lembrada na posteridade -, justamente por investir em seus personagens e dramas humanos. É por isso que no sétimo episódio, a dois capítulos do fim, a temporada dedica uma hora inteira a um flashback cujo único propósito é desenvolver uma personagem.
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Já no oitavo episódio, quando retorna à narrativa principal, The Last of Us apresenta um grupo de pessoas aparentemente inofensivas (dentro dos padrões de um mundo em ruínas). No fim, descobrimos que o grupo é formado por assassinos canibais.
O grande diferencial da série para outros projetos é a abordagem. Canibais em história pós-apocalípticas são comuns. Mesmo A Estrada, que citamos há pouco, trazia canibais como ameaças corriqueiras.
O que Craig Mazin e Neil Druckman fazem diferente, entretanto, é apresentar estes vilões como pessoas profundamente “normais” e equilibradas. Esta não é uma gangue que usa máscaras, símbolos, objetos e características que os diferem dos demais. É um conjunto de homens e mulheres que, em segredo, cometem atos de pura barbárie.
Estranheza e perigo permeiam novos episódios
Neste sentido, vale apontar a ótima atuação de Scott Shepherd como o líder do grupo. Como todo psicopata, seu personagem esconde a maldade embaixo de uma camada de falsa simpatia e modéstia. Algumas pistas, entretanto, são deixadas pelo roteiro.
Em determinado momento, o homem fala para um comparsa “isso não é um código. Faça o que estou dizendo“, o que revela não só organização por parte do grupo, mas um perigo latente por parte de seu líder.
Essa atmosfera de estranheza e perigo constante é comum a Ali Abbasi, diretor dos dois últimos episódios da temporada de The Last of Us.
Tendo comandado filmes de prestígio no cenário de festivais de cinema, Abbasi é responsável por longas como Border e Holy Spider, que chegou perto do Oscar 2023. Em vários destes títulos o cineasta brinca com o absurdo e a sensação de que nada é certo ou seguro em seus personagens e universo.
É a hora de Bella Ramsey brilhar em The Last of Us
Essa bomba-relógio que percorre cada personagem e cenário de The Last of Us chega até aos protagonistas. Joel e Ellie também parecem pessoas normais, mas como vimos no oitavo capítulo, até a jovem Ellie parece capaz de medidas extremas para conseguir o que precisa.
O mesmo serve para Joel, que pode demonstrar bondade e consternação na mesma medida em que explode e vira uma máquina de guerra.
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Mas é realmente Bella Ramsey que brilha nos episódios 7 e 8 da primeira temporada de The Last of Us. Apesar do papel exigente, a garota atinge todas as notas necessárias, modulando, em questão de segundos, expressões de alegria e dor profunda.
Assim, se comparados lado a lado, os capítulos 7 e 8 resumem a dura e trágica jornada de Ellie. Indo de uma garota feliz e relativamente livre no shopping para uma jovem mulher capaz de matar sem pestanejar.
E tudo isso sem disparar tiros, lutar, correr ou matar zumbis. O que move não é ação, mas drama humano.