Crítica: The Crowded Room é bom suspense, mas confuso
The Crowded Room estreou na Apple TV com péssima recepção da crítica. Aqui está o que achamos sobre a minissérie com Tom Holland.
O time envolvido na produção de The Crowded Room (Entre Estranhos), da Apple TV+ é dos melhores. Além de Tom Holland e Amanda Seyfried na linha de frente, o elenco ainda conta com Emma Rossum, Sasha Lane, Jason Isaacs e muitos outros. A minissérie ainda tem criação de Akiva Goldsman, nome experiente no Cinema e na TV, tendo vencido um Oscar de Roteiro por Uma Mente Brilhante e atualmente no controle da franquia Star Trek na televisão. Para completar, Kornél Mundruczó, talentoso cineasta, comanda os primeiros episódios.
Então, por que The Crowded Room tem sido um fracasso de crítica? A aguardada minissérie debutou no Rotten Tomatoes, famoso site agregador de críticas, com menos de 30% de aprovação. Trata-se de um número baixíssimo e até vergonhoso para uma produção televisiva. Pois se o programa tem boas atuações (e elas são realmente boas) e é tecnicamente elogiável, qual o motivo da má recepção?
É impossível discutir este ponto em específico sem falar sobre a história verdadeira na qual The Crowded Room se baseia. Assim, talvez você encare tais comentários como spoilers, então, fique atento.
Um suspense com assustadoras raízes na realidade
The Crowded Room é baseada na vida de Billy Milligan (Tom Holland), um jovem que é preso depois de cometer alguns crimes bizarros. No primeiro episódio, vemos Milligan, que na série se chama Danny Sullivan, se envolvendo em um confusão em uma movimentada Nova York. Ele é preso por isso e, então, vemos o personagem conversar com uma policial vivida por Seyfried. A partir daqui acompanhamos alguns flashbacks que exploram anos passados da vida de Milligan/Sullivan.
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Até aqui, The Crowded Room parece se desenvolver como um thriller intrigante, onde várias lacunas precisam ser preenchidas para que possamos entender o contexto geral. Neste sentido, a trama se ancora no talento de Holland e no mistério da situação. O ator, aliás, segura a responsabilidade de lidar com um personagem difícil e, como veremos a seguir, profundamente complexo.
Uma revelação que muda tudo
O grande ponto por trás de The Crowded Room é que Milligan/Sullivan tem transtorno de personalidade múltipla. Pelo que se tem documentado, o homem teria 24 personalidades diferentes e formadas habitando o seu corpo. Ele foi a primeira pessoa dos EUA, por exemplo, a ser absolvida de um crime grave devido aos transtornos de personalidade.
Esta talvez seja a chave para o fracasso ou sucesso de The Crowded Room. Para quem não conhece a história real de Milligan/Sullivan, a narrativa da série parece trôpega e muitas vezes confusa. Há sinais claros, tanto no texto quanto na imagem ou no sim, que indicam um transtorno de personalidade ou visões de Sullivan, mas são suposições sutis que podem passar despercebidas por quem nunca ouvir falar da história do rapaz.
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Desta forma, é alto o risco tomado por Goldsman e seus roteiristas de desenvolver a história deixando a revelação da verdade para depois. Assim, o texto assume a verdade de Milligan/Sullivan como um plot twist, uma reviravolta na narrativa. É uma abordagem interessante, principalmente para que o público possa se envolver e se importar com o personagem central. Mas isso traz problemas evidentes, como o da confusão inicial causada por tantos personagens e situações estranhas.
Talvez fosse mais justo para com o público, que o texto declarasse, logo de início, a verdade sobre Sullivan. Assim, poderíamos entender e acompanhar sua história tendo em mente quem ele é e – mais importante – o que ele fez. Isso porque, apesar do diagnóstico de múltiplas personalidades, Sullivan estupr*u várias mulheres, que o reconheceram em diversas ocasiões posteriores. Roubos e agressões também preenchem a ficha de Milligan.
The Crowded Room propõe, sem querer, interessante discussão sobre a estrutura das séries que assistimos
The Crowded Room, então, vale ser assistida até para que possamos discutir as estruturas narrativas e abordagens das séries e minisséries que consumimos. É interessante pensar que, com uma mudança simples de edição ou mudança na ordem do roteiro, todo o projeto poderia ser entendido e recebido de outra forma.
Com atuações sólidas e boa direção de Mundruczó (a série começa com um breve plano sequência no coração de Nova York), a série prende a atenção e convida o público a desvendar os mistérios e problemas da mente do protagonista. Se soubéssemos alguns detalhes com antecedência, contudo, talvez embarcássemos com mais segurança e lucidez.
Nota: 3/5