Como Silvio Santos me fez amar séries e filmes
Silvio Santos deixou um legado que ecoa em gerações. Sua insistência em exibir filmes e séries formou milhares de amantes desta arte.
Sempre soubemos que, quando Silvio Santos morresse, o Brasil pararia. E como esperado, as emissoras, comunicadores, perfis na internet, sites… todos realmente pararam para acompanhar a despedida deste que é reconhecidamente a figura mais importante da TV brasileira.
E não o coloco como herói. Silvio, como tantos, era um sujeito falho. Você verá muitas críticas a ele no Twitter, por exemplo. Você também irá assistir alguns vídeos polêmicos do apresentador, falando ou fazendo algo repreensível. Mas não podemos esconder – ou esquecer – o inestimável valor do empresário na TV brasileira.
Programação diversificada, TV para todos
Silvio Santos, por exemplo, sempre defendeu a exibição de desenhos animados em sua programação. Além disso, sempre dedicou grande parte de sua grade a filmes e séries. Enquanto outras emissoras investiam em novelas e esporte, o SBT sempre deu espaço ao entretenimento.
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Não à toa, o canal sempre teve o melhor pacote de filmes de todos. No início de cada ano, acompanhar o anúncio dos lançamentos a serem exibidos nos próximos meses era um ritual. E uma certeza: os melhores títulos, atores e diretores passariam por ali.
O SBT, então, muito graças ao investimento e às exigências de Silvio, formou milhares de cinéfilos e seriadores. O redator deste artigo, por exemplo, não tinha TV a cabo durante a infância. A programação do SBT e de toda a TV aberta era a única coisa que existia. Cinema em Casa e Sessão da Tarde, portanto, foram formadores de opinião, de caráter.
A insistência de Silvio e do SBT em colocar seriados na programação de domingo pela manhã, por exemplo, ajudou milhares de jovens a descobrir alguns dos mais badalados títulos dos anos 1990 e 2000. Formou jornalistas, como eu. Roteiristas, diretores, atores. Ao dar espaço ao audiovisual, criou amantes deste arte.
Do Cinema em Casa a One Tree Hill: Silvio Santos e o SBT formaram uma geração
Silvio sabia, e chegou a declarar isso, que as crianças eram os espectadores mais fiéis. É por isso que nunca desistiu dos desenhos. Criou cinéfilos e um público distinto: exibiu terror trash nas tardes do Cinema em Casa. Revelou clássicos do Cinema no Cine Belas Artes. Trouxe os maiores sucessos de bilheteria na Tela de Sucessos e no Cine Espetacular. Sempre exibiu matérias especiais sobre Cinema em seus programas ou nos programas de colegas, como Domingo Legal e afins.
Se hoje o Mix de Séries existe – e eu aqui escrevo – é porque na nossa infância e juventude tivemos acesso gratuito a obras como One Tree Hill, The OC, Smallville, Roma, Alias e tantas outras. O SBT, aliás, tornou alguns títulos verdadeiros sucessos. Eu, a Patroa e as Crianças, por exemplo, é uma comédia esquecida nos EUA. No Brasil, é um dos maiores sucessos da história da TV.
Scooby-Doo e a TV aberta
Quando penso em meus desenhos animados favoritos, os cinco ou seis primeiros eram exibidos no SBT. Scooby-Doo mora no meu coração há anos por isso: era exibido pela manhã, nos fins de tarde, aos sábados… Não deixa de ser simbólico que, no momento de sua morte, era Scooby-Doo que passava na programação do canal.
Isso tudo revela a importância da TV aberta no cenário sociocultural do país. Pensar uma programação diversificada é ter responsabilidade com quem assiste. É saber que várias opiniões e mentes estão em formação.
Silvio tinha essa sensibilidade. Não somos ingênuos e sabemos que tudo gira em torno do capital, da audiência. Sabemos que os filmes e séries também eram números no Ibope. Mas para mim, lá na minha casa, nos cantinhos da minha infância, eram pilares de quem eu era. De quem eu sou.