Interior Chinatown | Série é uma sátira instigante, mas confusa
A série Interior Chinatown chegou no Disney+ chamando atenção. Mas ela vale o seu tempo? Confira crítica sem spoilers.
A adaptação da obra premiada de Charles Yu, Interior Chinatown, chega ao Disney+ com um conceito ousado e uma promessa de explorar as complexidades da representação asiático-americana por meio da linguagem televisiva. Criada pelo próprio autor e com a direção de Taika Waititi no episódio piloto, a série tenta traduzir a narrativa surreal e alegórica do livro em episódios de 45 minutos. No entanto, o resultado final é uma experiência narrativa que se mostra ambiciosa, mas frequentemente dispersa.
Entre sátira e mistério: um equilíbrio frágil
Na trama, acompanhamos Willis Wu (Jimmy O. Yang), um garçom no restaurante Golden Palace que ocasionalmente aparece no fundo do procedural fictício Black & White. O jogo metalinguístico é claro: Willis e os outros habitantes da Chinatown fictícia de Port Harbor são reduzidos a papéis estereotipados, como “Homem Asiático Genérico” ou “Especialista em Tecnologia.” A série critica essas caricaturas com humor ácido, especialmente nas interações entre os detetives Turner (Sullivan Jones) e Green (Lisa Gilroy), protagonistas do show-dentro-do-show. As performances, especialmente de Gilroy, entregam diálogos propositalmente exagerados que zombam das fórmulas de séries policiais.
Contudo, enquanto a sátira faz um ótimo trabalho ao apontar as absurdidades dos clichês de Hollywood, o elemento de mistério em torno do irmão desaparecido de Willis (Chris Pang) deixa a desejar. O enredo investigativo de Willis e Lana Lee (Chloe Bennet), embora carregado de potencial, carece de stakes reais, dado que as regras do universo fictício são tão flexíveis que até bombas se desativam magicamente. Isso reduz a tensão e enfraquece o impacto emocional da jornada.
Tonalidade inconsistente e narrativa dispersa em Interior Chinatown
Interior Chinatown apresenta uma mistura de surrealismo, sátira e drama, mas muitas vezes se perde ao tentar equilibrar esses elementos. Embora a crítica às representações asiático-americanas seja clara e poderosa, os personagens frequentemente parecem mais conceitos do que pessoas reais, dificultando a conexão emocional do público. Subtramas como a tentativa de Lily (Diana Lin) de obter uma licença imobiliária adicionam uma camada de realismo, mas acabam destoando do tom geral da série, criando uma sensação de desconexão.
Além disso, algumas piadas e gags, como a trama envolvendo o personagem Fatty (Ronny Chieng) sendo rude com clientes brancos, são sustentadas por mais tempo do que deveriam, diluindo seu impacto cômico. Esse tipo de excesso contribui para a sensação de que a série está preenchendo tempo ao invés de desenvolver substância.
Visualmente inovadora, mas narrativamente dispersa
A escolha de usar recursos visuais distintos para diferenciar as “realidades” é um dos pontos fortes da série. A transição para a estética de Black & White é eficaz ao destacar a alienação de Willis e os absurdos da representação midiática. No entanto, esse recurso, assim como em séries como Kevin Can F** Himself*, perde parte de seu impacto com o tempo, tornando-se mais uma convenção estilística do que uma ferramenta narrativa robusta.
Conclusão
Interior Chinatown é uma série ambiciosa, mas que luta para encontrar seu tom e propósito ao longo de seus episódios. Apesar de críticas incisivas sobre a representação asiático-americana e momentos de brilhantismo cômico, a série frequentemente tropeça em sua tentativa de equilibrar sátira, mistério e drama. Ainda assim, ela é uma obra instigante para quem busca algo diferente e está disposto a enfrentar algumas inconsistências narrativas ao longo do caminho.