Indicação: Assistir ou assistir Merlí na Netflix? Eis a questão…
Indicação de maratona da série Merli, produção em catalão com três temporadas disponível na Netflix.
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Você já ouviu falar de Merlí? E se já ouviu, como foi que a pessoa comentou/indicou a série? Com uma certa paixão e e euforia ou totalmente alheia? Calma, vou explicar o motivo de querer saber como foi a reação de quem comentou sobre a série.
Primeiro, a sinopse: Merlí Bergeron é um professor de filosofia nada convencional, que precisa reorganizar sua vida pessoal enquanto tenta, de todas as formas, mostrar para as pessoas a importância da filosofia. Para alguns parentes e colegas de trabalho, no entanto, ele é motivo de escândalo. Para seus alunos, motivo de inspiração.
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Clichê, né? Não! Bem longe disso. OK, o cinema e a TV já nos contaram histórias parecidas diversas vezes. Mentes Perigosas, Ao mestre com carinho, Sociedade dos poetas mortos, O sorriso de Monalisa, Mudança de Hábito 2, Malhação (quem viu a temporada anterior, #VivaADiferença pode concordar), Carrossel (professora Helena 4ever), Rita… São vários os exemplos. Todas elas tinham como mote um professor inspirador, apaixonado e fora dos padrões. Mas pegue todas essas referências e deixe de lado, porque é parecido mas também beeeem diferente.
Merlí tem a vida toda ferrada. Divorciado, nunca foi realmente próximo do filho. Desempregado, está perdendo o apartamento e voltando para a casa da mãe. Mas aí a vida dá uma reviravolta e joga no seu colo uma responsabilidade que nunca teve. A ex muda de país por causa de um emprego e confia a ele os cuidados do filho adolescente, Bruno. O primeiro episódio já joga tudo na nossa cara. Bruno não curte o pai, odeia a nova realidade e o novo professor de filosofia da escolha: sim, em um plot previsível, o próprio pai.
Ser ou não ser!
Mas é aí que entendemos onde Merlí é um grande personagem: na sala de aula. Apaixonado por filosofia e trazendo todos os conceitos do grandes filósofos para a nossa realidade, logo nos sentimos como alunos dele, nos identificamos como um dos peripatéticos – como Merlí chama os alunos, baseado em um grupo de grandes filósofos da Grécia antiga.
Aliás, a filosofia não é coadjuvante nessa série. Todos os episódios tem nomes de filósofos, e tudo é um grande curso da matéria – aquela que nenhum de nós dava atenção no colégio ou faculdade. Ah, nada é de graça. O primeiro episódio fala de Aristóteles, e isso acontece porque Merlí dá aula se espelhando na escola aristotélica, sim, o modelo peripatético que significa itinerante em grego, com aulas ao ar livre, enquanto caminham, etc. O que está por trás deste modelo é a ideia de que a filosofia precisa de alguns fundamentos para existir, estímulos externos, ela não pode ficar trancafiada. A filosofia nasce da observação do mundo a nossa volta.
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Inspirador! Bom, só para dar uma palhinha, logo no primeiro episódio, enquanto caminha com os alunos pela cozinha do colégio, Merlí ensina que, mais importante que as perguntas é aquele que faz a pergunta pensar um pouco sobre a sua dúvida. E isso acontece quando ele é questionado por Pol Rubio (ai ai <3) se é possível todos filosofarem. Merlí para e pensa, e todos ficam confusos. Logo após o estranhamento, ele responde que seu silêncio foi para mostrar como é estranho na nossa atual sociedade alguém pensar antes de falar. Baita tapa na cara logo no início.
Só sei, que nada sei!
Outro grande motivo de paixão na série são os coadjuvantes, nenhum sobrando, nenhum sem uma função exata e redondinha. Nessa gama de bons personagens entre professores, pais e alunos, alguns se destacam: Pol, Bruno, Tânia, Ivan, Marc, Joan, Eugene, Quima. Na real, poderia citar todos e como cada um evolui de forma incrível.
Bruno é o filho de Merlí. Bruno é gay. E essas duas informações juntas poderiam deixar toda essa história cair no mais do mesmo. Mas não cai. Merlí sempre soube que o filho é gay, antes dele mesmo saber. Dentro de casa, com a avó atriz, ele tem incentivo e espaço para ser quem é, mas ainda assim se encontra fechado. O desenvolvimento do relacionamento de pai e filho é um dos grandes atrativos da história.
Pol é a paixão de Bruno e, no início, ele parece um personagem simples: o bonitão pegador e bad boy. Nada disso. Com o tempo e sem rótulos, Pol se transforma no melhor personagem da série, cheio de contradições e certezas que nos fazem pensar.
Tânia e sua coragem me gerou identificação desde o início. A menina protagonista é a gordinha nerd que é amiga do crush, mas que, também, evolui de um jeito maravilhoso. Assim como Marc, o bobão da série que mostra ter uma vida bem mais complexa do que poderíamos imaginar. Ivan e Joan e seus relacionamentos com suas famílias mostram como a série não tem medo de ousar mostrando a realidade, nada de família de comercial de margarina aqui.
E os professores, aaaah os professores. De vilão a bff, Eugene só evolui. E Quima, a professora trans dona e proprietária de um dos melhores episódios de série já feitos no mundo, “Judith Butler (S02E07)”.
Penso, logo existo!
O grande segredo é que Merlí é uma série peculiar, criou seu próprio universo e não tem “barriga”, tudo é redondo (outros exemplos assim são Mad Men e Breaking Bad, para citar clássicos).
Cada episódio, como já citamos, carregam nomes de grandes filósofos da história, e cada um deles é um mini curso no que cada um defendeu. A abertura também faz uma grande homenagem à filosofia e à educação, lançando mão de vários símbolos. E com isso podemos citar a trilha sonora que mistura música clássica (o que é maravilhoso) com o pop atual da Catalunha.
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Aliás, falei que o idioma da série é catalão? Está aí outra curiosidade maravilhosa. E a série não tem medo de criticar a política ou o sistema, nem de falar da eterna luta da separação da Catalunha da Espanha – e temos até uma professora separatista.
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A filosofia, ahhh que vontade dá ler mais e saber tudo sobre essa matéria tão negligenciada. E claro, as pessoas, gente como a gente, que erra, acerta e erra de novo.
E por fim, o fim, que foi duro, mas foi de verdade. Resumindo, ASSISTAM!
“Que les coses siguin d’una manera no vol dir que no es puguin canviar.”
Merlí Bergeron