Ator de Lost revela que foi demitido por racismo e acusa criadores
Interprete de Michael em Lost revelou que produtores praticavam racismo nos bastidores e que ele foi demitido por fazer reclamação.
Lost pode ter virado um fenômeno da cultura na TV. Mas agora, mais de uma década depois que a série acabou, alguns problemas de bastidores estão sendo revelados. Incluindo alguns comportamentos tóxicos, e uma cultura racista que fez um dos atores mais populares da trama sair da atração.
Em uma recente matéria da Vanity Fair, o ator Harold Perrineau – que deu vida a Michael em Lost, falou abertamente sobre a cultura racista que acontecia nos bastidores da atração. E como que ele foi demitido da série, após ele reclamar que faltavam mais personagens negros na história.
Ator de Lost revelou como que produtores eram racistas com atores negros da série
Na matéria, publicada nesta terça, 30, Perrinea contou que os atores negros eram deixados de lado frente aos atores brancos.
Segundo o interprete de Michael, ele começou a identificar esses problemas quando, nas sessões de fotos do elenco, os atores negros eram frequentemente solicitados a ficar na última fila ou nas bordas das fotos.
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Ele disse que “conversas e experiências como essas faziam os longos dias parecerem ainda mais longos. Você pode sentir a energia. Você pode sentir, como, ‘Oh, você não é tão importante quanto essas outras pessoas.’”
Problemas levaram a reclamação do ator, que acabou demitido
Quando Perrineau folheou o rascunho original do segundo episódio da segunda temporada de Lost, “foi demais”, disse ele.
Nesse ponto da saga de Lost, a tentativa de vários náufragos de fugir da ilha em uma jangada deu errado, e Walt, filho de Michael, foi sequestrado por um grupo sombrio chamado Outros. Nesta versão do roteiro, Michael é puxado para os restos da jangada por Sawyer (Josh Holloway), e os flashbacks do episódio giram em torno de Sawyer. Nessas páginas, Michael pergunta sobre seu filho logo no início, apenas uma vez.
Nessa versão do roteiro, Perrineau relembrou: “Michael está fazendo perguntas a Sawyer sobre seu passado, sobre como ele se sente, mas ele nunca mais menciona Walt”. A reação de Perrineau foi: “Acho que não posso fazer isso. Não posso ser outra pessoa que não se importa com a saudade dos meninos negros, mesmo no contexto da ficção, certo? Isso está apenas reforçando a narrativa de que ninguém se importa com os meninos negros, nem mesmo com os pais negros”.
Ele sabia dos riscos de falar com seus chefes sobre isso. “Essa foi a coisa que sempre complicou tudo. Toda vez que você menciona raça, todo mundo fica – seus cabelos pegam fogo e eles dizem, ‘Eu não sou racista!’“, revelou Perrineau. “É como, ‘Não. Porque eu digo que sou negro não significa que estou te chamando de racista. Estou falando com você da minha perspectiva. Estou deixando bem claro que não estou tentando colocar meu trauma em você, mas estou tentando falar com você sobre o que sinto. Então, podemos apenas fazer isso? Podemos apenas ter essa conversa?”, continuou.
Após reclamações, que se estenderam durante a segunda temporada, os produtores Carlton Cuse e Damon Lindelof teriam dispensado o intérprete de Michael.
Roteirista de Lost respondeu a acusações e disse que “falhou”
Lindelof respondeu às alegações de preconceito racial na equipe criativa, que teria sido o motivo da saída de Perrineau.
“O que posso dizer? Além disso, parte meu coração que essa foi a experiência de Harold. E vou apenas admitir que os eventos que você está descrevendo aconteceram 17 anos atrás, e não sei por que alguém inventaria isso sobre mim.
“Cada ator expressou algum grau de desapontamento por não estar sendo usado o suficiente. Isso era meio que parte integrante de um show conjunto, mas obviamente havia uma quantidade desproporcional de foco em Jack e Kate e Locke e Sawyer – os personagens brancos. Harold estava completa e totalmente certo em apontar isso. É uma das coisas pelas quais me arrependo profundamente nas duas décadas seguintes. Eu sinto que Harold estava legitimamente e profissionalmente transmitindo preocupações sobre seu personagem e o quão significativo era que Michael e Walt – com exceção de Rose – fossem realmente os únicos personagens negros na série.”
Cuse disse em resposta à sua suposta conversa com Perrineau: “Parte meu coração ouvir isso. É profundamente perturbador saber que houve pessoas que tiveram experiências tão ruins. Eu não sabia que as pessoas se sentiam assim. Ninguém nunca reclamou comigo, nem sei que alguém reclamou com a ABC Studios. Portanto, eu gostaria de ter conhecido. Eu teria feito o que pudesse para fazer mudanças.”
Lindelof concluiu: “Não cabe a mim dizer que tipo de pessoa eu sou. Mas vou dizer isso – eu trocaria todas as pessoas que dissessem a você que eu era talentoso – preferiria que dissessem que eu não tinha talento, mas era decente, em vez de um monstro talentoso.“
Outras acusações contra a produção apareceram na matéria
De acordo com a publicação, vários escritores de Lost compartilharam histórias de “piadas” racistas compartilhadas na sala dos roteiristas, inclusive referindo-se a uma criança asiática adotada como “olho puxado” e referenciando o ator Adewale Akinnuoye-Agbaje como alguém que “rouba” carteiras.
Alémn disso, Monica Owusu-Breen, escritora da terceira temporada de Lost, disse que a produção foi o ambiente de trabalho mais “nuamente hostil” que ela já experimentou. “Fomos discriminados diariamente”, disse ela. “Talvez eles simplesmente não tenham gostado da nossa escrita, mas é difícil dizer se você é discriminado no dia a dia.”
A Vanity Fair procurou a ABC Studios para comentar o caso, no entanto, não recebeu uma resposta.