Crítica: 1899 perde a chance de ser uma grande série

Dos criadores de Dark, 1899 é a grande aposta da Netflix para o fim de ano. Série, entretanto, desperdiça oportunidade de ser excelente.

1899

Os grandes gênios têm algumas coisas em comum. Stanley Kubrick, Steven Spielberg, Martin Scorsese e muitos outros possuem estilos e características marcantes e constantes, mas todos eles dividem algo em comum. Eles nunca fizeram dois filmes iguais.

É possível reconhecer de longe um filme de Kubrick, mas é inegável que todos são diferentes entre si. O cineasta, afinal, fez basicamente um filme de cada gênero e se estabeleceu, assim, como um dos maiores nomes da arte de todos os tempos.

Estes caras ousaram mudar e arriscar mesmo tendo mirado e acertado em cheio em várias frentes. Depois de arrasar quarteirões com Tubarão, Spielberg poderia investir em outro horror – ou uma sequência. Mas ele trocou o fundo do mar pelo espaço. E foi na mudança que o sucesso se solidificou.

1899 é a prova de que tentar repetir um feito, mesmo com todo o dinheiro do mundo, pode não funcionar.

1899

Visual empolga, mas não sustenta todo o projeto

Depois do sucesso de Dark, a Netflix cobriu os criadores da série de dinheiro. Junto com a pilha de dólares, uma carta branca. A dupla, então, esboçou um novo projeto épico. A ideia era fazer algo maior em escopo, tanto visual quanto narrativo.

Do ponto de vista técnico, 1899 é realmente fascinante. A técnica do “volume”, também utilizada em The Mandalorian, permite que o elenco atue em frente a gigantes telas de LED e não na anêmica tela verde do chroma key.

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A novidade empolga e tem resultados impressionantes. A fotografia, aliás, se destaca ao evitar cair na armadilha da escuridão. Assim, embora se passe em grande parte do tempo em ambientes fechados ou durante a noite ou chuva, 1899 permite que enxerguemos tudo e contemplemos a detalhada beleza da direção de arte. Ou então dos figurinos, tão complexos e internacionais quanto os personagens.

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História carece de ritmo e coerência

O problema é que, do ponto de vista narrativo, 1899 é confusa e demora a engrenar. E há uma grande diferença entre complexidade e confusão. Dark, por exemplo, tinha uma infinidade de personagens e núcleos e, embora fosse densa para acompanhar, dava pistas suficientes para o público acompanhar com clareza.

Em 1899, os personagens não conquistam de início e a trama, embora comece simples, logo se enrola e falha em envolver.

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Não demora, então, para que os roteiristas invistam em artifícios semelhantes aos de Dark. Assim, logo temos uma criança misteriosa, um sujeito que parece a versão mais velha de outro e brincadeiras com o tempo e espaço. E é aí que voltamos ao início do texto: embora tentem, os criadores de 1899 acabam ficando no mesmo quintal de Dark. Mesmos truques, mesmos brinquedos.

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1899 é boa, mas perde grande oportunidade de ser excelente

Ainda assim, 1899 se mostra uma aventura interessante, que entretém pelo mistério e por alguns personagens cativantes. O desfecho empolga, mas o caminho até ali parece tortuoso e cheio de altos e baixos. É possível que os roteiristas tenham pensando muito na reviravolta e pouco como chegar até ela. No fim, 1899 soa como uma oportunidade perdida.

Nota: 3/5

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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