Crítica: 2ª temporada de Euphoria é uma bagunça, apesar de bela

Apesar de toda a beleza plástica e boas atuações, segunda temporada de Euphoria é uma bagunça frouxa e sem sentido.

Euphoria

Quando a segunda temporada de Euphoria estreou há oito semanas, público e crítica caíram de joelhos. O aguardado retorno havia surpreendido pela tenacidade narrativa e pelo visual indiscutível, pois, Euphoria é, sem sombra de dúvidas, uma das séries mais bonitas e bem dirigidas dos últimos anos. E os créditos vão para o criador e diretor Sam Levinson.

O problema é que do primeiro capítulo do segundo ano até agora, tivemos mais sete episódios, e o resultado final, apesar de positivo, não é o ideal.

Euphoria retornou com o desafio de encaixar as peças soltas do primeiro ano e dar mais espaço aos personagens coadjuvantes. Esta é mais uma temporada de conjunto do que de um ou dois personagens. Neste sentido, Cassie, Nate, Lexi, Fezco e alguns outros conseguem mais tempo de tela. Isso não quer dizer, entretanto, que suas narrativas sejam sólidas ou façam sentido.

Ainda que Cassie tenha um arco completo e Sydney Sweeney tenha roubado a cena, o mesmo não pode ser dito sobre Lexi. Apesar de ter grande destaque no primeiro e nos dois últimos capítulos, a personagem foi quase que esquecida durante a temporada.

Falta desenvolvimento às narrativas

E por falar em esquecimento, Levinson parece sofrer de severa amnésia. O que aconteceu com Kat? Onde estão as consequências de certos atos? E nem falemos de Chris e outros rostos e elementos da primeira temporada que foram totalmente ignorados neste novo ano. Mas, se Levinson queria mudanças e esquecer partes da primeira temporada, tudo bem! O que beira o inaceitável é o roteirista fechar os olhos para importantes tramas plantadas nesta temporada.

Rue, por exemplo, perdeu uma mala cheia de drogas e nada aconteceu. A perigosa traficante, dona das drogas, parece ter virado uma fada, pois nada fez em retaliação à jovem. O mesmo acontece com Samantha, personagem de Minka Kelly. Além de uma conversa aqui e ali, nada foi feito com a personagem e seu núcleo. É inacreditável supor que Levinson a colocou no roteiro apenas para que ela dissesse a Maddy que ela também traiu a melhor amiga quando jovem.

Euphoria tem bons episódios isolados, mas não funciona em conjunto

E nada me convencerá que essas narrativas serão abordadas na terceira temporada, que deve estrear apenas em 2024. Por mais que todos estes personagens e histórias retornem, eles deveriam ter desenvolvimentos e/ou finais nesta temporada e não em outra. Há dramas que precisam ser encarados agora, pois foram plantados agora.

Com isso, chegamos à principal conclusão acerca do segundo ano de Euphoria: ela é um bom conjunto de episódios, mas não uma boa série. E há uma grande diferença entre uma coisa e outra.

Euphoria, afinal, tem bons episódios isolados. O capítulo voltado à juventude de Cal, por exemplo, é muito bom. O capítulo em que Rue chega ao fundo do poço e foge também tem suas qualidades. O problema é que nada disso funciona junto, no formato seriado, em que um episódio se conecta ao outro.

Logo, a impressão é a de que Sam Levinson criou esquetes, boas ideias soltas, e não encontrou elos entre elas. Isso explica por que o roteiro parece tão frouxo em um contexto amplo. Se analisarmos os capítulos isoladamente, eles funcionam, tanto em estrutura quanto nos diálogos. O problema é quando buscamos lógica e solidez geral.

Visual e elenco roubam a cena de 2ª temporada

Apesar dos problemas, Euphoria ainda é, como já declaramos, uma das séries mais bem feitas dos últimos anos. Dirigida por Levinson, a segunda temporada foi filmada em película, o que dá um visual totalmente único e requintado à produção. Com fotografia deslumbrante, o show enche os olhos com quadros dignos de pinturas.

Edição e trilha sonora também merecem elogios, principalmente por ditarem o ritmo em uma série que precisa sempre estar a mil por hora e dividir atenção entre vários personagens.

O elenco, aliás, é muito competente, com Sweeney realmente sendo o nome da temporada. Zendaya, por outro lado, é o elemento mais fraco do grupo. Ainda que talentosa, a jovem se joga em artifícios baratos e repetitivos. Embora se destaque no início e no fim da temporada, Zendaya mergulha em um buraco negro de canastrice na metade do caminho.

Repare, por exemplo, como o excesso de caretas prejudicam momentos tensos e importantes. E, antes que os defensores afirmem que ela está apenas representando uma viciada, é necessário frisar que os cacoetes de atuação vistos aqui podem ser encontrados em outros trabalhos da atriz.

Como personagens, Euphoria é bela, mas vazia

Para completar, Euphoria precisa encontrar um equilíbrio entre o impacto e a gratuidade. Há excesso de nudez e choque. O objetivo de Levinson é claro: chocar a plateia e mostrar como os personagens e seu mundo é sujo e insano. Mas é preciso ter filtro.

Há uma cena importantíssima no meio da temporada, por exemplo, que perde quase todo o peso ao trazer um importante personagem com o p*nis à mostra. Ainda que a nudez tente mostrar que o sujeito estava perdido, no fundo do poço, ela desvia a atenção do público e transforma o drama em galhofa.

Assim, a segunda temporada de Euphoria parece alguns de seus personagens: belos, mas vazios. Ainda que seja linda, há pouco a oferecer no campo dramático. E, mesmo quando tenta mergulhar no drama, Levinson e sua obra quase viram um novelão. E a patética briga no palco do último capítulo é a prova disso. Sorte que há uma boa direção técnica, uma fotografia incrível e algumas boas atuações para que tentemos ignorar tudo o que não funciona.

Nota: 3/5

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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