Crítica: 2×06 de The Good Fight mostra que nada é simples demais para televisão
Review do sexto episódio da segunda temporada de The Good Fight, da CBS All Access, intitulado "Day 443".
Todos querem ser Jeffrey Toobin
Tecer elogios à The Good Fight tem sido um exercício semanal. É impossível não ficar impressionado com tamanha qualidade do roteiro, dos diálogos, do desenvolvimento dos personagens e das críticas sociais, enfim há um vasto conteúdo que a série propõe uma discussão. Em Day 443 a série navega em águas jamais faladas na televisão roteirizada: neonazistas, o estado preocupante dos canais de notícias à cabo e do quão fútil está a palavra “celebridade”. Talvez merecia uma dissertação acadêmica, mas vou tentar ao máximo ser breve, inteligente, coerente e claro. Prometo.
O episódio começa com Boseman sendo convidado para um programa de televisão cujo foco é a discussão jurídica da semana. Mesmo sem ver os analistas que participam da discussão, Adrian se torna uma celebridade instantânea pela forma franca na qual fala sobre os temas. Viralizando pela internet, claro ele é convidado para mais participações. Enquanto isso, Lucca busca a melhor forma de conciliar sua carreira com a recém descoberta gravidez e Diane mantém inspiradora filosofia do f***-se.
A abordagem inteligente e perspicaz que o roteiro deu para criticar a situação dos programas de notícia da TV a cabo foi realmente impressionante. Embora veja semelhanças com Anderson Cooper 360º que não concorde, é importante analisar o posicionamento dos roteiristas de uma maneira geral. Isso porque é perceptível que o modelo de “guerra de comida” da CNN não funciona mais por deixar o telespectador menos inteligente. Que a Fox News se tornou um antro de normalização do racismo e de simpatia a supremacistas brancos. Sem contar com o liberalismo pulsante da MSNBC a partir das 20h.
Fora da realidade? Quem?
Para o leitor que não assistem ao noticiário a cabo dos Estados Unidos, saiba que o programa fictício apresentado por The Good Fight não está longe da realidade. Até porque Tucker Carlson já falou sobre “racismo reverso” e Geraldo Rivera já argumentou sobre os “perigos do Hip-Hop“. Aproveitando a oportunidade, o roteiro demonstra na figura de Adrian a influência que pseudo-celebridades têm em pessoas comuns tomando decisões importantes. Não é coincidência que o júri não tirava os olhos de Adrian ao invés de uma testemunha importante.
Não entendi muito nem a importância do The Big Six. Na verdade me pareceu como o alívio cômico. Os seis escritórios mais poderosos de Chicago reunidos para debater o “futuro” da profissão? A ideia soa ridícula, mas terminou de uma forma curiosa ao colocar Marissa na sua melhor posição desde o início da temporada. Mesmo estranha a narrativa também me lembrou que desde quando a série começou, o escritório sequer processou o Departamento de Polícia de Chicago por homicídio ou uso desproporcional da força. É comum? Sem dúvida, mas só será banal se o argumento e a abordagem também forem usuais.
Quanto te perguntarem o porquê mulheres são importantes no processo criativo, recomendo que mostre esse episódio como resposta. Isso porque a forma na qual escolheram falar da encruzilhada de Lucca foi perfeita. Transformaram a personagem não só em alguém relacionável, como também numa personificação das inúmeras mulheres que enfrental tal dificuldade diariamente. É uma estratégia para que o roteiro consiga introduzir a gestação de Cush Jumbo? Provavelmente. Porém abordar uma história tão simples, porém tão necessária de uma forma honesta é um acerto em todos os sentidos.
Vamos falar de Impeachment?