Crítica: 3ª temporada de Santa Clarita Diet é menos violenta, mais engraçada e totalmente insana

Santa Clarita Diet retorna mais segura e confortável com suas loucuras em uma terceira temporada menos violenta, mais engraçada e igualmente doida.

Nada faz sentido na terceira temporada de Santa Clarita Diet. E isso é ótimo!

O cenário é a sala de roteiristas de Santa Clarita DietEles estão com um problema: não sabem como resolver uma sequência difícil, em que o casal protagonista está em perigo. Alguém, sentado no último lugar da mesa, escondido, levanta a mão e dá qualquer ideia estapafúrdia para amarrar a situação. O criador da série diz “perfeito”, e a sugestão vai para o quadro de ideias e depois é filmada com toda a tranquilidade pelo elenco e equipe que não veem nada de absurdo na questão.

É claro que a situação acima vem da nossa imaginação. Entretanto, não é difícil imaginar que isso realmente acontece na sala de roteiristas de uma das comédias de maior sucesso da Netflix. Já na sua terceira temporada, Santa Clarita Diet joga a toalha. Ela não está mais preocupada em agradar um público incerto. Agora é o momento de fazer o que quer sem muito medo, focando naquelas pessoas que retornaram pela terceira vez. Pois se o espectador voltou, é porque ele gosta daqueles personagens, da trama e da loucura imaginativa dos plots. Com isso, o que se vê é uma série mais confortável consigo mesmo. Ainda assim, encontrou meios de consertar os pequenos problemas de outrora.

Velhos problemas são resolvidos em uma série mais segura e confortável consigo mesma

É curioso, por exemplo, que a série tenha resolvido justamente alguns problemas que apontamos em temporadas anteriores. O gore, que era um tanto desmedido – principalmente no segundo ano -, encontra um balanço sóbrio. As mortes estão lá, mas a abordagem é muito mais contida. Não que a violência não seja divertida ou puramente cartunesca antes. Só que a série havia perdido a mão no uso do artifício. É provável que a violência extrema tenha afastado o público mais sensível ou adepto à comédia. Mas esse problema é algo contornado desta vez.

Outro fator que incomodava era a atuação exagerada de Timothy Olyphant. O ator é ótimo, e quem viu Deadwood sabe disso. O problema é que Olyphant sempre personificou o tipo durão, melancólico ou simplesmente quieto. Da série de faroeste da HBO a Justified, pouco ou quase nada indicava a veia cômica que viria a ser explorada em Santa Clarita Diet. Com isso, Olyphant demorou para pegar o timing da comédia. E, por mais que Diet abrace o pastelão com jeito, era visível o desconforto ou despreparo do ator. No terceiro ano, contudo, é possível que o sujeito tenha ouvido as críticas. Sendo assim, sua performance é muito mais orgânica e jamais chama atenção para si.

Nem tudo que parece um problema, contudo, realmente é.

O que pode incomodar em outros programas, torna-se quase irrelevante em Santa Clarita Diet. Isso porque a série não está preocupada em fazer sentido ou seguir uma cartilha de como criar uma narrativa minimamente convincente. Com isso, as explicações para certas decisões são completamente insanas, ao mesmo tempo em que as resoluções dos inúmeros problemas que surgem no caminho dos Hammond são inacreditáveis. Em um momento, o casal central está na mira de um sujeito que quer matá-los. A situação parece incontornável, até que a filha do assassino irrompe pela porta da frente, impedindo que o crime seja cometido. É uma filha que jamais foi mostrada ou sequer citada na série, e parece surgir unicamente para resolver um beco sem saída.

Em outra sequência, ao esperarmos um grande embate ou resolução complicada, o problema é sanada da forma mais tranquila possível. Esta, afinal, é a graça da série: colocar diversos problemas e inimigos no caminhos dos personagens principais e ir resolvendo tudo na medida do possível. E os empecilhos são os mais doidos e surpreendentes, jogando o elenco em espirais divertidas de sangue, suor e muitas mentiras. Com o tempo, portanto, não importa se algo ou alguém não faz sentido; apenas curta o que está sendo proposto e siga em frente.

A dieta precisa continuar!

Com humor afiado, recheado de gags visuais e tiradas hilárias (depois de matar nazistas, o próximo passo são homens que reivindicam seus direitos, pois se sentem oprimidos pela sociedade), Santa Clarita Diet é diversão leve, bem feita e descompromissada, mas sem subestimar o público. Sendo uma das marcas mais conhecidas da Netflix, é possível que vejamos mais uma ou duas temporadas pela frente. Os ganchos prometem mais uma porção de loucuras e problemas, e nós esperaremos ansiosos.

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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