Crítica: 4ª temporada de Sex Education dá fim digno a uma ótima série
Crítica sem spoilers da quarta temporada de Sex Education, série da Netflix que encerra sua trajetória em uma boa nota.
Sex Education é uma série que sempre chamou atenção. Estreando em 2019, a atração chegou na hora certa, em uma Netflix que ainda buscava um público alvo e fidedigno, que pudesse alavancar ainda mais o status da plataforma.
Em meio a uma avalanche de produções que viera após Stranger Things, Sex Education foi um sopro de qualidade e versatilidade, mostrando que as séries roteirizadas podem ser inteligentes e ao mesmo tempo “bobinhas”.
Esses ingredientes, justamente, tornaram a série uma das “joias” da Netflix, então o sentimento com o fim do programa é agridoce. Bom, porque acaba na hora certa. E ruim, porque sentiremos saudades desses personagens, em sua absoluta certeza.
A quarta temporada retoma os eventos da terceira, com os alunos da Escola Moordale Secondary agora no Colégio Cavendish, um espaço progressista e liderado por estudantes. Mas, mesmo que as dinâmicas sociais tenham mudado, os dramas pessoais dos personagens continuam fortes e relevantes.
As trajetórias de cada personagem se desdobram, mas a série sempre retorna à sua essência, abordando questões sociais e sexuais de forma audaciosa. É isso que fez de Sex Education, e é satisfatório saber que ela não abandona isso em seu passeio final.
4ª temporada de Sex Education continua ousada em seus próprios termos
Sex Education se destaca por sua abordagem ousada, mas a quarta temporada intensifica isso ao abordar temas como identidade trans, acessibilidade, depressão, disforia de gênero e mais. Embora por vezes possa parecer didática, é evidente a intenção da série de iluminar esses tópicos e desmistificá-los.
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O novo cenário, o Colégio Cavendish, por mais caricato que possa parecer, oferece um olhar crítico sobre as falhas de um ambiente excessivamente progressista. A série tem a habilidade de apontar os excessos de um ambiente que prioriza causas sociais em detrimento de questões práticas enfrentadas pelos alunos. Essa trama ganha bastante foco quando Otis ganha uma nova rival, que o torna menos descolado e mais competitivo.
Personagens ficaram separados, mas tiveram tempo de ser explorados por igual
O fato que pode incomodar muitos fãs é que a maioria dos personagens principais estiveram isolados entre si, em suas próprias tramas. Otis tinha uma nova rival, O, enquanto Maeve estudava nos EUA, e Eric se descobria no mundo Queer onde finalmente tinha liberdade para explorá-lo (com exceção de quando estava próximo de seu Pastor). Só que, mesmo longe um dos outros, eles estavam próximos em suas essências, algo moldado e baseado muito bem nas três primeiras temporadas da série.
Aqui, os arcos de Adam e Michael são o coração da série. Eles personificam os danos que a repressão e a crueldade podem causar e, ao mesmo tempo, a capacidade de cura proporcionada pela aceitação e gentileza. E, mesmo com momentos de humor, a temporada mantém-se aterrada em sua mensagem central.
Talvez, a ideia principal da quarta temporada é reconhecer que nem todos os problemas que as pessoas encontram têm solução. E que muitos desafios não podem ser “consertados”, apenas enfrentados.
Com isso, o episódio final, em seus 83 minutos, reflete a essência de uma série que soube equilibrar comédia e drama de forma exemplar.
O fim de Sex Education
A temporada final de Sex Education trouxe, mais uma vez, o equilíbrio peculiar entre humor e drama que o público já esperava, mas, desta vez, com um toque mais maduro e reflexivo. Em muitas séries, a alternância entre o riso e a seriedade poderia se tornar desajeitada, mas Sex Education consegue transitar por esses contrastes com maestria.
Chega um momento em que percebemos a ausência de piadas sobre sexo – algo que era marca registrada nas primeiras temporadas. Esse detalhe não é um demérito, mas sim um sinal de que Sex Education amadureceu.
Mas algumas das últimas conversas entre os personagens são tão precisamente escritas e maravilhosamente interpretadas que cortam a trivialidade com uma lâmina afiada. O monólogo de Emma Mackey, em especial, sobre Maeve, é um espetáculo à parte: um momento de pura entrega e emoção, demonstrando a capacidade da série em mergulhar em tristezas profundas sem a necessidade de aliviá-las com uma piada imediata.
Os personagens, agora mais desenvolvidos, encontram-se confortáveis com seus corpos, navegando pelos desafios de estar à vontade com suas emoções na fase adulta. Embora haja algumas falhas no percurso da narrativa, a série aborda essa evolução com uma proximidade admirável da perfeição. O desfecho é um presente para os fãs, apresentando um dos finais mais memoráveis e emocionantes já vistos em produções do gênero.
Sex Education, do começo ao fim, foi uma jornada tão caoticamente engraçada quanto honesta. Mesmo enfrentando desafios, a série conseguiu capturar a essência de cada um de seus personagens. Nesta última temporada, ela alcançou um nível transcendental de storytelling.
A gente se despede desses jovens, outrora desajeitados e sedentos por descobertas, desejando-lhes sorte. Eles vão precisar. Mas estão preparados. Sem dúvidas, foi um privilégio vê-los crescer e amadurecer diante de nossos olhos.
Nota: 4.5/5