Crítica: A Mulher na Janela é um suspense fraco e dispensável na Netflix

A Mulher na Janela chega à Netflix depois de diversos problemas e refilmagens. Resultado decepciona fica muito aquém do esperado.

A Mulher na Janela

A Mulher na Janela tem um dos melhores elencos dos últimos anos, um excelente diretor (Joe Wright, de Desejo e Reparação), um ótimo roteirista (Tracy Letts, de Killer Joe), um dos melhores diretores de fotografia do cinema recente (Bruno Delbonnel, de Amelie) e um dos maiores compositores da história (Danny Elfman, de Batman). Assim, é difícil entender como um projeto com tamanho potencial e talento deu tão errado. O filme, baseado no best-seller de mesmo nome, traz Amy Adams na linha de frente e um invejável time de apoio: Julianne Moore, Gary Oldman, Jennifer Jason Leigh e muitos outros.

O problema é que A Mulher na Janela é um daqueles projetos que já nascem amaldiçoados. Apesar de toda força de sua equipe e elenco, trata-se de uma fita que nunca deu certo. Enquanto era uma ideia, o título era uma das apostas ao Oscar. Quando passou a ser exibido ao público, em forma de teste, o filme levou um tombo. Quem assistia não aprovava e o estúdio entrou com força no processo. Assim, o filme passou por refilmagens. O objetivo era salvar o que praticamente não tinha salvação. Os resultados ainda ficaram aquém do esperado e o longa foi lançado da pior forma possível: sem a aprovação de praticamente ninguém. Não era o filme que estúdio queria, tampouco o que o diretor desejava.

Filme mira no luxo dos grandes clássicos, mas é só um suspense do Super Cine

O que vemos na Netflix, portanto, é um suspense básico e totalmente abaixo daquilo que os envolvidos poderiam entregar. Na trama, uma psicóloga com agorafobia, Anna (Amy Adams), divide seus dias entre remédios e muito álcool. Presa em sua casa em Manhattan, a mulher vê a vida passar pela janela. Com a chegada de uma nova família na casa da frente, a solitária encontra um novo hobby: espiar a vida alheia. É quando ela testemunha um crime que as coisas saem do controle. Mas seria realmente um crime?

Com ecos de Janela Indiscreta e tantos outros suspenses que bebem na mesma fonte, A Mulher na Janela faz referência a diversas outras obras através de cenas e diálogos. Alguns easter eggs funcionam, outros ficam pelo caminho. Wright, o diretor, é competente ao relacionar algumas de suas sequências a grandes clássicos do gênero. Além disso, o cineasta é competente ao estabelecer a geografia da casa de Anna e entrega sequências interessantes e desorientadoras. Note, por exemplo, que o diretor investe em planos maiores, sem cortes, com a câmera girando no eixo e permitindo que nos habituemos ao espaços e às movimentações.

A Mulher na Janela talvez tenha um ótimo filme escondido em algum lugar

É uma pena, portanto, que Wright, um cineasta competente, entregue momentos inspiradíssimos ao mesmo tempo em que investe em abordagens totalmente batidas e apáticas. Logo, fica a dúvida: será que A Mulher na Janela foi um bom filme em algum momento de sua produção? É possível que as refilmagens tenha estragado ou piorado o projeto? Uma das reclamações do estúdio era que o longa estava demasiado complexo. Em um projeto como este, com muito dinheiro e estrelas, é presumível que o estúdio queira uma história simples e objetiva. Wright em suas homenagens e Letts em sua abordagem teatral podem ter afastado o título dos anseios comerciais dos produtores.

Letts, vale apontar, é um conhecido e respeitado escritor de peças de teatro, muitas das quais já foram adaptadas ao Cinema (Killer Joe, Possuídos, Álbum de Família). É nítido o anseio do texto em estabelecer A Mulher na Janela como uma espécie de peça teatral. Por várias vezes, aliás, pensei que a história seria muito melhor aproveitada em um palco. Durante o filme, todos os personagens chegam até Anna, adentrando a casa e estabelecendo diálogos com a protagonista. Sempre que sai da “câmara”, do ambiente fechado da casa, o filme enfraquece.

Filme esconde bons momentos

Muito desse fracasso vem da vontade tola do filme querer explicar tudo para o espectador. Cada reviravolta soa vazia e forçada, pois há poucas pistas que nos sugerem os plot twists. Deste modo, quando a reviravolta final chega, o público já jogou a toalha e desistiu de qualquer lógica ou seriedade. A impressão que fica é que A Mulher na Janela tinha muitos alvos e, ao invés de focar em apenas um, quis atirar em todos. Com isso, o thriller de grife almejado por toda a equipe se torna um suspense mequetrefe do Super Cine. 

Nem tudo, felizmente, é perdido. A direção de Wright realmente acerta em vários momentos. Além disso, Amy Adams está afinada no papel, sem jamais se entregar a exageros ou perder o controle de sua persona. Gary Oldman é outro que se diverte no papel de vilão e entrega algumas das melhores sequências do longa. Além disso, a trilha sonora de Elfman é realmente boa e se destaca na produção. Para completar, apesar de todas as estapafúrdias reviravoltas e investidas, a narrativa de Mulher na Janela envolve. Ficamos atentos do início ao fim, nem que seja para passar raiva. Ao fim, é basicamente este o sentimento que temos.

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Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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