Crítica: Adaptação de The Purge tem potencial, mas não sabe aproveitá-lo

Série baseada no longa-metragem não consegue aproveitar a excelente premissa, desperdiçando uma grande ideia.

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Confira nossas primeiras impressões…

A ideia por trás de The Purge (Uma Noite de Crime, aqui no Brasil) é excelente: uma vez por ano, durante doze horas, o crime é liberado nos Estados Unidos. Neste período, a população pode expurgar todos sentimentos ruins através de vandalismos, assaltos, agressões, assassinatos e uma série de outros crimes indizíveis. A medida, pelo que afirma o governo, reduziu a criminalidade drasticamente, já que todos podem acertar as contas durante o Expurgo e não pagarem por tais atos. Ninguém vai preso e tudo volta ao normal depois de uma noite de violência.

A premissa permite uma infinidade de possibilidades. Tanto que o primeiro longa-metragem, estrelado por Ethan Hawke, rendeu várias sequências e, agora, uma série de TV. Até aqui os roteiristas conseguiram criar situações interessantes em filmes divertidos.

Na televisão, contudo, a fórmula surge cansada. The Purge, a série, parece uma enorme oportunidade desperdiçada. Com a originalidade da premissa, inúmeras situações e comentários poderiam ser feitos, principalmente no atual contexto político e social norte-americano e mundial.

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Série falha ao não criar conexões entre o público e seus personagens

No piloto, voltado às horas que antecedem o expurgo, somos apresentados a uma porção de personagens desinteressantes, com objetivos simplórios: uns querem fechar negócio durante a noite, outro quer achar a irmã, outros trabalham trancados em um prédio. Na teoria, tais personagens e espaços permitem ideias excitantes. Acompanhar um grupo preso em um prédio durante o expurgo, por exemplo, pode render sequências empolgante, mas os fracos personagens não encantam.

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Em uma trama como a de The Purge, é essencial que nos preocupemos com os personagens, que criemos laços e torçamos para que tudo fique bem. No primeiro capítulo, entretanto, o programa falha ao criar pontes entre o público e as pessoas vistas na tela. A decisão de acompanhar as horas que antecedem o expurgo é acertada, e a série parece que vai utilizar bem o conceito das doze horas, ou seja, a trama inteira se passará em apenas 12 horas, o que também pode render um desenvolvimento interessante.

Nem tudo é fracasso…

The Purge, contudo, não é um fracasso. É possível que o show tenha começado com o pé esquerdo e que tudo melhore daqui pra frente. O fato é que os roteiristas têm um grande conceito em mãos, uma premissa riquíssima que pode se tornar ainda melhor na televisão.

A saída talvez seja focar em menos personagens, ou fazer com que eles se encontrem em episódios futuros, cruzando tramas e mantendo o foco em menos núcleos.

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No mais, The Purge se beneficiaria muito mais se fosse produzida e distribuída por um canal maior – Netflix, HBO ou Showtime, por exemplo. Onde está, porém, a série é apenas um drama genérico, com doses de suspenso enfraquecido e cenas de ação sem nenhuma inspiração visual. A fotografia é a mais preguiçosa possível, o elenco é mediano e desconhecido e a preguiça parece permear cada minuto. O potencial está ali, só não está sendo bem aproveitado.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.