Crítica: Alguém tem que Morrer, da Netflix, peca pela falta de profundidade
Crítica sem spoilers da minissérie da Netflix, Alguém Tem Que Morrer, produção espanhola da plataforma que contém três episódios.
Nova produção espanhola, Alguém Tem que Morrer, traz grandes nomes em seu elenco
Tendo a Espanha se tornado uma grande fonte de produção, a Netflix não poupa investimentos. Alguém tem que Morrer é sua mais nova aposta. Ambientada na Espanha dos anos 50, a trama retrata o período do regime Franco e apresenta a poderosa família Falcón, composta por Amparo (Carmen Maura), a matriarca da família, seu filho Gregorio (Ernesto Alterio), a esposa Mina (Cecilia Suárez) e pelo seu neto Gabino (Alejandro Speitzer). A reputação da família é posta à prova quando Gabino retorna do México acompanhado de um amigo bailarino, Lázaro (Isaac Hernández).
A série não perde tempo em estabelecer sua trama, a relação entre os personagens enquanto planta mistérios e intrigas suficientes para instigar o espectador a criar teorias sobre os segredos escondidos. Ao longo de seus três episódios de aproximadamente 45 minutos todo drama se desenrola. Quando a amizade de Gabino e Lázaro começa a ser questionada, o drama começa. A família Falcón se destaca na alta sociedade, principalmente por seu favorecimento pelo governo e liderança conservadora da matriarca.
Em uma época que a homossexualidade era tratada como pecado, doença e até mesmo crime, os “desviados” eram detidos e sofriam um “tratamento” a base de violência, sendo torturados em alguns casos até a morte. A relação de Gabino e Lázaro relava o pior das pessoas e tem desdobramentos surpreendentes. Ainda que Amparo tente sustentar o retrato de família perfeita, não demora muito a tudo ruir.
Atitudes que marcaram uma época, mas que ainda têm reflexos no dias de hoje
Alguém Tem que Morrer prova que certas coisas não mudam com o tempo. Infelizmente muito do que é retratado na minissérie ainda é visto nos tempos de hoje. Em um período que a religião era imposta através da cultura do medo, e a violência era exercida em nome da Igreja e do patriotismo. O conservadorismo e o poder militar ditavam as regras. Fica claro o discurso de “pátria limpa”, utilizando a religião para justificar o ódio, a violência e o preconceito no sentido amplo da palavra.
Através de seus temas, a trama evidencia todos os problemas de uma sociedade conservadora e de um regime ditador. As tramas são movidas pela repressão e a violência. Algumas cenas são desconfortáveis e se tornam ainda mais dolorosas sabendo que ainda hoje acontece muito daquilo que é apresentado. Ainda que a trama tenha alguns acertos, falta tensão e sobra melodrama. Mas devo destacar o trabalho das atrizes Carmem Maura e Cecilia Suárez se destacam por suas atuações.
Considerações finais
A minissérie retrata a história de uma tragédia anunciada. Como o próprio nome sugere, ao final da minissérie nem todos sobrevivem. Todos os conflitos e ações geram um efeito cascada com consequências para todos. Porém, com a agilidade da produção – apenas 3 episódios – não há tempo suficiente para se envolver na vida dessas pessoas que carregam traumas e segredos. Falta profundidade não só na trama, como também no desenvolvimento dos personagens.
Criada por Manolo Caro (A Casa das Flores), o elenco sem dúvidas é um dos principais atrativos. Ester Exposito (Elite), Alejandro Speitzer (Desejo Sombrio), Cecilia Suárez (A Casa das Flores). Tecnicamente bem executada, e com muitos elementos a seu favor, infelizmente a minissérie se torna uma produção esquecível. Ester Exposito é a nova queridinha da Netflix, no entanto, parece reprisar seu papel em Elite, com novo figurino em uma época diferente.
Com uma premissa cheia de potencial, talvez o erro principal seja a escolha do formato. Um longa metragem receberia um outro olhar, permitindo a direção e a edição tomarem outro caminho para um desenvolvimento equilibrado da trama e de seus personagens. Ainda sim, os fãs das produções espanholas vão dar uma chance a minissérie que tem como uma das mensagens a tolerância e a liberdade de escolha. O final abrupto não deixa de ser frustrante. Embora falte algo, não vejo sentido em uma possível continuação.
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