Crítica: And Just Like That… exige mente aberta dos fãs

Revival de Sex and the City, a série And Just Like That encerra primeira temporada exigindo que os fãs assistam com mente aberta.

Crítica And Just Like That
Imagem: Divulgação/HBO Max

Vivemos na era do retorno de clássicos. Já dizia o ditado: nada se cria, tudo se copia. Por vezes, um produto retorna numa continuação direta. Por outras, volta totalmente repaginada na tentativa de alcançar novos públicos. And Just Like That…, derivada do sucesso dos anos 90 Sex and The City, fica em algum lugar no meio disso. Presa entre dois mundos, a série certamente não pretende continuar igual ao produto de quase trinta anos. Contudo, não tenta se renovar totalmente e sapateia cuidadosamente na tentativa quase impossível de não desagradar ninguém.

Assim, o seriado veio ao mundo com grandes expectativas por partes dos fãs e muitas metas para alcançar. No fim e com a possibilidade de uma segunda temporada, a questão é: o saldo ficou positivo ou negativo?

Novo vs clássico em And Just Like That…

A atualização da linguagem para And Just Like That… é algo impressionante. Isso se dá pelo fato de que a HBO, canal da série original, já usava, quase trinta anos atrás, o estilo narrativo característico de séries do streaming hoje em dia. Assim, a matriarca Sex and the City já havia deixado o terreno pronto para o novo conjunto de episódios.

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Além disso, a relação que o público tem com essas personagens é algo que se encaixa perfeitamente nesse formato estilo crônica, que explora aparentemente com calma os conflitos de cada uma delas.

And Just Like That HBO Max Sex and the City
Imagem: Divulgação.

É importante, porém, entender que quase vinte anos se passaram desde o fim da série original. Nesse meio tempo, as protagonistas passaram de “quase 40” para “50 e poucos” na escala de idade. Por isso, seus conflitos e motivações precisavam ser diferentes para justificar tudo aquilo. Mesmo que algumas coisas nunca mudem, como a necessidade constante de que o mundo gire ao seu redor da líder Carrie, mais de uma década se passou e tudo que o trio principal almejava vinte anos atrás já foi alcançado. O que vem em seguida?

Éramos três

O roteiro ainda sofre muito de uma tendência absurda em absorver a protagonista de qualquer erro e induzir o público à conclusões precipitadas e simplórias sobre Miranda e Charlotte. A última sofre com isso há anos e vez ou outra o vicio é visto novamente. Mesmo passando por traumas e problemas mais profundos do que o de costume, o texto perdoa qualquer tipo de desvio da escritora mais famosa de Nova Iorque. Mesmo assim, pesa fortemente a mão quando se prõpoe a analisar os atos de suas amigas. Por isso, os tempos se passaram mais o roteiro de Michael Patrick King sofre fortemente do Carrie-centrismo.

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Dito isso, é admirável a necessidade do texto em tentar apresentar conflitos dignos da passagem do tempo na vida daquelas pessoas. Miranda se vê presa no conflito pós “viveram felizes para sempre” e Charlotte enfrenta, sempre de cabeça erguida, os desafios da sua vida dos sonhos. Na figura dessas duas mulheres tão complexas, o texto corajosamente admite, quase numa metalinguagem, que se vê na necessidade de abordar temas importantes que foram ignorados nos projetos anteriores. Pode parecer brega para alguns, mas ainda é preferível invès da hiprocrisia de tantos outros projetos.

Imagem: Divulgação.

Outra coisa que é tratada com carinho é a ausência da quarta mosqueteira. Samantha, que fechava o grupo de amigas na série anterior e filmes, não está mais envolvida no projeto. Intrigas de bastidores à parte, é preciso ser dito: ela não faz falta alguma aqui. Não por ser uma personagem ruim ou nada do tipo. Mas, se olhar com atenção, percebe-se que a personagem já era constantemente preterida nos episódios clássicos e interagia menos com as amigas do que a média das outras. Assim, não há como estranhar aquelas três amigas juntas quando já vimos tantas vezes esse filme antes. Seguimos em frente.

Rostos não conhecidos

Não como substituição, porque isso seria algo meio impensável aqui, mas para preencher certos vazios narrativos, a trama escala quatro novas personagens para serem coadjuvantes das tramas centrais. Não caindo apenas na sombra do trio de personagens icônicas, as novas atrizes se misturam bem com o elenco e conseguem trazer genuína realidade para suas personagens. Cada uma representa algo que os produtores da série tentam abordar nessa revival. Tem como ser mais sútil? Tem. Porém, por vezes a série te faz questionar se ser escrachada não é a melhor forma para ela se comportar. Aqui, ela merece o benefício da dúvida.

Imagem: Divulgação. Sara Ramirez é uma das novas atrizes do elenco.

Desde um ombro amigo que diz a Charlotte que é normal ser do jeito que ela é, coisa que as amigas mais próximas por vezes não fazem, até uma figura totalmente diferente da sua realidade que muda totalmente a visão de mundo de Carrie e Miranda, as novas personagens quase caem na pegadinha do caricato e perigam não existir como pessoas próprias. Em alguns episódios, isso chega muito perto de ser verdade. Porém, o carisma dessas atrizes conseguem segurar a onda e sempre arrumam um jeito de marcar o território de forma à se mostrarem reais e existentes além dos conflitos das três protagonistas. O destaque absoluto é Sara Ramirez, que aqui nem lembra à sua personagem mais conhecida, da série Grey’s Anatomy.

Velhos vicios

O que mais pode incomodar o público são os velhos e conhecidos vícios da produção de Sex and the City. Por vezes, a série se perde nos conflitos bestas e não avança o que realmente importa. Não quero que pareça perseguição, mas muito disso vem da personagem Carrie. Perdão aos fãs! Por se conter em dez episódios de mais ou menos quarenta minutos, pouco espaço para erro fica no ar. Ainda por cima quando lembramos que existem sete personagens orbitando essa trama aparentemente sobre nada. Assim, podemos perdoar facilmente os erros da série que é, por si só, pouco ambiciosa. Se isso é bom ou ruim, cabe ao público definir.

Critica and just like that

And Just Like That… é uma ambiguidade ambulante que está fadada à polarização. Não é continuação nem é reboot. Não tem uma linguagem muito nova, tão pouco usa totalmente a linguagem antiga. O revival se prõproe a usar os mesmos personagens e esteriótipos para contar uma nova história. Aqui, pouco se vê sobre o sex e menos ainda da fixação na city. Invés disso, temos um olhar delicado e sem muita presunção sobre a vida de mulheres acima dos cinquenta que apenas querem viver com tantos conflitos quanto qualquer outro. Para os que vão de mente aberta e poucos conceitos pré-definidos, é uma maratona/encontro semanal digno da expectativa e com diversão garantida. Aguardamos mais uma temporada!

Nota: 4.5/5

Sobre o autor
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Guilherme Bezerra

Pernambucano estudante de jornalismo. Apaixonado por séries desde sempre, aprendeu inglês maratonando How I Met Your Mother. Viajou por mundos e pelo tempo com o Doutor e nunca consegue dispensar uma maratona de Friends. Não vale esquecer a primeira maratona de séries com A Grande Família!

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