Crítica: Bom Dia, Verônica melhora na 2ª temporada, mas ainda longe do espetacular
A segunda temporada de Bom Dia, Verônica é levemente melhor do que o primeiro ano em razão dos seus atores. O resto é pura decepção.
Permita-me começar pedindo licença para me explicar. Bom Dia, Verônica não é uma série que me tirou o fôlego no primeiro ano. Muito pelo contrário. Deixou-me muito frustrado por banalizar a questão da violência doméstica por uma conspiração policial sem pé nem cabeça. Mesmo assim, acredito que o drama merecia uma continuação. Seja pela busca de uma redenção, ou até mesmo, quem sabe, de contar uma boa história.
Para minha surpresa, a Netflix parece ter entendido o problema e investido mais nesses novos episódios. Mas a questão permanece: será que melhorou mesmo?
Na segunda temporada, a narrativa acompanha Matias, (Reynaldo Gianecchini), que é descrito como um “benfeitor conhecido e livre de suspeitas”. O personagem é casado com a fiel Gisele (Camila Márdila) e pai da jovem Angela (Klara Castanho). Contudo, por trás da fachada de pastor e cidadão de bem, ele esconde alguns segredos terríveis. Dentre entre eles, violentar de forma constante a filha e várias outras mulheres. Ele também é líder de uma organização criminosa que corrompe todas as instâncias de poder em São Paulo.
A arte do bom vilão
Confesso que, desde o momento que a Netflix divulgou a sinopse desses novos episódios, fiquei animado. Um pastor neopentecostal que carrega o manto da moral e dos bons costumes e arrasta milhares fiéis é uma figura que pode ser encontrada em qualquer bairro brasileiro. Seja em Madureira, no Rio de Janeiro, Boa Viagem, no Recife, ou até mesmo em Mecejana, na capital de Roraima. Diante da influência política dessas pessoas neste momento, é essencial que Bom Dia, Verônica traga um personagem como esse.
A boa notícia é que Reynaldo Gianecchini entrega seu melhor trabalho da carreira. Acostumado a personagens insossos e sem personalidade, seja em Laços de Família ou Entre Lençóis, o ator finalmente mostra a que veio. Mesmo com um roteiro de pouca objetividade e uma direção sem personalidade, Gianecchini é espetacular. Foram poucas vezes que simples trocas de olhares conseguiram me abalar daquela forma. Sendo assim, todos os elogios ao Reynaldo são poucos.
Expondo carências
Embora o Reynaldo tenha se destacado em meio a um elenco inexpressivo, o grande problema dessa segunda temporada continuou com o roteiro capenga de Raphael Montes e equipe. Da mesma forma que se apresentou violência doméstica de forma completamente acessória no primeiro ano, abuso sexual, pedofilia e “falsos profetas” seguem o mesmo caminho por aqui. Há uma ideia esdrúxula de investir nessa grande conspiração em vez de focar com propriedade em histórias que poderiam funcionar melhor.
Assim, reitero que há uma necessidade e uma inteligência em propor a desmitificação do “pastor cidadão de bem” neste momento da história nacional. Fazer com que o assinante da Netflix reflita com afinco sobre essas questões. O problema é que a narrativa não é construída e contada com qualidade. Tampouco traz nuances que deveria. Não há atenção aos detalhes. Cuidado em construir personagens com um mínimo de verossimilhança. O resultado é frustração.
Terceira temporada?
Como Raphael Montes sugeriu em entrevista recentes, Bom Dia, Verônica foi concebida como uma trilogia. Sendo assim, é possível que, minimamente bem-sucedida, a série será renovada para mais um ano. Terei que assistir por obrigações profissionais, mas posso garantir que à luz do que assistimos até aqui, minha empolgação é mínima. Mesmo com um elenco todo novo, não me vejo olhando para esse material com esperança de algo novo.
Em suma, Bom Dia, Verônica entrega mais frustração. Além disso, menosprezo por assuntos que deveriam ser protagonistas em qualquer história. Há salvação para esse material? Acredito que não. Contudo, há como buscar alguma redenção? Sem dúvida. Enfim, minha dica seria: não produzir uma terceira temporada.