Crítica: Com humor e sensibilidade, O Método Kominsky fala sobre envelhecimento e amizade

Crítica da 1ª temporada de "O Método Kominsky", da Netflix.

Netflix/Divulgação
Imagem: Netflix/Divulgação

“A morte é um problema dos vivos”

Esta frase foi dita certa vez pelo sociólogo alemão Norbert Elias, a fim de pensar como a sociedade lida com os que se foram e os que estão mais próximos de partir. Em O Método Kominsky, vemos uma divertida e bonita reflexão sobre o envelhecimento, a vida e a morte.

Com um elenco fantástico, protagonizado por Michael Douglas e Alan Arkin, a série aborda temas intimistas e conjunturais. Dessa forma, o enredo gira em torno de Sandy Kominsky, ator e professor de atuação, e Norman Newlander, agente.

Os dois são amigos há quase cinco décadas, e Sandy foi responsável por apresentar a esposa de Norman, Eillen. A partir disso, a história se desenrola com a morte de Eillen e as reações de Sandy e Norman para lidar com o luto, ora juntos, ora separados.

A arte imita a vida…

Um dos núcleos importantes da série é a escola de atuação de Sandy. Vemos Michael Douglas ensinar jovens atores através de experiências que se confundem com a vida do personagem e a sua. Além disso, vemos importantes coadjuvantes: Mindy (Sarah Baker), filha de Sandy, e Lisa (Nancy Travis), par amoroso de Sandy.

Antes de tudo, Sandy é uma pessoa em negação. Ele nega os fracassos de sua carreira como ator, as dificuldades de relacionamento e, principalmente, o envelhecimento. Sua tentativa de continuar jovem e enganar a morte reflete uma personalidade ao mesmo tempo destemida e amedrontada, por mais estranho que isso pareça.

Por outro lado, Norman é uma pessoa que parece “aceitar melhor” seu envelhecimento. Na realidade, com a morte de Eillen, Norman perde o brilho da vida e passa a questionar o porquê de continuar vivendo. Dessa forma, se Sandy tem medo da morte, Norman teme a vida.

A partir dessas oposições, Norman e Sandy vão trocando alfinetadas e broncas típicas de uma amizade de longa data. As interações entre Arkin e Douglas são excelentes, pois soam naturais. Além disso, refletem inquietações de pessoas mais velhas no mundo atual, com a celeridade das relações e alta participação da tecnologia.

Envelhecer em família

Outro aspecto abordado pela série é a relação entre família e envelhecimento. Mais uma vez, vemos Norman e Sandy em situações distintas. Sandy possui uma relação boa com sua filha, Mindy, mas sequer menciona a mãe, uma de suas 3 ex-esposas. Norman, por sua vez, é apaixonado por Eillen, mas não lida bem com sua filha, Phoebe (Lisa Edelstein).

A série guia a discussão sobre família pelos diálogos dos protagonistas, mostrando que, independente da composição e da relação, o envelhecimento é um tema difícil de lidar.

Por um lado, vemos Mindy preocupada com Sandy e seu jeito de levar a vida, principalmente após surgir um problema da próstata. Por outro lado, Norman lida com o vício de Phoebe e a necessidade de reabilitação.

Observar os conflitos familiares pelos olhos de Sandy e Norman é interessante, principalmente por colocar a relatividade de uma vida familiar agradável.

Envelhecer entre amigos

Um dos aspectos mais realistas da série é a relação entre Norman e Sandy. Duas pessoas distintas, dois amigos de longa data. A interação quase sempre conflituosa entre os dois é o ponto alto da série, gerando boas risadas e cenas tocantes.

Uma cena de conversa telefônica entre os dois sobre uma pretendente de Norman é hilária.

Além disso, o enredo é centrado em como Sandy age, a pedido de Eillen, no cuidado de Norman. Ao mesmo tempo, Norman, em suas conversas mentais com a esposa falecida, decide ajudar seu amigo a pedido da esposa. Finalmente, os dois durões usam o amor em comum por Eillen para justificar o amor um pelo outro.

E este é o método Kominsky: observar o outro e se deixar levar pela demanda do outro. Se livrar um pouco de si, seja para atuar, seja para viver. Assim, é possível seguir a dura vida. “Eu vejo você, você consegue me ver?”.

Se a morte é um problema dos vivos, como disse Elias, não significa que precisamos enfrentá-la a sós.

Participações especiais

A série ainda conta com muitas referências ao mundo do entretenimento, a exemplo de histórias sobre atores, atrizes e produtores.

Para isso, temos a participação de outros atores de comédia da velha guarda, como Eliott Gould, Jay Leno e Danny DeVito. DeVito, por sinal, faz uma participação divertidíssima como médico proctologista, lembrando seus papéis nos anos 1980 e 1990.

Temos também a participação de Barbara Streisand… Quer dizer, mais ou menos.

Em resumo, O Método Kominsky é uma série para assistir com aquela amizade do peito, para rir sobre a vida e refletir também. Seus oito curtos episódios podem facilmente ser assistidos numa noite de risadas com momentos de emoção. Espero que a Netflix renove a série, mas se não, já temos um produto fechado com muita qualidade.

Sobre o autor
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Luiz Alves

Historiador, pesquisador em saúde, fã de histórias em quadrinhos e jogador de RPG de longa data. Adoro sitcoms de Seinfeld a Brooklyn Nine-Nine, cresci vendo dramas como House, e me apaixonei pelo suspense de Hannibal e a fantasia de Penny Dreadful. Escrevo no Mix desde 2017, fazendo reviews de séries baseadas em quadrinhos, dramas e outras por aí. Atualmente, faço as reviews de New Amsterdam.

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