Crítica: Cursed – A Lenda do Lago tem influência de fantasias contemporâneas

Crítica sem spoilers da primeira temporada da série Cursed - A Lenda do Lago, produção original da Netflix que estreou dia 17 de julho.

Critica Cursed A Lenda do Lago

Com coadjuvantes fortes, subversão e ótima produção técnica, série de fantasia é aposta grandiosa da Netflix

Aguardada pelos fãs, Cursed estreou. E com ela, vemos um debate interessante. A fantasia, desde os seus primórdios, sempre foi repleta de dicotomias: bem x mal; mocinhos x vilões; água x fogo. E apesar de tais características estarem presentes, também, em outros gêneros, é no fantástico onde encontram o seu verdadeiro lugar, existindo quando heróis/heroínas travam verdadeiras batalhas contra seus algozes. 

Esse processo teve seu apogeu de popularização nos últimos anos, quando um público cada vez maior tomou conhecimento dos estudos sobre a “jornada do herói”, que investigam como as narrativas, em especial as fantásticas, tem objetivos claros na condução de suas histórias. 

Dois exemplos recentes e bastante importantes são as sagas “O Senhor dos Anéis” e “Harry Potter“, que tinham em seus protagonistas, Frodo e Harry, arquétipos categóricos dessa fórmula. Eles precisavam sair de seu lugar comum, aprender, viajar, desbravar e destruir o que os ameaçava. A Jornada do Herói é muito mais complexa e multifacetada do que isso, mas saber sobre tal nuance já é imprescindível para compreender onde “Cursed – A Lenda Do Lago” crava suas influências. 

Subversão de “gêneros”

Na nova aposta da Netflix, baseada em uma HQ homônima de Frank Miller e Tom Wheeler, Nimue (Katherine Langford), depois da morte de sua mãe e a pedido dela, precisa empunhar a espada Excalibur e levá-la até Merlin.  Assim, encarando uma jornada de autodescoberta e muitos desafios. Neste trajeto, ao passo em que a garota entende os perigos a sua volta, também conhece pessoas por quem cria afetos e desafetos. 

O que subverte a regra, no entanto, é o fato de que, originalmente, nos contos do Rei Arthur, a espada só poderia ser empunhada por ele. Aqui, Nimue resgata a história de forma incipiente, numa roupagem promissora que dá lugar ao gênero feminino de maneira crítica e provocativa. 

Produção técnica robusta

Em Cursed, o que chama atenção, instantaneamente, é a sua mitologia. Apresentada aos poucos, de episódio em episódio, o texto suscita a curiosidade na medida em que preenche as lacunas. Embora tenha dificuldade, ao início, de compreender sua própria personalidade, o costume garante que encontremos as devidas respostas. 

O design de produção, os figurinos e a fotografia são características fundamentais para construção do seriado. Trabalhados de forma robusta e eficiente, esses aspectos garantem total compreensão do universo e permite a funcionalidade e verossimilhança daquilo que é apresentado. Observe, por exemplo, o misto de beleza e ameaça que a presença dos paladinos vermelhos – os antagonistas – provocam ao aparecer na tela. 

E se os fundamentalistas religiosos, sozinhos, não têm o suficiente para compor um clima de tensão, a presença orquestrada do Monge Chorão (Daniel Sharman) o faz com muita habilidade. 

A força dos personagens

Por falar nos personagens, vale ressaltar que em Cursed os coadjuvantes são marcantes. A singularidade de Merlin (Gustaf Skarsgård), a inteligência de Morgana (Shalom Brune-Franklin), a dualidade de Arthur (Devon Terrell) e a presença cômica de Pym (Lily Newmark) conferem à produção a autenticidade que precisa. 

Embora envolta de muitos pontos positivos, Cursed também enfrenta muitos problemas ao longo de sua trajetória. Seja por triângulo amoroso infundado, criado para esticar a narrativa de maneira desnecessária, seja pelas falhas técnicas de montagem e direção, especialmente no início, quando passam uma impressão de insegurança e ineficiência. Algo, aqui, não funciona.

As influências em Game of Thrones

E já que não dá para fugir das comparações televisivas, vale ressaltar que, logo em sua estreia, Cursed já foi devidamente posta ao lado de Game of Thrones. Isso porque o fenômeno, embora finalizado de maneira controversa, vai inspirar toda e qualquer série fantástica que vir depois dele. 

Na série estrelada por Katherine Langford também existe intrigas políticas, grupos religiosos, jornadas da heroína/herói, núcleos místicos, guerras, planos milimetricamente orquestrados e, até mesmo, mortes impiedosas e – às vezes – inesperadas. 

Beber da fonte de uma série aclamada pelo público e crítica pode sim ser uma boa aposta feita por Cursed. Mas, neste caso, isso não traz um significado necessariamente efetivo. Aqui, a trama é mais simplista, menos adulta e nem de longe alcança as infinitas dimensões dadas aos personagens do produto da HBO.

Não dá pra dizer que Cursed é um seriado excelente, sobretudo ao pensar que, atualmente, as possibilidades de conteúdo audiovisual para TV e para o streaming são cada vez maiores. Mas o seriado, ainda assim, crava sua marca quando conduz uma “jornada da heroína” com respiro, bons coadjuvantes, boas influências e tendo um subtexto que revisita uma história para mostrar que há outra alternativa de protagonismo. Para as mulheres, enfim, a fragilidade têm deixado de ser a única opção narrativa. Há lugar para fraqueza, mas também para força. Para sujeição, bem como para o poder. Para papéis menores e ainda para ter o lugar de excelência de toda uma história. E que assim seja. 

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Sobre o autor
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Lucas Wilker

Estudante de Jornalismo e grande admirador do Ryan Murphy e suas fábulas. Apaixonado pelo universo audiovisual desde que os X-Men o convidaram para adentrar em suas aventuras. Chora facinho com This Is Us e é extremamente afeiçoado aos personagens das séries, dos filmes e dos livros que consome. Eterno aprendiz da escrita.

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