Crítica: Dark, série alemã da Netflix, volta intrigante em 2ª temporada irretocável

Caso siga com o nível dos dois primeiros ciclos, Dark caminhará para se tornar uma das séries mais interessantes e ousadas das últimas duas décadas.

Série alemã, original da Netflix, retorna para segundo ciclo complexo, intrigante e irretocável

Como Dark nos mostra, é quase impossível saber onde as coisas começam. Mais importante do que saber onde e quando acaba, é preciso descobrir a origem de tudo. E assim como no universo da série, nós também não sabemos como certos fenômenos têm inicio. Olhando para trás, por exemplo, é difícil saber quando Dark se tornou o sucesso que aparenta ser hoje. Depois de estrear de forma modesta na Netflix em 2017, a produção alemã foi ganhando o carinho do público. Mas claro, assim que a sua complexidade e charme foram sendo descobertos.

Hoje, Dark já goza de certa popularidade e respeito, e o fato de a série já estar finalizada (a terceira e última temporada já está escrita e em fase de gravações) comprova o controle e talento da equipe para com o projeto. Assim, ao invés de estender a trama indefinidamente, Dark sabe como e quando vai terminar. Nesta perspectiva, cada linha de diálogo e cada cena desempenham um papel fundamental no quadro geral de ideias. E neste sentido, narrativa e técnica se aliam de forma irretocável para criar um mosaico complexo e divertido de personagens. Além disso, de viagens no tempo e teorias infindáveis.

Complexidade está nos personagens e relações, as grandes forças da série

Pela quantidade de personagens e de acontecimentos, é impossível explicar a trama de Dark. A esta altura, basta dizer que o segundo ano continua a história do primeiro exatamente do ponto onde este parou. Desta forma, como os próprios conceitos da série nos mostram, é como se tudo ocorresse ao mesmo tempo. Em outras palavras, a segunda temporada não ousa mudar o tom. Além disso, ao desenvolver e aumentar a mitologia, acaba enriquecendo o primeiro ano. Com isso, ao ser colocado ao lado da temporada anterior, este segundo “ciclo” revela a beleza da tapeçaria criada pelos roteiristas. 

Vale apontar, ainda, que Dark não é tão complicada quanto parece. Se analisarmos a mitologia, relacionada a viagens no tempo e suas consequências, veremos que o que Dark propõe não é um absurdo ou uma novidade. Os conceitos apresentados aqui já foram vistos em outras obras, e os desdobramentos, se vistos com atenção, fazem total sentido. O que torna a série realmente complicada, densa, é a quantidade de personagens que ela tem. Bem como, as versões que tais personagens possuem através das linhas temporais. Logo, a complexidade de Dark, ironicamente, não está na parte científica, mas puramente em seus dramas familiares e relacionamentos amorosos.

Do ponto de vista técnico, Dark é nada menos que impecável

Apesar de todo o peso do material, Dark faz um trabalho incrível na construção do universo. Tanto o roteiro quanto o visual da serie atuam para que tudo funcione perfeitamente bem. Assim, cada detalhe enche os olhos. Dos figurinos ao trabalho de maquiagem, cada aspecto é trabalhado com esmero para criar um mundo coeso e enriquecedor. Nesta complexa criação de linhas temporais, espaços, suposições e personagens, um dos pontos que mais merecem destaque é a edição. Neste quesito, o trabalho é tão certeiro que cada corte representa uma ideia e uma forma de explicar a trama e fazê-la fluir. A identidade de certo personagem, por exemplo, é sugerida através da edição muito antes da revelação ser apresentada ao público de forma explícita.

Aliada ao belíssimo trabalho de montagem está a direção de Baran bo Odar. Assumindo a direção de todos os capítulos, Odar – que é co-criador do projeto – é o grande capitão do navio. Além de conduzir os diversos personagens, o diretor se destaca pelo trabalho técnico: sua câmera é fluída e suas composições ajudam a desenvolver as ideias do roteiro. Assim, cada quadro que mostra uma casa, um rosto ou objeto, por exemplo, funciona com precisão cirúrgica. Para que o talento do sujeito fique ainda mais claro, pense no seguinte: se assistir e acompanhar Dark já é difícil, imagine criar conduzir tudo aquilo!

Roteiro bem construído e amarrado prepara o terreno para o terceiro e derradeiro ciclo

Para completar o pacote, que ainda conta com uma fotografia notável, a série ainda entrega uma trilha sonora repleta de excelentes canções. Como se não bastasse, o vasto elenco funciona de ponta a ponta. Das crianças ao elenco adulto, cada ator e atriz desempenha seu papel com entrega, segurança e talento. Neste sentido, é ótimo que possamos sentir o peso e a dor que Jonas carrega. Tudo isso, graças ao ótimo trabalho dos atores que dão vida ao personagem. Além dele, e de Cláudia, outro destaque vai para Noah, personagem que cresce e rouba a cena durante a segunda temporada graças ao seu ar misterioso e passado sombrio e triste.

No final, assim como o tempo, Dark chega exatamente onde queria e precisava estar. Preparando o terreno para o terceiro “ciclo”, que estreia em 2020, a série deixa várias perguntas no ar, mas diversas outras afirmações para encher as mentes e olhos da audiência. O final (previsível, de certa forma, para quem dedicou atenção ao projeto) amarra algumas pontas e libera o caminho para uma porção de possibilidades.

Assim, caso a terceira temporada siga com o nível dos dois primeiros ciclos, Dark caminhará para se tornar uma das séries mais interessantes e ousadas das últimas duas décadas. Além disso, provará que não é preciso uma infinidade de temporadas e remakes e revivais para se contar uma boa e prazerosa história. Basta o tempo certo e o talento inquestionável para se criar uma obra rica e marcante.

Leia também: Explicamos a linha temporal de Dark, série alemã da Netflix, com SPOILERS

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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