Crítica: Mesmo com início devagar, Dietland é a série perfeita para os nossos tempos
Review do primeiro e segundo episódio da primeira temporada de Dietland, da AMC, intitulado "Pilot" e "Tender Belly".
Afinal, o que há de tão especial assim?
Poderia citar uma série de motivos que me fizeram assistir Dietland. Seja pela temática; a oportunidade de ver Julianna Margulies ou até mesmo o fato de termos uma protagonista fora dos padrões. Entretanto, pensando mais sobre o que me atraiu de imediato, tenho que confessar foi uma única pessoa: Marti Noxon. Uma produtora e roteirista simplesmente sensacional, responsável por produções divertidas, porém ácidas e assustadoramente pontuais, como UnReal, Buffy, Girlfriend’s Guide To Divorce e provavelmente Sharp Objects. O que todos esses títulos têm em comum? Mulheres fortes, relacionáveis e representativas. Será mesmo que Dietland seria um ponto fora da curva?
Baseado no best seller homônimo de Shari Walker, Dietland conta história de Plum. Uma mulher nos seus trinta e poucos anos que trabalho como escritora fantasma, ou melhor, escritora de emails fantasma para Kitty, editora de moda de uma das revistas femininas mais lidas do país. O problema é que durante as ansiedades, descobertas e aflições da vida moderna, um grande números de homens são assassinados pelo país. O que eles têm em comum? Um passado manchado por denúncias, acusações e até mesmo condenações judiciais por assédio ou abuso sexual.
Realidade? Onde?
A sinopse pode parecer ridícula para uma série que pretende ser levada à sério. No entanto, para todos àqueles que já assistiram a Season Premiere (composta pelo piloto e o segundo episódio, Tender Belly), sabe que o tom do roteiro evita ceder a própria imaginação, como também se afasta o máximo possível da realidade. Essa linha tênue observada até o momento ajuda o drama a apresentar sua proposta e deixar o telespectador interessado. O telespectador não precisa ser lembrado do #MeToo que paira sobre as principais indústrias americanas, ao assistir o episódio ele sabe que tanto a história quanto suas personagens são uma representação precisa do que acompanhamos diariamente.
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Mesmo que tenha introduzido a tal gangue de “anti-predadores sexuais”, os dois primeiros episódios focam no tema que talvez seja o principal objetivo de Dietland: a opressão constante que as mulheres sofrem para que sejam enquadradas no perfil (ou na medida) ideal. E é isso que torna Plum tão relacionável. Por mais que o telespectador seja homem ou uma mulher magra, é improvável que ele (a) não consiga se sentir como a nossa protagonista em situações cotidianas. Seja uma simples caminhada pela cidade até os olhares dentro do elevador.
Tudo no seu tempo…
Com um arsenal de mensagens interessantes e propostas ousadas, a série não está preocupada em dar ao telespectador tudo o que ele deseja. Na verdade, ela sequer demonstra preocupação com tempo. Em Tender Belly temos a oportunidade de assistir algo raro hoje em dia. Vimos um longo diálogo entre Plum e a autora Verena Baptist, momento que proporciona grande clareza acerca das angústias da protagonista, mas que também expõe o quão confortável o roteiro está em deixar as reviravoltas e o ritmo frenético de lado em detrimento de um desenvolvimento tranquilo, mas sem perder a força.
Esse equilíbrio faz com que tenhamos ainda mais interesse em saber o que acontecerá em seguida. Vejamos Kitty, por exemplo. Ainda não sabemos se ela será a grande vilã ou se tal postura é resultado de uma juventude repleta de abusos. E se a série nem tiver um vilão? E se todos forem vítimas das suas próprias histórias?
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O que pode-se afirmar é que essa não é uma produção você identifica, a partir de maniqueísmo ultrapassados, quem é bom e quem é mal. Sequer vejo este como o objetivo principal. O que Dietland nos traz é um convite à rebelião contra o sistema, os padrões e às opressões diárias. Resta saber se vamos aceita-lo, ou não.