Crítica: Fim da 2ª temporada de Westworld questiona o livre arbítrio de humanos e hosts
Review do décimo episódio da segunda temporada de Westworld, season finale, da HBO, intitulado "The Passenger".
Quem diria que esse final seria a prova de que não são os hosts que não podem ser humanos. Mas os humanos que são simples demais para serem hosts.
Caros leitores. Primeiro, deixo claro que, assim como vocês, também tive dúvidas em muitas coisas. Histórias foram encerradas. Outras foram abertas. Tudo em uma sincronia de tirar o chapéu. Todos os núcleos participaram da narrativa final para nos entregar surpresas que explicaram o porquê de vermos tantas linhas temporais diferentes em um dado momento da série e depois a coisa ser contada de forma tão linear.
Começamos com o esperado encontro entre Dolores e o Homem de Preto. Esperava uma tensão muito maior para o momento, mas vimos ali que os interesses de Dolores se sobressaem sobre qualquer raiva ou mágoa que tenha do personagem. Isso ficou muito claro. O confronto final, onde ele ficou com sua mão mutilada, mostrou a força da personagem e como ela estava destinada a chegar e cumprir seu objetivo, que até aquele ponto, não estava muito claro.
Porém, chegamos, não é? Descobrimos mais de “A Forja” e a justificativa de vermos Logan no trailer deste episódio.
“A maioria dos estados mentais é a loucura, Dolores” – Bernard
Ao ingressar a fundo no sistema, que a propósito, “é o Logan”, Bernard e Dolores encontram respostas através de memórias do James Delos. Sua primeira visita ao parque, assim que o comprou, e também as incontáveis tentativas de reconstrução do seu eu através de um host. Ele realmente foi perdendo o juízo pouco a pouco. Mas é ali, em meio a estes pontos, onde a história central de “The Passenger” é melhor contada.
Não existe, ao que parece, o livre arbítrio. O último diálogo do Delos com o Logan deixa claro isso. “Um milhão de caminhos diferentes o fizeram ter o mesmo comportamento e chegarmos a essa cena”. Que pesado foi esse momento! Senti muita pena do Logan ali. Não que ele tenha sido grande coisa, mas cara, essa antipatia do pai não é fácil de engolir.
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Por fim, A Fenda foi aberta. Em paralelo a isso, vemos Maeve despertar mais poderosa do que nunca. Foram momentos épicos ver aqueles touros avançarem e ela reinar aqueles segundos em tela. Claro que nada com efeito duradouro e, mesmo com todos seus poderes e ação, ela não foi poupada de ter seu final feliz aniquilado pela Delos. Mais triste ainda foi ver Clementine ser usada para isso. Os roteiristas não tiveram dó de ninguém!
Mortes, mortes e mais mortes. O caos dominou mesmo Westworld!
Resumo da ópera: quase todo mundo morreu. Pois é, por essa acredito que nem os mais sanguinolentos esperavam. Só que estamos falando de Westworld, e não de Game of Thrones, ou seja, muitos voltarão na terceira temporada. Essa possibilidade foi escancarada nos minutos finais. Porém isso não fez estes momentos serem menos sofridos. As mortes da Elsie (agora foi) e do Lee, que são humanos, foram difíceis. Cada um teve uma grande evolução nesta temporada e se voltarem serão como hosts, o que acho muito difícil de acontecer.
Mas como não só de mortes se faz uma série, muitos tiveram finais felizes. É o caso daqueles que atravessaram a fenda, como Aketcha, a filha da Dolores e muitos outros, dentre os quais, por último (mas não menos importante), Teddy. Que cenas foram essas? Muita emoção, Brasil!
Hale maldita, Elsie tadinha e uma construção espetacular de fatos interligados.
Hale é a personagem ranço da série. Prepotente e acima do bem do mal, ela matou um dos rostos mais queridos. Tirar a vida da Elsie foi golpe baixo. Mas a vingança veio a cavalo e olhem, QUE VINGANÇA! Neste ponto aí, entendemos melhor o porquê de Bernard estar com suas memórias embaralhadas. Ele mesmo fez isso para que ninguém fosse capaz de entender seus planos a respeito da sobrevivência dos anfitriões.
Foi surpreendente ter a Dolores na Hale. Mais ainda do que isso, foi ver que o Ford deu linha para que tudo isso acontecesse. Eu tinha certeza de que o doutor tinha de aparecer e, mesmo sendo essa aparição uma incerteza de sua continuidade na série, ela foi mais uma vez genial.
Aliás, a dupla Bernard e Ford trabalham incrivelmente bem. Também é desse momento que sai a maior reflexão da temporada – não somos controladores da nossa própria vida. Somos meros passageiros. E não queremos aceitar isso.
E afinal de contas, William sempre foi um host?
Segundo uma das criadoras da série Lisa Joy, em entrevista ao The Hollywood Reporter, “a cena pós-créditos ocorre em algum momento após os principais eventos da finale”. Ou seja, ela quis confundir ainda mais a nossa cabeça. Mas trocando em miúdos, ter visto uma versão host do William, em um teste de fidelidade que me fez tremer até a espinha, não significa em absoluto que ele tenha sido assim desde o começo da série.
O fato também de ter sido a “filha” dele quem o recebe para falar sobre estes testes foi fantástico. O final fracassado de sua jornada pelo livre arbítrio também fracassou e, pelo visto, por mais vezes do que ele poderia contar. Tudo culminou em poucos minutos de sua presença em cena, mas que são fundamentais para entendermos qual será a abordagem da terceira temporada em relação ao personagem. Duro será ter de esperar até meados de 2020 para isso…
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O caos chegou e foi embora. O que esperar agora?
Temos em aberto o fato do parque ser reaberto ou não. Dolores, Bernard e uma terceira pessoa no corpo da Hale estão no mundo real. Os hosts mortos passarão para uma triagem para recuperação. Só que, como será que isso vai ocorrer se o berço não existe mais? E de quem foram as memórias resgatadas pela Dolores para o novo mundo? Contei cinco. Curiosos? Também estou. E muito!
Obrigado por acompanharem as reviews semanalmente aqui no Mix. Nos vemos em 2020, se Deus quiser. E lembrem-se: questionem sempre sua própria realidade!
“Demos um belo presente um ao outro. Uma escolha”