Crítica: His Dark Materials, da HBO, decepciona com roteiro confuso

His Dark Materials, da HBO, é superprodução que capricha no visual, mas tropeça em um roteiro confuso, que carece de explicações e personagens envolventes.

Poster de His Dark Materials
Imagem: HBO

Saga literária de sucesso ganha releitura em superprodução da HBO

Alguns materiais são considerados “inadaptáveis” por alguns motivos. Antes que Peter Jackson comandasse uma obra-prima no início dos anos 2000, O Senhor dos Anéis era uma obra infilmável. Grande parte dessa dificuldade vem da complexidade da trama, firmada em densa mitologia e vasta galeria de personagens. A saga Fronteiras do Universo, His Dark Materials, está longe da magnitude da obra de Tolkien, mas os livros de Phillip Pulman guardam uma notável complexidade em suas linhas. Seja na abordagem filosófica ou imaginativa de suas situações, a série faz sucesso ao redor do mundo, mas é o perfeito exemplo de história difícil de adaptar.

Em 2007, quando adaptações de livros de fantasia e aventura pipocavam no cinema, o primeiro livro ganhava uma morna adaptação protagonizada por Nicole Kidman e Daniel Craig. A Bússola de Ouro falhou em conquistar o público, tropeçou em críticas mistas e venceu um questionável Oscar de Efeitos Visuais. Foi pouco para uma das adaptações mais aguardadas da década. As continuações foram engavetadas e o universo de Phillip Pulman parecia limitado à literatura.

Conceitos e detalhes da mitologia carecem de explicação e contexto

Eis que Fronteiras do Universo ganha mais uma chance ao chegar à televisão depois de uma década do lançamento do filme. Em um projeto ousado, His Dark Materials ganha sobrevida em uma produção caprichada, mas que sofre dos mesmos problemas da adaptação de 2007. Falta cuidado ao levar a complicada narrativa às telas, ao passo que os personagens carecem de brilho e profundidade. Assim como o longa-metragem, a nova série é um produto bonito, de visual rico, mas pouco coração.

A ideia de adaptar os livros para uma série de TV parecia a mais acertada: com mais tempo para desenvolver a histórias e os personagens, o formato seriado é o ideal para desenrolar o intrincado universo. O problema é que o episódio piloto convulsiona em uma infinidade de informações mal explicadas. Os diversos conceitos e invencionices não são detalhados com a atenção necessária. Não há tempo e espaço para se explicar o que são os daemons, o Pó ou o Magisterium e seu alcance dentro da narrativa.

Problemas devem ser corrigidos nos capítulos seguintes

Todos os estes elementos podem – e devem – ser explicados mais adiante, mas o piloto precisava deixar claro certos pontos para melhor compreensão e maior conexão entre o público e a série. Neste sentido, His Dark Materials parece voltada apenas para quem conhece o universo dos livro com profundidade, e mesmo estes espectadores poderão se encontrar perdidos durante o episódio. Com isso, a série é a típica produção que precisa de manual para ser assistida. Pois se o público precisa de conhecimento prévio acerca da trama ou tem de fazer uma pesquisa para entendê-la, algo está errado no processo.

His Dark Materials, contudo, não é um desastre. Pelo contrário: trata-se de uma série suficientemente interessante, que garante o retorno da audiência para episódios seguintes. Além disso, o elenco é ótimo, começando por Ruth Wilson, passando por James McAvoy e terminando, claro, na pequena protagonista, que segura a pressão de carregar o programa. Todos os atores estão bem, mas não conseguem ultrapassar as limitações de seus personagens, pouco convidativos e desenvolvidos. A esperança é que, com o tempo, os rostos e nomes se tornem próximos do público e minimamente simpáticos.

His Dark Materials acaba sendo uma das séries mais bonitas da atualidade

Para completar, o show é um dos mais belos dos últimos anos. Os efeitos visuais são absolutamente deslumbrantes, com destaque para os daemons, pequenos animais que aparecem em quase todas as cenas e jamais soam artificiais demais. Não é exagero apontar, inclusive, que os efeitos vistos aqui são ainda mais impressionantes que os do filme e certamente estão entre os melhores da televisão atual. Vale elogiar, também, a caprichada direção de arte, que dá vida aos livros de forma fiel e vibrante. O mesmo vale para os figurinos, que servem não só como belos elementos visuais, mas como ferramentas para se contar a história e revelar um pouco sobre cada personagem.

Muito da potência visual, vale salientar, vem da direção de Tom Hooper, experiente cineasta por trás de O Discurso do Rei e do pomposo Les Miserables. Aqui, o diretor exerce os seus já consolidados vícios de estilo e cria boas sequências de ação e uma abordagem única e pouco vista em produções televisivas. Ainda assim, seu trabalho é levemente prejudicado pelo roteiro confuso e inchado.

His Dark Materials chega no Brasil pela HBO, sendo uma das grandes apostas do canal. Assim como Watchmen, Materials deve achar respaldo entre os fãs do material original, mas pode sofrer para encontrar novos adeptos. No fim, torcemos apenas que este tenha sido um começo morno para uma excitante aventura.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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