Crítica: His Dark Materials, série da HBO, nos convida a explorar as Fronteiras do Universo

Crítica dos primeiros episódios de His Dark Materials: Fronteiras do Universo. Série é exibida mundialmente pelo canal HBO.

Imagem do episódio de His Dark Materials
Imagem: HBO/Divulgação.

Uma jornada de Fantasia

His Dark Materials, uma produção resultado da parceria da HBO com a BBC One, chegou prometendo grande impacto ao espectador, principalmente por flertar com conceitos de fantasia bem complexos.

Sendo uma adaptação da trilogia de Philip Pullman (publicada no Brasil como “Fronteiras do Universo”), a série foi anunciada no final de 2015 e conta com grandes nomes no elenco, como James McAvoy, Lin-Manuel Miranda e Ruth Wilson, com um orçamento na casa dos US$ 50 milhões.

Um pouco de contexto

A trilogia de Pullman já havia experienciado uma tentativa anterior de adaptação, nesse caso para os cinemas. Dirigida por Chris Weitz e contando com nomes como Daniel Craig (como Lorde Asriel), Eva Green (como Serafina Pekkala), Nicole Kidman (como Marisa Coulter), Sam Elliot (como Lee Scoresby) e até mesmo Freddie Highmore (que emprestou sua voz para o daemon de Lyra, Pantalaimon), a versão trouxe esse universo ao cinema de maneira bela, mas com algumas falhas consideráveis, algo que acabam por não ser inteiramente corrigido nessa nova versão.

Obviamente, a obra original traz questões interessantes. De fato, depois de ver os dois primeiros episódios e de muito perturbar um colega da Redação do Mix de Séries, eu acabei por ler o primeiro dos livros (intitulado “A Bússola de Ouro”) para tentar sanar certas dúvidas.

Após a leitura, fica claro que a mitologia criada por Pullman é grande e densa, onde os elementos mágicos têm grande relevância de uma maneira não tão óbvia. O Norte, que é o destino da menina Lyra e de todos que ela angaria para sua causa ao longo do trajeto é em si cercado de mistérios, que são amplificados por todo o tom trazido pelos gípcios. Bruxas, ursos falantes que usam armadura e que têm “palácios” e o próprio “Pó” são questões enigmáticas.

Outras questões

Há ainda a própria noção de mundos paralelos, com a qual a série flerta muito bem – mostrando inclusive a interação de um dos agentes do Magistério com o nosso mundo. Infelizmente, a série peca, gravemente, no ritmo. Levaram quatro episódios para conseguirmos realmente começar a nos animar com as coisas depois do piloto.

Só aqui já esbarramos em um problema que vale mencionar – algo que na nossa Redação Online foi discutido também: a série, embora conte com atuações fantásticas e tenha as mesmas qualidades, esbarra nos mesmos problemas que a adaptação anterior, para o cinema, em 2007.

A maneira com que a série foi apresentada para nós é, de certa forma, muito atrativa, porém vaga. A sinopse oficial diz “Em um mundo parecido com o nosso mas habitado por bruxas, ursos guerreiros e daemons, uma valente jovem chamada Lyra (Dafne Keen) descobre um sinistro plano após seu meu melhor amigo de infância ser sequestrado por uma organização secreta.”.

Vemos esse problema, por exemplo, em todo o episódio de Lyra morando com a Sr.ª Coulter. Vale mencionar que a Sr.ª Coulter brilha muito mais quando sozinha, nas cenas de fúria. O episódio delas foi lento, e mesmo o episódio da introdução de Iorek não trouxe o ânimo necessário. Somente quando Serafina Pekkala é introduzida, junto com a trama dos Ursos é que a história caminha, e isso só acontece agora, as vésperas da finale.

Onde estamos

A ideia de que temos traçada para o final da temporada é uma que já dá prenúncios das reviravoltas. Algumas delas que os livros originalmente nos entregam mais a frente. Isso é, ao mesmo tempo, fantástico e preocupante. A série está acelerando certas tramas, o que pode acabar sendo um desperdício de alguns personagens. Por outro lado, a jornada do herói de Lyra finalmente está delimitada: retornar o alitiômetro para Asriel.

A série pontua muito bem em dois aspectos que para mim são fundamentais. A trilha sonora sabe transmitir, em vários momentos, tanto o tom de Era Vitoriana que permeia a parte da Faculdade de Jordan. Contudo, também sabe nos inserir num tom de fantástico e grandioso, perfeitos para a imensidão (e os mistérios) que encontramos no Norte.

Outro ponto extremamente positivo são as atuações, em alguns momentos simplesmente titânicas. Um pouco do CGI chega a incomodar. A cena aérea de Jordan no primeiro episódio é um exemplo disso. Mas depois, as cenas como as dos Ursos no sexto e sétimo episódios compensam isso.

Para onde vamos

No sétimo episódio, em particular, algumas coisas que merecem ser mencionadas, quase que como uma defesa em favor da série. A jovem Lyra finalmente está fazendo algo que, até aqui, a série não tinha nos mostrado. Em vários momentos anteriores, mesmo não tendo sido criada por eles, vemos Lyra agir de forma muito similar aos seus pais, Lorde Asriel e a Sr.ª Coulter. Vemos ela gritar e se enfurecer como eles, vemos ela mentir como eles e escolher o que dizer como eles.

Contudo, agora que finalmente, como Serafina nos lembrou, o destino profético da jovem parece caminhar para sua realização. Acrescentando camadas ao misticismo que eu esperava ver mais desde o início – ela parece mais dona e agente da ação. Algo que pode ser colocado quase que como um paralelo ao processo de evolução dos daemons. Uma vez que eles adquirem uma forma definitiva e param de mudar, algumas coisas passam a ser firmemente definidas. Lyra agora está caminhando para ser ela mesma, não só um reflexo das ausências.

Vemos isso muito claramente em cenas como a da conversa com o Catedrático, onde a jovem domina o diálogo quase que completamente. Vemos isso nela se renomear e adquirir para si um terceiro nome, dado por Iorek.

Assistir ou não assistir?

Simples: sim. A série demora a pegar o ritmo, e isso é inegável. Mas, ao mesmo tempo, é uma oportunidade para explorar um universo grandioso, denso – e que está ganhando uma nova trilogia de livros agora – e de fantasia e ficção. As atuações são, em vários momentos, excelentes, e o mistério sobre o pó, os propósitos nefastos do Magistério e o Norte em si são simplesmente envolventes. A atuação de Ruth Wilson é titânica em vários momentos, e há várias dualidades morais que estão presentes que merecem atenção.

Agora, aguardemos o último episódio de His Dark Materials na HBO. Até a próxima! His Dark Materials

Sobre o autor
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Richard Gonçalves

Professor de Língua e Literatura, apaixonado por quadrinhos, música e cinema. Viciado em café, bons livros, boas animações e ocasionais guilty pleasures (além de conversas sem começo, meio nem fim). De gosto extremamente duvidoso, um Reviewer ocasional aqui no Mix de Séries e Colunista no Mix de Filmes.

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