Crítica: House of the Dragon chega ao fim no topo e não decepciona

House of the Dragon chega ao fim com tom épico e sem decepcionar. Apesar de alguns tropeços, 1ª temporada é ponto alto da TV em 2022.

House of the Dragon

Fazer uma adaptação é algo extremamente delicado. Seja qual for o material original, mexer em algo já estabelecido é como dar socos em um vespeiro. Um filme baseado em um videogame famoso teve de mudar seu visual para agradar os fãs. Roteiristas precisam se explicar ou desculpar por fazer leves alterações em cânones criados há décadas. Adaptar é difícil, e House of the Dragon sabe bem disso.

Primeiro porque o universo de Game of Thrones é amplamente conhecido. Segundo porque o material base, o livro Fogo e Sangue, é mais um compilado de fofocas do que um romance propriamente dito. Desta forma, a série tem a ingrata tarefa de criar uma narrativa coerente utilizando uma obra que cobre centenas de anos em poucos parágrafos.

O resultado, apesar de alguns solavancos, é notavelmente satisfatório!

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House of the Dragon traz de volta as melhores qualidades de Game of Thrones

House of the Dragon, então, traz de volta aquela vibração que até mesmo Game of Thrones havia perdido em seus últimos capítulos. Cada episódio tem a sua catarse, o seu impacto. Poucas – ou nenhuma – séries atuais geram tanto engajamento e reações genuínas. Acompanhar A Casa do Dragão é roer as unhas, ter palpitações, xingar a TV e aguardar ansiosamente pela semana seguinte.

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Assim, depois de quase 10 semanas, House of the Dragon chega ao fim despertando curiosidade e dúvida no público. Depois de cobrir vários eventos do livro, não estava claro para onde a narrativa caminhava. No desfecho, entretanto, fica claro o objetivo do projeto. A primeira temporada é sobre antecipação, sobre o estopim da guerra.

Primeira temporada pecou no ritmo acelerado da história

Neste sentido, House of the Dragon se sai muito bem. O único defeito do primeiro ano, porém, talvez seja o caráter de resumo, algo que vem do livro. Em outras palavras, a série atropela personagens e acontecimentos para fazer a história andar.

Assim, o roteiro deu saltos temporais bruscos, que mudavam elenco e situações sem qualquer cerimônia. Logo, House of the Dragon acabou criando buracos em que nada vimos ou sabemos.

Ainda assim, a primeira temporada de House of the Dragon é empolgante e muitas vezes mais eficiente do que a primeira de Game of Thrones. Isso porque a nova série se aproveita do número reduzido de personagens e cenários. Desta forma, o roteiro pode dedicar mais tempo aos personagens principais, sem precisar pular de núcleo em núcleo para cobrir todos os rostos e tramas.

Final da temporada é empolgante e bem feito

Os dois capítulos finais, então, acertam ao focar nos dois lados da guerra. Logo, o penúltimo episódio mostra o lado dos Verdes, acompanhando Alicent, Otto, Aegon e companhia. No último, entretanto, o foco é Rhaenyra e seus aliados. Com isso, o texto estabelece as peças do tabuleiro e criam uma potente antecipação para a Dança dos Dragões.

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O desfecho, enfim, chega ao seu ápice corrigindo erros e catalisando acertos. Isso porque até mesmo a fotografia parece ter acordado a tempo, evitando a escuridão que acometeu diversas sequências da temporada.

Em The Black Queen, temos algumas das cenas mais lindas da franquia. Assim, o último capítulo faz um excelente trabalho ao equilibrar os dois lados de House of the Dragon: o drama prestes a explodir e a ação desenfreada.

Direção certeira dá tom épico ao final

Um dos grandes responsáveis pela qualidade do final é Greg Yaitanes, diretor de The Black Queen. O cineasta já foi amplamente elogiado em nossos artigos, mas havia derrapado em alguns momentos da série. Um de seus grandes tropeços aconteceu no equivocado terceiro capítulo.

Agora, na hora final, o diretor se redime e entrega a melhor direção da temporada. Yaitanes cria quadros belíssimos e sequências realmente impactantes. O cineasta, então, parece conhecer aquele universo e seus personagens, e sabe extrair todos os detalhes de cada um.

Com isso, Ryan Condal, o showrunner da série, precisa apenas achar o equilíbrio ideal na adaptação. Em entrevista recente, o roteirista já afirmou que a 2ª temporada será menos corrida, desenvolvendo seus personagens e narrativas com mais calma. A notícia é muito boa, principalmente por sabermos que Condal tem talento e pulso firme para conduzir a série.

House of the Dragon
Imagem: Divulgação.

Excelentes mudanças tornam a série mais complexa e curiosa

As mudanças no último episódio, por exemplo, são elogiáveis e realmente curiosas. E recomendamos a leitura das próximas linhas apenas se você já assistiu ao último capítulo (alerta de SPOILERS!).

A principal alteração com relação ao material original é a briga entre Aemond e Lucerys. Na série, diferente das páginas, a morte do filho de Rhaenyra é acidental.

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Essa mudança levanta dois pontos importantes que tornam a série mais complexa e interessante. Primeiro porque Aemond acaba como um personagem mais humano e a sequência menos maniqueísta. Sem querer matar Lucerys – e parecendo realmente arrependido -, Aemond torna-se mais interessante justamente por não ser um vilão raso.

Outro ponto importante criado pela alteração é o perigo representado pelos dragões. O que se vê no confronto são dois monstros que param de respeitar e seguir seus mestres. Os dragões ignoram os comandos de seus donos e se atacam por vontade própria.

Essa imprevisibilidade dos dragões torna a Dança ainda mais curiosa e perigosa, afinal, a guerra se alicerçará em animais perigosíssimos e incontroláveis.

No choque, enfim, House of the Dragon nos deixa roendo unhas, gritando com a TV, pedindo por mais!

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.