Crítica: House of the Dragon é a cara de Game of Thrones, para o bem e para o mal

House of the Dragon estreia mais parecida com Game of Thrones do que o esperado e isso pode ser bom ou ruim, dependendo de quem assiste.

House of the Dragon

É curioso que House of the Dragon tenha estreado na mesma semana que Better Call Saul acabou. O spin-off de Game of Thrones vê a luz do dia, enquanto outro spin-off, o de Breaking Bad, dá seu último respiro. E é vital apontar que a nova série da Casa Targaryen inicia de modo semelhante ao derivado focado no advogado Saul Goodman.

Temos, em ambos os projetos, uma equipe afiada que conhece o produto de início ao fim. Com isso, temos roteiristas, diretores e produtores que sabem exatamente o que funciona e o que não funciona nestes universos. Não é à toa, então, que tanto Saul quanto Dragon pareçam mais lentas que as obras originais.

Isso acontece porque a estrada já foi percorrida, glórias foram colidas e problemas enfrentados. Com Game of Thrones, em particular, uma das maiores críticas diz respeito à pressa com a qual personagens e narrativas foram finalizadas. Primando pelo impacto visual e pela catarse fácil, Game of Thrones muitas vezes adotou atalhos que enfraqueceram seus últimos episódios.

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Cientes disso, os responsáveis por House of the Dragon apelam a um ritmo mais lento e a um escopo mais contido. Não que a série não seja épica, mas o roteiro parece muito mais calmo e focado.

Imagem: Divulgação.

Roteiro objetivo promete série mais fácil de acompanhar

Para se ter uma ideia, o primeiro capítulo de House of the Dragon se passa quase que inteiramente em King’s Landing. Enquanto o programa original pulava de cenário em cenário (a abertura vinha abarrotada de lugares), o spin-off até visita ambientes distintos, mas todos na mesmo lugar.

Assim, não precisamos nos preocupar em decorar novas locações ou informações novas. Além dos personagens semidesconhecidos, não há nada aqui que já não tenhamos visto ou ouvido falar. Desta forma, acompanhar A Casa do Dragão é muito mais fácil do que Game of Thrones.

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Isso se dá, em grande parte, também, devido à objetividade do roteiro. O piloto não demora a estabelecer alguns pontos necessários, investindo, inclusive, em uma narração em off e um card de informações. Desta forma, em poucos minutos, House of the Dragon já estabeleceu o que aconteceu anos antes da história principal.

Logo, mergulhamos nas problemáticas atuais sem nos preocuparmos com dúvidas passadas. Basta saber, entretanto, que o Trono de Ferro e seus ocupantes sempre rendem um bocado de intrigas e indignações. Com isso, a trama começa em relativos tempos de paz, mas sabemos que tal tranquilidade não deve durar.

Imagem: Divulgação.

Assim como em Game of Thrones, elenco é a maior força de House of the Dragon

O primeiro episódio, então, serve para estabelecer as peças do tabuleiro, e o roteiro faz isso de forma brilhante. Ainda que seja expositivo em alguns pontos, o texto insere algumas informações importantes sobre os personagens e suas situações. Viserys, por exemplo, enfrenta algum problema desconhecido de saúde. Daemon, por sua vez, tem o temperamento bem desenhado, enquanto Otto, a Mão do Rei, surge como a personificação da ambição traiçoeira.

Rhaenyra, por outro lado, tem pouco espaço para brilhar, sendo ofuscada pelos demais personagens. Isso é compreensível, entretanto, se considerarmos que, no futuro, ela será protagonista absoluta da série.

Neste ponto, é válido tecer elogios ao elenco da série. Paddy Considine, por exemplo, encarna Viserys como um sujeito complexo e um tanto perdido. É um rei visivelmente influenciável, mas que quer – e precisa – se impor. Neste sentido, torna-se um dos personagens mais interessantes, já que não sabemos com certeza se é um rei bondoso ou alguém prestes a explodir.

Rhys Ifans, por sua vez, conhecido por papeis extravagantes, rouba a cena como Otto Hightower, um típico estrategista de Westeros que, pelas beiradas, consome o que vê pela frente. Já Matt Smith interpreta aquele que talvez seja o papel mais complicado de todos: Daemon Targaryen. Intempestivo, é um personagem que pode facilmente cair na vilania barata, soando mais como caricatura do que ameaça.

Imagem: Divulgação.

Semelhança com Game of Thrones pode ser trunfo ou derrocada da série

No fim, a força de House of the Dragon pode ser sua maior fraqueza. Em linhas gerais, a série derivada é praticamente a mesma coisa que Game of Thrones. Enquanto Better Call Saul claramente existia no mesmo universo de Breaking Bad, o spin-off tinha sua própria linguagem visual e narrativa.

House of the Dragon, entretanto, é o mais próximo de GoT que se podia esperar. Não há nenhuma mudança significativa: o diretor de fotografia é o mesmo, assim como o compositor e demais artistas. Por um lado isso é ótimo, pois jamais duvidamos da força ou alcance de A Casa do Dragão. Em outras palavras, o derivado está em pé de igualdade com o original e não é um produto menor.

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Por outra perspectiva, House of the Dragon pode decepcionar aqueles que buscam justamente um olhar diferenciado sobre os nomes, lugares e tramas. Quem espera algo novo, provavelmente vai torcer o nariz ao receber mais do mesmo. Isso porque nem o ritmo mais lento é algo inédito. Game of Thrones, principalmente em suas primeiras temporadas, investia em uma escala mais contida e um desenvolvimento mais cadenciado.

Desta forma, não chega a surpreender que as Crônicas de Gelo e Fogo sejam citadas diretamente no piloto. House of the Dragon quer – e muito – se aproximar de GoT.

House of the Dragon
Imagem: Divulgação.

Escala promete seguir aumentando e surpreendendo

Dirigida por Miguel Sapochnik, responsável por alguns dos melhores episódios de GoT, a estreia de House of the Dragon capricha nos efeitos visuais. Além disso, o controle de câmera e a escala épica parecem intocáveis. Isso deve continuar e crescer, já que o diretor comanda mais dois capítulos, enquanto Greg Yaitanes dirige três.

Para quem não conhece, Yaitanes é um dos mais talentosos diretores de TV dos últimos anos e é conhecido por comandar grandes séries e episódios de ação. Assim, é possível aguardar por sequências grandiosas e impactantes.

Investindo na violência e na nudez como era hábito em Game of Thrones, House of the Dragon promete alçar voos mais altos nos próximos episódios, principalmente quando ocorrer um salto no tempo. Dependendo do público, a série deve ter vida longa, já que o hype em torno do projeto da HBO é gigantesco. É preciso, entretanto, dosar as expectativas e separar os monstros: Dragon é uma coisa e Thrones é outra, ainda que, na superfície, pareçam exatamente a mesma coisa.

Nota: 4/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.