Crítica: Mestres do Ar voa abaixo do esperado, mas agrada

Mestres do Ar continua saga de guerra iniciada por Band of Brothers. Desta vez, conflito aéreo é explorado em escala épica.

Mestres do Ar
Imagem: Divulgação.

Quando “Band of Brothers” estreou na HBO em 2001, dois dias antes da 11 de setembro, ela não esperava mudar a televisão. Tão pouco suspeitava que encontraria o mundo mudado uma semana depois, poucos dias após o atentado. O fato de estar em exibição durante o período mais conturbado dos Estados Unidos e ainda assim fazer sucesso só demonstra a força e a qualidade da minissérie.

Uma década depois, “O Pacífico” chegou para ser uma espécie de “série-irmã”, como se num universo compartilhado. A nova investida trocava a paleta dessaturada do programa original por uma fotografia mais clara. O cenário também mudou. Saem os países cinzentos da Europa e entram as praias e ilhas ensolaradas do Pacífico.

Mais de outra década se passa e, agora, um terceiro elo da corrente chega às telas do mundo todo. Os atentados de 11 de setembro já têm mais de 20 anos. A televisão agora se divide com o streaming e o público está mudado. “Mestres do Ar” tenta acompanhar essas mudanças e entender o que o público gostar e quer e como a guerra é vista pela audiência.

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Se “Band of Brothers” acompanhava os paraquedistas e a guerra por terra, “O Pacífico” focou no conflito do oceano e das ilhas. Já “Mestres do Ar” almeja tocar em outro ponto crucial: a batalha nos ares. Com isso, a nova minissérie já assume novos e homéricos riscos. Para começar, a nova aventura se passa, em grande parte, dentro de aviões. Em espaços limitados e metálicos, com pouca ou nenhuma logística.

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Além disso, por focar no conflito aéreo, “Mestres do Ar” requer uma quantidade acachapante de efeitos visuais. Se as minisséries anteriores utilizavam a computação gráfica para preencher algumas lacunas, “Mestres” utiliza o CGI quase que para existir. Há tomadas inteiras feitas por computador, o que acaba sendo um dos seus maiores problemas.

“Band of Brothers”, por exemplo, estava a frente do seu tempo. Foi uma das primeiras séries de TV a utilizar o formato mais retangular, como o de cinema. Assim, o show deixou de lado aquele formato de tela quadrado, típico dos programas televisivos. A fotografia, além disso, bebia nas fontes de “O Resgate do Soldado Ryan”, de 1998, o que dava um ar ainda mais cinematográfico ao projeto.

É por isso que hoje, quase 25 anos depois, a série parece ter sido feita ontem. É por este motivo, também, que “Band of Brothers” parece ainda mais bem feita que a própria “Mestres do Ar”. Não é à toa, portanto, que os momentos mais datados de “Band”, hoje, são seus efeitos visuais, que aqui e ali não funcionam. Como estes eram usado com parcimônia, contudo, a experiência se mantém intacta.

Minissérie se mostra muito dependente da tecnologia

Logo, “Mestres do Ar” preocupa justamente por depender tanto do CGI. No 2º episódio, por exemplo, estamos mergulhados em uma sequência de ação espetacular. Os soldados estão sendo atacados em pleno ar e precisam lutar contra explosões, frio, peças avariadas e desorientação geográfica.

É um momento de suspense notável, bem dirigido e editado. O espectador, porém, é retirado da experiência ao ser jogado em cenas completamente artificiais. A crença é perdida e a excitação de momentos atrás vira um muxoxo. É claro que diversos efeitos funcionam e são excelentes, mas quando eles caem por terra, o tropeço é perceptível.

Felizmente, contudo, “Mestres do Ar”, assim como suas companhias anteriores, dão um grande desenvolvimento aos seus personagens. Embora o excesso de rostos e nomes possa confundir no início, aos poucos vamos conhecendo e entendendo as principais figuras da história. É importante, então, que os dois primeiros episódios tenham sido lançados simultaneamente. E é recomendado, enfim, que eles sejam assistidos juntos ou próximos um do outro.

Afinal, a experiência só faz sentido com os episódios juntos. Há citações, informações e cenas que farão sentido apenas com os capítulos assistidos em conjunto. Além disso, o arco narrativo geral só se completa e se mostra satisfatório desta forma. Ao assistir apenas a primeira parte, temos a sensação de incompletude.

É um novo sinal dos tempos, enfim, que a minissérie estreie na Apple TV+ e não mais na HBO. O streaming tem tomado conta da indústria, e a Apple tem investido pesado para se tornar um agente ativo deste mercado. “Mestres do Ar” não tem o brilho de “Band of Brothers”, tampouco o carisma de um personagem como Winters. Ainda assim, é uma boa e tecnicamente caprichada história de guerra.

Nota: 3,5/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.