Crítica: Netflix reinventa o clássico Carmen Sandiego de forma excelente

Crítica da primeira temporada de Carmen Sandiego, série animada original da Netflix.

Imagem: Netflix/Divulgação
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Carmen San Diego está de volta na Netflix!

A Netflix fez mais uma vez. Num mês em que o serviço de streaming já nos entregou excelentes surpresas – sejam produções originais ou distribuídas – como Sex Education e Titans, além de ter trazido capítulos finais para Desventuras em Série e impactantes produções como Bird Box, Bandersnatch e You, agora eles seguiram numa seara que já foi explorada com sucesso pela emissora: reinventar franquias.

Dois exemplos do sucesso dessa prática são favoritos pessoais: Gilmore Girls: A Year in the Life e O Mundo Sombrio de Sabrina. Tais séries deram o tom de expectativa para esse resgate de uma queridinha dos anos 90. Novamente, a Netflix foi bem-sucedida e conseguiu reinventar e atualizar o personagem para fazer toda uma nova geração se deparar com a pergunta: “Quem é Carmen Sandiego?”.

Precisamos nos perguntar: Quem é Carmen Sandiego?

Imagem: Netflix/Divulgação

Assim como acontece durante vários dos episódios, essa pergunta fica conosco até o fim da temporada. Além disso, nos impulsiona a querer mais episódios assim que acaba. Descobrir quem ela é torna-se parte da agitação da série, junto com todos os outros mistérios.

Vemos a caracterização icônica da personagem ser construída em detalhes com uma sutileza nova. Assim, temos algo que só uma animação, por sua plasticidade, conseguiria: usar o flashback como uma ferramenta narrativa. Ainda, é usada para construir a personagem, suas nuances e características nos seus três primeiros episódios, quase sem perda, já que o horizonte de expectativa se ajusta a falta de limites que só a boa animação traz.

Antes que os mais saudosistas possam se queixar, essa mudança do conceito de “onde” está para “quem” é Carmen Sandiego é mais do que só uma boa nuance. Tal fato se torna uma deliciosa surpresa. Tanto para quem já conhecia como para quem está conhecendo agora. Isso torna a personagem perfeita para o público-alvo e para o grande público. Uma excelente maneira de mostrar a essência da personagem em seu objetivo educacional original.

Construindo uma imagem icônica

A animação fez algo que é sempre ousado. Tentar reinventar algo que já tinha uma carga de humor, drama e diversão em si. A produção da Netflix é extremamente bem-sucedida aqui, dos pequenos aos grandes detalhes.

Começando pela duração e quantidade de episódios. É uma série rápida, agradável e, em nove episódios, ideal. Nos permite tanto maratonar de uma só vez quanto aproveitar os episódios um a um. O ritmo compassado permite ao espectador se familiarizar facilmente com a personagem, a trama e os detalhes dela sem requerer esforço, mas sem fazê-lo de maneira desleixada.

A beleza sutil com que a infância dela e como ela teria chegado a V.I.L.E é apresentada mostra a delicadeza que só uma animação poderia fazer. Além disso, nos guia numa viajem de trem pelas referências às babás e ao crescer dela, até mesmo a escolha do visual e claro, a arrogância cômica do Agente Devineaux, que se torna um excelente alívio cômico com todo o nonsense possível.

Rapidamente nos familiarizamos também com Zack, Ivy e a ACME, diretas referências a “Where on Earth is Carmen Sandiego?”, embora aqui as coisas aconteçam de maneira diferente. Essa reinvenção deles vem acompanhada de um universo de possibilidades delicioso. Afinal, a série manteve o tom educacional – o globo sendo um bom link com o jogo que deu origem à personagem.

Uma nova Carmen para um novo mundo

Rapidamente descobrimos o que precisávamos saber para seguir a série. Com uma mistura de ação, drama, suspense e humor, nós conseguimos ver toda a jornada dessa nova Carmen, que começa na sua “família” de vilões, para descobrir sua identidade.

Essa proposta casa perfeitamente com Gina Rodriguez – que magistralmente dá vida a voz dessa que já foi interpretada por Rita Romero – que não só traz representatividade para o papel, mas reforçou a importância do personagem a USA Today: “I grew up with Carmen Sandiego – and we knew nothing about her, […] And then the fact that she’s brown-skinned. On the animation! It makes my heart glow.”.

A atriz diz ainda que a série “procura introduzir as crianças (público-alvo) a diferentes pessoas, lugares e culturas ao redor do mundo”. Nós vemos isso ser feito com maestria. De Casablanca às névoas de São Francisco, essa Carmen Sandiego aos poucos se liberta das amarras da V.I.L.E para construir sua identidade.

Mesmo assim, os elementos dos videogames não são deixados de lado. Não só pela maravilha que é Player – uma referência a todos nós, players, que vivemos aventuras com os agentes procurando por ela através do mundo. Mas até mesmo na estruturação das missões, que não permite a série perder o fôlego e deixando sempre um gancho da história principal, sem prejudicar o corte capitular de cada episódio.

Um veredito

A série animada é embalada numa nostalgia que vai da personagem à animação, que bebe (e nos faz lembrar) diretamente de outros tesouros com cara de infância. Carmen Sandiego é uma perfeita aposta da Netflix para um público infantil que acaba por acertar todos nós de maneira muito positiva.

Imagem: Netflix/Divulgação

Essa  Carmen meio “Robin Hood”, com o perfeito tom para uma modernidade. Uma genuína Le Femme Rouge que trouxe o efeito Carmen Sandiego – que rendeu até um site interativo – para uma nova geração. A série fala da realidade com a liberdade que só uma animação de qualidade poderia fazer. Assim como no mundo, as coisas nem sempre dão certo para Carmen, mas as ela sempre encontra um caminho.

Então, resta saber quais surpresas a história ainda tem para nos entregar. Afinal, como a própria Carmen nos disse, deve ter mais história, precisa ter. Até porque, sabemos o que vimos até aqui, mas continuamos a nos perguntar: Quem é Carmen Sandiego? E não sei vocês, mas eu quero muito descobrir.

Sobre o autor
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Richard Gonçalves

Professor de Língua e Literatura, apaixonado por quadrinhos, música e cinema. Viciado em café, bons livros, boas animações e ocasionais guilty pleasures (além de conversas sem começo, meio nem fim). De gosto extremamente duvidoso, um Reviewer ocasional aqui no Mix de Séries e Colunista no Mix de Filmes.

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