Crítica: New Amsterdam emociona com estreia da 3ª temporada

Crítica do primeiro episódio da terceira temporada de New Amsterdam, intitulado "The New Normal", exibido nos Estados Unidos pela NBC.

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New Amsterdam retornou para emocionar

Finalmente, tivemos o retorno de New Amsterdam. Similar a várias outras produções, a série sofreu uma mudança de calendário devido à pandemia e só agora voltou para sua terceira temporada. E, como não podia deixar de ser, retornou falando sobre o momento crítico que o mundo vive.

Além disso, o episódio “O Novo Normal” abriu caminho para pensar o mundo após a pandemia, com o olhar crítico e sensível característico de New Amsterdam.

“What a wonderful world”

A primeira cena de “O Novo Normal” é, sem dúvidas, para encher nossos olhos de lágrimas. Lágrimas de dor, tristeza e perda, frutos de uma pandemia que já nos tirou tanto. E é sobre isso que trata essa cena. Na verdade, esse episódio inteiro.

Uma longa sequência entoada pela clássica canção “What a wonderful world”, cantada nesta primeira versão por Jon Batiste. A cena, aliás, traz um resumo bastante sensível dos esforços de profissionais de saúde durante a pandemia.

O cuidado com os doentes, as marcas nos rostos pelo uso dos equipamentos de proteção… Além disso, as perdas dos pacientes, a distância das pessoas queridas… A demonstração visual da sobrecarga física e emocional de quem lida com a situação cotidianamente, no lado mais duro e doloroso da pandemia.

Como se toda essa sequência não fosse, por si, emocionante o suficiente, ainda vimos Vijay Kapoor adoecer pelo vírus. E, da mesma forma, ser intubado.

De fato, uma quantidade imensa de profissionais tem adoecido e morrido pela doença causada por esse vírus. A escolha do roteiro de que um dos personagens principais passe por isso, portanto, é acertada. E isso não significa somente em termos narrativos, mas também faz jus ao momento que vivemos.

Imagem: Divulgação

“Bem-vindo ao novo normal”

Essa poderosa sequência de abertura teve, também, como propósito indicar que a série não lidará com a pandemia. Mas sim, com um – tão desejado – período posterior a ela.

Essa escolha é acertada, primeiramente, porque centrar a temporada inteira na pandemia seria um desafio narrativo. Repercutir em roteiro um processo que ainda está em curso pode causar incoerências. Bem como desviar a série de sua “essência narrativa”.

Porém, New Amsterdam não falará de um “novo normal” sem pensar na pandemia. Nos seus efeitos sobre todo o mundo e, especificamente, seus personagens. Por isso, todo o episódio lida, de maneira ótima, com os efeitos dessa nova realidade nos personagens. Mas sem abandonar questões importantes das temporadas anteriores.

Como mote para isso, temos um grande evento. Um avião cai entre os prédios de Manhattan, no meio do rio, enchendo o hospital com passageiros e tripulação. Igualmente, emulando o sentimento de crise vivido durante a “passada” pandemia.

Mais especificamente, o mistério do episódio envolve a causa da queda ou pouso forçado do avião, com a potencial culpa do piloto.

“Sinto falta da pandemia”

Ao longo do gerenciamento dessa nova crise, “O Novo Normal” nos apresenta diferentes marcas deixadas pela pandemia nos personagens de New Amsterdam. De saída, temos uma Helen Sharpe lidando com os estranhamentos da vida pós-pandêmica. O medo da intimidade, o pânico de infecções (visível no esforço além do comum para lavar as mãos), o estresse pós-traumático. Sharpe é uma das faces dos efeitos da pandemia sobre todos nós. Sobretudo, aqueles que lidam com ela em hospitais e serviços de saúde.

Lauren Bloom, por sua vez, traz outra face desses impactos. O episódio mostra, gradativamente, o incômodo da chefe da emergência com o fato de ter menos controle sobre os pacientes após transferência para uma especialidade. A princípio, o problema parece ser uma tensão entre generalista/socorrista e especialista (algo bem comum no campo médico). Entretanto, um diálogo entre Bloom e o enfermeiro Acosta mostra que a situação é mais profunda. Trata-se do sentimento de utilidade. A sensação da profissional de que estava salvando vidas.

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Imagem: Divulgação

Como sempre, temas envolvendo Bloom são polêmicos. E este poderia apontar para um certo egocentrismo da personagem.

Porém, acho que expressa mais esse dilema enfrentado por profissionais de saúde, chamados de “heróis” em discursos sobre a pandemia, mas lidando com diferentes formas de desvalorização cotidiana. Daí o peso da frase de Bloom: “sinto falta da pandemia”. A meu ver, esse é outro impacto psicológico da pandemia sobre profissionais da área, desvalorizados na prática e idolatrados de forma vazia no discurso.

História envolvente

Além disso, temos Iggy Frome lidando com o piloto do avião. Uma pessoa bipolar que esconde seu diagnóstico das agências reguladoras e da empresa por medo dos estigmas e da impossibilidade de trabalhar.

Os diálogos entre Frome e o piloto são bastante interessantes, principalmente, o esforço do médico em mostrar para seu paciente que a condição bipolar não o resume (ele não necessariamente estava querendo se matar). Uma abordagem característica da série.

“Eu não quero mais consertar o sistema, eu quero destruí-lo”

Finalmente, o episódio mostra o esforço imparável de Max Goodwin tentando conseguir Propofol. Este, um anestésico para o hospital. Tudo isso, com o objetivo de tirar Kapoor do respirador.

A trama, aparentemente mais fechada em ajudar o colega e amigo, logo revela o problema estrutural do abastecimento de medicamentos e insumos hospitalares nos Estados Unidos.

Em uma série de conversas com colegas de outros hospitais, Max observa limitações do sistema de saúde americano. E não somente causadas pela pandemia. A solução criativa – em termos narrativos e visuais – de colocar todas as diretorias em cooperação por chamada telefônica, aponta para o objetivo do personagem na temporada. Ele não quer mais melhorar o sistema [de saúde], ele quer destruí-lo, e construir algo novo.

De forma simples, com chamadas telefônicas, New Amsterdam mostra o princípio do funcionamento em rede de instituições de saúde. Uma estrutura existente em muitos países, inclusive no Brasil.

“Como posso ajudar?”

No fim do episódio, sabemos que Kapoor está em uma condição extremamente delicada. E que nem mesmo o melhor cirurgião cardíaco do mundo traria tantas garantias. É nessa hora que Max liga para Floyd Reynolds, em uma cena que poderia facilmente ser brega. Mas que consegue emocionar também.

Em suma, o retorno de New Amsterdam foi primoroso. Ela trouxe o contexto complexo que vivemos e, ao mesmo tempo, fez uma prospecção do futuro. Além disso, conseguiu manter a essência da série.

O final de “O Novo Normal” indica que a temporada promete muitas emoções. E estaremos aqui para acompanhar todas elas.

Em tempo…

Todos nós queríamos que a realidade do episódio, o pós-pandemia, fosse a nossa. Mas a pandemia de C 0 v i d 19 não acabou. Na verdade, no Brasil, vivemos o pior momento, com quase 2000 mortes (notificadas) por dia e quase 300 mil mortes no total. Da mesma forma, é preciso que haja vacinação, distanciamento social e uso de máscaras. Só assim evitaremos mais perdas e poderemos, em algum momento, viver o também difícil pós-pandemia.

Toda solidariedade às/aos profissionais de saúde. Sem vocês, tudo isso seria muito pior.

– Informe-se:

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Sobre o autor
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Luiz Alves

Historiador, pesquisador em saúde, fã de histórias em quadrinhos e jogador de RPG de longa data. Adoro sitcoms de Seinfeld a Brooklyn Nine-Nine, cresci vendo dramas como House, e me apaixonei pelo suspense de Hannibal e a fantasia de Penny Dreadful. Escrevo no Mix desde 2017, fazendo reviews de séries baseadas em quadrinhos, dramas e outras por aí. Atualmente, faço as reviews de New Amsterdam.

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