Crítica: “Nosso Planeta” aborda (des)equilíbrio da Natureza com grande esplendor
Crítica da primeira temporada da doc-série da Netflix, "Nosso Planeta".
Nosso Planeta, série documental da Netflix, nos faz refletir sobre erros da humanidade
Nosso Planeta, nova série documental da Netflix, poderia ser apenas “mais do mesmo”. Ao darmos play na maratona, pensamos que poderíamos estar vendo mais um daqueles programas do Discovery que torna-se monótono ao longo do seu percurso. Entretanto, a atração tem uma narrativa tão grandiosa que envolve, fazendo nos questionar qual é a nossa parcela de culpa em tudo de errado que acontece no lugar onde vivemos.
Um equilíbrio desequilibrado
A série tem a função de tratar justamente do equilíbrio que faz a natureza funcionar. Desde a cadeia alimentar que é respeitada pelos animais, até a adaptação de espécies aos climas que surgiram há milhares de anos, Nosso Planeta quer explicar como tudo funciona. E nada aqui é desnecessário. Com uma narrativa envolvente, entender como funciona cada um desses processos torna-se interessante e em certo ponto curioso.
E aqui entra uma característica incrível: lembra quando assistíamos a documentários antigos, em que um predador chega ameaçando sua presa, e termina a cena completando o “Círculo da Vida”? Em Nosso Planeta há esses momentos, que chegam até soar dramáticos. Entretanto, a pegada é justamente explicar que o grande predador, onipresente na narrativa, é o ser humano.
Em um dos episódios, por exemplo, Morsas caem de uma altura de oitenta metros na costa da Rússia. O motivo? O acúmulo da espécie em penhascos, uma vez que as mudanças climáticas derreteram o gelo do mar, fazendo com que a sua evolução de navegação não concluísse. O resultado são seus corpos massivos batendo numa praia rochosa. A cena choca, mas não pelo acidente si. Na trama, tudo leva a entender que há um desequilíbrio inerente acontecendo e ele é, em grande parte, por conta da degradação humana.
Documentário quer inspirar
A estratégia do documentário, em querer culpar o homem por parte do desequilíbrio natural, é incrível. Ela usa, em um primeiro momento, imagens espetaculares. Explosões de cores, tecnologia, cenários naturais e capturas extraordinárias, que transformam a TV em uma “caixa de surpresas”, como mesmo qualificou o New York Times ao comentar a produção. Esse desenvolvimento serve para conquistar o espectador, de forma que ele aprecie a natureza em seu mais espetacular formato. Uma ideia que tende a inspirar.
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Mas então, após criada essa admiração, há uma reflexão de que existem problemas delicados, necessários de discussões, e que podem estar sendo causados por um simples ato que parte de nós, seres humanos. Isso é algo que pode até lhe assustar, a medida que você entende que “A Terra está ‘ok’, mas a qualquer momento ela pode entrar em colapso“. É necessário fazer uma mudança, desses problemas simples que geramos, para não impactar de forma gigante no equilíbrio natural de nosso planeta.
Narrativa revolucionária
O mais encantador de Nosso Planeta é que a narração pode tornar-se coadjuvante em um espetáculo de encher os olhos. Cada de um de seus capítulos exploram um diferente tipo de ecossistema. Um trata do oceano, enquanto outro de geleiras, passa por florestas até chegar na água doce. Explorando criaturas, das minúsculas às mais gigantes, a cadeia natural ganha forma.
A inspiração, em pouco tempo, parece tomar forma na narrativa que se desenvolve nas capturas quase que incrédulas. Em determinados momentos, você se pergunta “como será que eles conseguiram filmar isso?” (calma, ao final da série tem um making of que lhe conta tudo). Se você colocar no mudo, nada é prejudicado. Não que a narração não seja envolvente, porque acredite é! A voz de David Attenborough, o veterano do cinema de 92 anos, é a cereja do bolo. Entretanto, as imagens falam por si só, e apreciar a natureza pelo o que ela é encantador. Observar, por exemplo, uma geleira se desintegrando na água, é hipnotizante. Exuberantes, em uma escala que é impossível de se medir, intercaladas com imagens de satélites, dados, e tudo mais que se tem direito. Cada detalhe, necessário para criar essa série envolvente.
Dessa forma, assistir ao primeiro episódio é como um “tapa na cara”. Deixa-se claro que existe o bonito, o natural, o encantador. Essas imagens, reforço, falam por si só. Mas a lição é que cada uma dessas coisas incríveis mostradas na série, atualmente, são raras. Antigamente não eram, mas hoje é. Então, prestar atenção é essencial para compreender como nós somos responsáveis. Cada capítulo aprofunda isso, mostrando da beleza ao problema, terminando com a esperança de que ainda há tempo para mudarmos.
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Qualifico como revolucionário o que eu raramente vejo na TV. Ou, que talvez nunca tenha assistido. Definitivamente, me sinto assim com Nosso Planeta. E nada é apelativo ou entregue gratuitamente. Tudo tem sua exata função, como uma engrenagem em uma fábrica, pronta para fazer a história andar com uma trama consistente e de qualidade.
Qual o próximo passo?
Como já dito, o documentário quer fazer a população refletir. Se encantar pela natureza é necessário, e talvez algo que muitas pessoas não se permitem. As imagens podem, em certa instância, fazer isso acontecer. E por mais que o cenário seja catastrófico, a natureza encontrará um meio. Um percurso a seguir. Mesmo que, para a raça humana, isso traga consequências inimagináveis.
Ao terminar os capítulos, certamente você se pega pensando. O que posso mudar? O que posso fazer para que outros também se inspirem e comecem a agir. A natureza está pronta para dar uma resposta aos maus tratos que ela recebe. Em 20, 30 ou 40 anos, as mudanças serão ainda mais notáveis. Cabe a nós essa mudança.
Desse modo, assistir Nosso Planeta poderia ser apenas um passatempo comum. Somente “mais uma série da Netflix”. Mas certamente, você se pegará olhando para a TV ao final dela, tendo uma conexão bem maior com a natureza do que quando você tinha ao iniciar a maratona.
Cabe a você, assistir, refletir e entender. É só o que a natureza pede. É só o que Nosso Planeta pede.
Além disso, completo. Todavia, palavras. Entretanto, brancas