Crítica: O Mundo Sombrio de Sabrina une aventura e terror em releitura imperdível

O Mundo Sombrio de Sabrina surpreende com bela ambientação, trama esperta e bem afiada e uma ótima atuação de Kiernan Shipka.

Imagem: Netflix/Divulgação
Imagem: Netflix/Divulgação

O Mundo de Sombrio de Sabrina está aprovada! 

O Mundo Sombrio de Sabrina é aquela séria que precisávamos, mas não sabíamos. Com bons comentários sociais, esta é uma produção que, ao ser vista, levanta o questionamento: por que levaram tanto tempo para resgatar esta personagem e seu universo? O fato é que o momento é agora e a Netflix é lugar perfeito para um show como este.

Engana-se quem pensa que a nova releitura baseia-se na divertida e nostálgica Sabrina, Aprendiz de Feiticeira. A inspiração aqui é a HQ original do selo Archie Horror (um dos braços do selo Archie que deu origem a Riverdale, por exemplo). Quase nada é aproveitada da simpática série de TV dos anos 9, o que causou espanto quando os primeiros vídeos e imagens de O Mundo Sombrio de Sabrina foram divulgados. O clima tenso e absolutamente obscuro chocou aqueles que esperavam a mesma leveza do programa antigo.

E o que se vê nos primeiros episódios da nova série é a promessa sendo cumprida. Trata-se de uma aventura voltada ao público jovem, sim, mas com forte apelo social e notável ambientação. É um show com temática e visuais pesados, densos, que investe sem medo no oculto. Não se espante ao ver cadáveres, demônios, milhares de aranhas ou personagens dando glórias a Satã. Na trama, acompanhamos Sabrina, uma jovem que, prestes a completar 16 anos, precisa decidir se abraça seu lado bruxa ou o lado humana. Um promete uma série de benefícios (o poder dos feitiços e da longevidade), enquanto o outro é igualmente irresistível (o poder da amizade e da paixão).

Série mergulha na mitologia e capricha no visual

Com isso, a série usa e abusa de sua riquíssima mitologia, utilizando conceitos já estabelecidos na HQ e no vasto folclore bruxo, além de criar novas e interessantes ideias. Neste sentido, Sabrina estabelece uma série de suposições e certezas que garantem questionamentos e uma porção de possibilidades futuras. Tudo envolto por uma bela ambientação, elevada por uma direção de arte que abraça aquele universo e cria cenários não só convidativos e bonitos, mas críveis.

Um dos grandes acertos visuais da série, por exemplo, é vagar com fluidez por períodos não estabelecidos de tempo. Em outras palavras, há certo anacronismo no programa, mesclando elementos modernos com outros antigos, algo que se estende aos figurinos: estão presentes as jaquetas jeans contemporâneas, mas também encontramos vestidos claramente sessentistas, além de adereços típicos de décadas passadas, como tiaras e meias 3×4. Tudo compõe um universo único, no limiar entre realidade e fantasia, algo que casa perfeitamente com os medos e anseios da protagonista, que encontra-se no limite entre o mundo real e o oculto.

Sabrina é uma série para os dias de hoje

Embora esteja visualmente indefinida, passeando entre épocas e estilos, O Mundo Sombrio de Sabrina sabe a que tempo pertence. Trata-se de um programa feito para os nossos dias, consciente do contexto no qual se insere. Assim, é ótimo perceber que uma das primeiras ações da Sabrina não é se vingar das colegas valentonas, mas sim criar um clube que pretende unir as meninas da escola e incentivar a luta por respeito e igualdade dentre e fora do espaço escolar. Os comentários socialmente conscientes ainda se estendem ao uso da magia: o que é certo ou errado quando se tem tanto poder nas palmas das mãos?

Mas não se preocupe: O Mundo Sombrio de Sabrina é, acima de tudo, uma aventura com boas doses de terror e bastante diversão. Essa mistura entre leveza e seriedade é carregada com surpreendente habilidade por Kiernan Shipka, protagonista indiscutível da nova versão. A atriz, ao contrário do que os pessimistas poderiam sugerir, não é o do tipo de protagonista que é ofuscada e torna-se coadjuvante na própria série. Shipka tem o magnetismo típico de uma atriz talentosa e carismática; a câmera a procura e os colegas de elenco orbitam ao seu redor. Trata-se de outro grande acerto do show. 

O maior problema de O Mundo Sombrio de Sabrina reside nos diálogos.

Realmente compreendo e aceito o uso de diálogos expositivos. Às vezes, expor informações e percepções através de diálogos é a única maneira. A questão é que há um limite entre um diálogo expositivo útil e orgânico dentro da trama e um completamente tolo e mal alocado. Em determinada cena do primeiro episódio, por exemplo, uma das tias de Sabrina fala em detalhes sobre a morte dos pais da menina. O problema é que todos os personagens na cena já sabiam como eles haviam morrido, ou seja, não havia necessidade daquele tipo de fala: primeiro pela redundância, seguido pela gravidade dos fatos.

O primeiro capítulo está recheado de diálogos expositivos, e muitos são perdoados pelo fato de que Pilotos normalmente são expositivos, já que precisam estabelecer a mitologia e os personagens da série em poucos minutos. O incômodo surge quando o espectador percebe que o diálogo está sendo dito para para ele e não para outros personagens. Este é o grande mal dos diálogos expositivos: eles podem ser notados, destacados do contexto, atrapalhando a imersão na trama.

São problemas pequenos e facilmente consertados. Assim, O Mundo Sombrio de Sabrina promete ficar e retornar por um bom tempo. Tem tudo para ser um típico sucesso da Netflix, algo que a plataforma precisa com urgência agora que algumas de suas maiores séries acabaram ou foram canceladas. Sabrina tem qualidade técnica e narrativa o suficiente para agradar e ser longeva, tal qual os bruxos e bruxas que habitam este encantador universo.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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