Crítica: “Operação Fronteira” é poderosa mistura de drama e ação com grande elenco

Operação Fronteira mescla drama com ação urgente em conto moral sobre masculinidade, caráter e capitalismo. O resultado é um dos melhores filmes originais da Netflix.

Operação Fronteira tem boas doses de ação em trama urgente e cheia de surpresas

Na esteira dos filmes brucutus, diversos clichês foram cimentados. O sucesso deste tipo de cinema, onde a força fala muito mais alto do que qualquer diálogo, se deve justamente por funcionar única e exclusivamente como diversão. A verdade é que mesmo os filmes pertencentes a este subgênero são notáveis sublinhadores do contexto no qual se encontram. Clássicos como Rambo ou Duro de Matar, ainda que pareçam servir apenas como entretenimento escapista, acabam funcionando como um interessante e muitas vezes intrincado retrato do que acontece no mundo externo. Operação Fronteira é uma espécie de releitura e adaptação do brucutu para a nossa modernidade.

É curiosa, portanto, a participação de J.C. Chandor como co-roteirista e diretor do projeto. Surgindo na última década como um dos mais promissores e cerebrais cineastas da nova geração, Chandor comandou exercícios narrativos complexos como Margin Call O Ano Mais Violento, além do introspectivo Até o Fim. Sua presença na liderança de Operação Fronteira surpreende, mas pode ser entendida assim que o longa chega ao fim. As digitais do diretor estão por toda a parte, e é possível perceber as mudanças que o projeto sofreu depois que ele assumiu o leme.

Dilemas morais levam o público a suas próprias indagações

Estão impressos a cada minuto os questionamentos morais que permeavam cada um de seus filmes anteriores. Os personagens de Operação Fronteira quebram paredes a socos e disparam suas armas sem aviso, mas também questionam suas próprias ações. Em uma análise superficial, o longa pode ser encarado como um panfleto conservador. Também, uma cápsula de ideais e costumes conservadores, como outros clássicos do cinema de ação foram classificados. Triple Frontier, contudo, critica a guerra e não faz condenações fáceis. Embora use a força, o roteiro entende e sugere que esta não é a melhor forma de lidar com as situações.

Neste ritmo, Fronteira brinca com a moralidade do próprio espectador. Dessa forma, o joga nas dúvidas que pipocam na história: como deixar milhões de dólares para trás? Como queimar dinheiro para fazer uma fogueira? São nestas brechas que Chandor encontra chances de criticar o capitalismo que tanto discute em roteiros como os de Margin Call O Ano Mais Violento. Como em toda sua filmografia, aqui se acompanham personagens em espirais de loucura, ganância e perda de dignidade.

Além do roteiro bem resolvido, Operação Fronteira ainda é um destaque técnico

Toda essa camada pensante, geralmente ausente no cinema de ação recente, ainda encontra companhia em sequência de ação belamente orquestradas e empolgantes. Não há aqui uma ação desenfreada. Entretanto, a urgência incessante de um Sicário. 

Percebemos que há um aumento deste estilo de drama de ação no cinema moderno. Dessa forma, o longa de Chandor em muito lembra o de Dennis Vileneuve. Da trilha sonora repleta de graves à edição, passando pelo som que prima pelo destaque dos tiros e explosões, Triple Frontier é um destaque sob o ponto de vista técnico.

No elenco, Oscar Isaac e Ben Affleck se destacam com os personagens mais desenvolvidos. São eles que brincam em um jogo de espelhos moral onde nossa percepção muda a cada instante. Não demora para que a personalidade de cada um mude e funcione de formas completamente diferentes. Affleck, um ator muito melhor do que a maioria acredita, carrega nos olhos um peso que traz verossimilhança ao personagem. Isaac, por sua vez, não cansa de provar que é um dos atores mais talentosos da nova geração. Injetando sensibilidade e fibra inabalável ao papel, o ator cria o personagem mais interessante do projeto.

Filme merecia ainda mais tempo para se resolver

Operação Fronteira, porém, poderia ter arriscado ainda mais. Chandor, corajoso do jeito que é, poderia ter feito ainda mais. O ritmo, a história e os personagens são tão bons, que mais trinta minutos poderiam ser adicionados à metragem. A impressão, perto do desfecho, é que as coisas ficam aceleradas para serem completadas em seguida. A construção cuidadosa dá lugar a uma resolução rápida demais, tirando o espectador do envolvimento criado nas horas anteriores.

Ainda assim, Triple Frontier é – de longe – um dos melhores filmes originais da Netflix. Repleto de ação, boas ideias e uma dose de desprendimento (a tal característica brucutu), o longa diverte e levanta questões sem ser didático ou tolo em suas suposições. Em tons de épico moderno, a única lástima é que não poderemos assistir este grande filme em uma tela cujo tamanho lhe faça justiça.

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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