Crítica: Pose, nova série de Ryan Murphy, aborda homofobia e racismo com inteligência

Crítica dos primeiros episódios da série POSE, criada por Ryan Murphy, do FX.

Imagem: Divulgação
Imagem: FX/Divulgação

Mais uma criação de Ryan Murphy que tem tudo para ser sucesso.

Quem acompanha séries conhece, ou pelo menos deve ter ouvido falar de Ryan Murphy, a mente por trás de Glee, American Horror Story, American Crime Story e 9-1-1 (só pra citar algumas). Pois bem. Murphy ataca novamente nos trazendo POSE, sua mais recente produção para o canal americano FX.

Mas antes de falar da série, precisamos fazer uma introdução falando sobre Paris is Burning. Quem já assistiu, pode pular essa parte. Quem não assistiu, vem comigo nesse resumo!

A Inspiração…

Paris is Burning é um documentário da diretora Jennie Livingston, lançado em 1991. Nele, a noite e a cultura gay e trans nova iorquina são mostradas através dos Bailes (balls) que ocorriam frequentemente, onde os excluídos da sociedade se uniam a uma “família” regida, cada uma, por uma “Mãe” (Mother).

Cada família possuía sua casa, e os indivíduos que moravam nessa casa adotavam o sobrenome da família. Era nos bailes que as casas competiam, desfilando em categorias de personificações das mais diversas fantasias dos indivíduos da época, ao som de muito disco ou house, estilos musicais característicos da época e do público. O documentário foca nesse mundo de bailes, mas acaba respingando um pouco nas questões de racismo e preconceito, bem como prostituição e HIV.

E é aí que entra nosso querido Murphy!

Ryan decidiu trazer esse mundo dos anos 80 para a atualidade através de Pose. Ele nos traz a diversão e elegância dessas competições, mas vai além das festas, aliás, muito mais além. A ideia da série surgiu em 2006, depois de Murphy assistir Paris is Burning, mas ele precisou de mais estrada e alguns sucessos para então conseguir dar vida ao projeto.

Afinal, tratar de racismo, drogas e AIDS, tudo isso em um cenário marcado pela luta de gays e trans pela aceitação, não é um trabalho fácil. E Murphy parece estar se dando muito bem nessa tarefa, diga-se de passagem. Ele nos traz essas questões de forma precisa, às vezes angustiantes pela veracidade apresentada, mas sempre com seu toque artístico marcante que já conhecemos de outros shows inspirados na vida real (como Feud, por exemplo).

Continua após a publicidade

Trama que envolve…

Logo no primeiro episódio, somos apresentados à Elektra Abundance, uma espécie de vilã que amamos odiar (ou odiamos amar). Ela é a mãe da casa de mesmo sobrenome e conhecida pelos prêmios que ganha nos bailes, às vezes pagando um preço alto para conquistá-los.

Blanca Abundance é uma de suas filhas, mas quando se mostra insatisfeita com o tratamento recebido pela mãe, decide criar sua própria casa, Evangelista. Já podemos perceber aí o conflito de interesses e de personalidade das duas mothers. Esse plot se desenvolve e, a partir dessa rivalidade, a série aborda os mais diversos temas que se propõe mostrar.

Imagem: FX/Divulgação

[spacer height=”10px”]

Marca registrada de Murphy, a fotografia da série é um show à parte. Seja em um close ou um plano aberto, Ryan nos transmite a sensação do que está acontecendo, e reagimos junto com os personagens às situações, que são, praticamente, uma montanha-russa.

Não podemos deixar também de falar da trilha sonora composta por grandes hits dos anos 80. Prepare-se para se sentir em uma discoteca ao som de Donna Summer, por exemplo. Admito que ainda hoje me pego cantarolando “In My House”, do grupo Mary Jane Girls. Ou, no fim do primeiro episódio, que você se empolga com um “I Wanna Dance With Somebody”, de Whitney Houston, apenas para torcer para o sucesso de um dos protagonistas.

Toda essa ambientação faz com que o público tenha uma nostalgia daquelas produções que amávamos ver nos anos 1980, com exceção de que agora o marginalizado tem voz. E aquela opressão sofrida por ele, antes suprimida, é agora reflexo de linhas como a dos pais que rejeitam o filho gay, ou do bar que não aceita servir um drink para um transsexual. Tudo isso, com muita elegância… e realidade!

A categoria é… SUCESSO!

Pose pode ser classificada como um drama com pitadas de humor negro, que nos trazem personagens cativantes e enredo ágil, mas sem atropelos. É uma série que mostra uma realidade dos anos 80 que, em alguns momentos, pode ser facilmente confundida com os dias atuais, mesmo quase 40 anos depois.

É extremamente relevante a forma como Murphy aborda em seu texto os aspectos do racismo e do preconceito, somando uma época em que o gay e – principalmente – o transsexual não tinha qualquer tipo de oportunidade. Estes elementos são os verdadeiros protagonistas de Pose, fazendo com que a série transcenda qualquer produção que ele tenha encabeçado até hoje.

Continua após a publicidade

Contendo 8 episódios – dos quais quatro já foram exibidos, Pose é uma excelente indicação para esta summer season!

Com um elenco formado principalmente por transexuais e uma trama que retrata de forma encantadora e realista os chamados “Anos Dourados” da cultura gay, Murphy nos mostra que “a categoria é SUCESSO”.

Sobre o autor
Avatar

Maique Backes

Publicitário amante de Filmes, Séries, Música e Comida.

Baixe nosso App Oficial

Logo Mix de Séries

Aproveite todo conteúdo do Mix diretamente celular. Baixe já, é de graça!