Crítica: The Flash diverte, mas arrisca pouco
The Flash tenta arrumar a casa da DC enquanto conta uma história divertida do velocista. Ezra Miller está bem, mas efeitos decepcionam.
O Flash sempre foi um dos super-heróis mais difíceis de se trabalhar. Enquanto o Batman e o Superman tinham seus dramas pessoais, diversos vilões e especificidades muitos claras, o Flash… corria. Não é à toa que, de todos os heróis da Liga da Justiça do DCEU, o velocista foi o último a ganhar um filme solo (não estamos contando o Ciborgue, que nunca ganhou atenção do estúdio).
E a produção não foi nada fácil. Com entradas e saídas de vários diretores, o projeto ainda enfrentou a pandemia e uma série de problemas de bastidores e execução. Para completar, seu astro, Ezra Miller, se viu envolto em uma porção de polêmicas, chegando a ser preso várias vezes.
Além disso, The Flash tinha a ingrata tarefa – uma que nenhum filme merece – de consertar uma franquia mambembe. Com a oportunidade de viajar no tempo – e nos multiversos – e bagunçar tudo, a Warner e o DCEU viram a chance ideal de dar um reset na máquina.
E em grande parte The Flash se sai bem ao reestabelecer a franquia. O problema é que também a bagunça quase que irremediavelmente. Afinal, o novo Batman será aquele apresentado no final? Onde está Clark/Superman? O que permanecerá do projeto antigo e o que deve sumir?
O longa do velocista, portanto, parece ter sofrido inúmeras alterações enquanto a produção rolava. É visível, por exemplo, que os objetivos mudavam e que muita coisa foi incluída – ou retirada – para melhor acomodar os desejos vigentes de cada situação.
Filme encontra forças no fator humano do super-herói
Percebe-se que a melhor parte, aquela que toca o pessoal e o emocional de Barry Allen/Flash, é o que se manteve firme durante o processo. É no fan service, e nos coadjuvantes heroicos, que a dúvida plana.
Supergirl, por exemplo, parece deslocada e pouco aproveitada pelo roteiro. Já o Batman de Michael Keaton parece melhor resolvido, carregando um conflito pessoal que o justifica em uma trama cheia.
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Keaton, aliás, traz um peso adequado ao papel, não só pela idade, mas por conhecê-lo tão bem. Afinal, o Bruce/Batman do ator jamais soa fraco ou desequilibrado. A persona de Keaton, entretanto, injeta uma seriedade jovial que casa perfeitamente com a sua versão do Homem Morcego. É uma pena, contudo, que ele não tenha todo o tempo necessário, muito embora conte com ótimas cenas de ação.
Exagero de efeitos visuais prejudicam a experiência
Andy Muschietti, o diretor, aliás, cria boas sequências de ação, tendo entregado um dos melhores momentos do Batman de Ben Affleck logo nos primeiros minutos de filme. Infelizmente, um antigo problema do cineasta volta para assombrar: o excesso de CGI.
IT: Parte 2 já havia se prejudicado justamente pelo exagero de computação gráfica. Mesmo Mama, seu primeiro longa de horror, já pecava por apostar demais na qualidade dos efeitos visuais. Em The Flash, o incômodo não é pelo tom cartunesco adotado pelo diretor, mas por momentos que obviamente deveriam contar com efeitos melhores.
Já Ezra Miller está ótimo em seus papeis e, embora soe um tanto exagerado em alguns momentos, o ator segura a responsabilidade. Isso não chega a surpreender se considerarmos que Miller já entregou performances notáveis durante a carreira. E o Flash visto aqui, fragmentado em angústias e personalidades, cai como uma luva ao ator.
Trazendo uma porção de pontas e referências, The Flash diverte, mas não se arrisca em muitos pontos. Ainda que reinicie várias questões da franquia, é impossível saber o que se manterá e o que será descartado. Assim, é lamentável que pouca coisa seja definitiva em um filme que prega o peso das consequências.