Crítica: The Last of Us é a melhor adaptação de jogos já feita
The Last of Us chega à HBO cercada de expectativa. Mas fique calmo, pois a série é excelente, sendo a melhor adaptação de jogos que já vimos.
The Last of Us rompeu as barreiras que separam os jogos do grande público. Afinal, os videogames não gozam da mesma popularidade que a literatura, Cinema ou televisão. Apesar de ter um grupo de fãs fidelíssimo, o mundo dos games ainda é nichado, com abrangência limitada.
Ainda assim, a criação da Naughty Dog fez tanto sucesso e foi tão bem feita visual e narrativamente que ultrapassou as fronteiras e foi ouvida até mesmo por quem nunca pegou no controle de um console.
Não demorou, então, para que os jogos ganhassem uma adaptação. Apesar de a nova série da HBO ser a primeira tentativa que deu certo, não é a primeira vez que a franquia tenta carreira no audiovisual.
Um filme dirigido por Sam Raimi quase viu a luz do dia, mas foi cancelado depois que a visão do estúdio não combinou com a de Neil Druckman, criador de The Last of Us. E o alinhamento entre as mídias era essencial. Afinal, é isso que garante o sucesso criativo da série, que tem cocriação de Craig Mazin, de Chernobyl.
Série traz leitura fiel dos jogos de sucesso
Ao abraçar cada nota dos jogos com fidelidade notável, The Last of Us investe em um time que está ganhando. Não há grandes mudanças com relação ao material original. O que vemos, entretanto, é um desenvolvimento maior de personagens e situações que vimos mais rapidamente nos jogos.
Desta forma, a série é como uma versão estendida dos jogos, tornando tudo mais completo e, por conseguinte, complexo.
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The Last of Us acerta, portanto, na criação de um universo rico e que sempre dialoga com o público. Histórias pós-apocalípticas, afinal, ressoam com a audiência há anos e já tivemos bons exemplos neste subgênero.
O sucesso da série, entretanto, é ainda mais elogiável, já que adaptar videogames é quase uma maldição. Afinal, qual adaptação de jogos realmente funcionou no Cinema ou na TV? Poucos são minimamente decentes (Silent Hill, talvez) e muitos são os execráveis (a lista é enorme).
Adaptação acerta em cheio no universo e no elenco
Adaptar jogos é tarefa difícil. Sejam os jogos em vídeo ou os de tabuleiro, esta é uma diversão que exige participação do público. O jogador toma decisões e é responsável pelo andamento da disputa e da história. O Cinema e a TV, entretanto, são mídias mais frias neste sentido, onde o espectador não tem controle sobre o que é visto.
É nesta tradução, no caminho tortuoso entre formatos, que as adaptações falham. Muitos filmes acabam focando apenas na ação dos jogos, esquecendo de colocar a história que às vezes falta nos games. Outros erram por investir no caráter episódico, indo de uma “missão” a outra sem se preocupar com o ritmo.
The Last of Us já se beneficia por já ter uma história bem definida. Além disso, o próprio jogo já busca desenvolver seus personagens para que a experiência seja o mais pessoal e emocionante. Neste sentido, adaptar The Last of Us é como adaptar um grande livro: quase tudo funciona e está pronto. É preciso achar apenas a afinação perfeita em uma nova tela em branco.
E a série da HBO encontra este brilho maravilhosamente bem. O Joel de Pedro Pascal é ainda mais profundo e trágico que o do jogo. Já a Ellie de Bella Ramsay é uma jovem mais humana, com subidas e descidas no humor e na personalidade que a tornam ainda mais curiosa.
Neste sentido, aliás, Pascal e Ramsay entregam atuações excelentes. Juntos, têm uma química invejável que carrega toda a primeira temporada. A dupla, afinal, é o cerne absoluto da história, tendo alguns personagens coadjuvantes que aparecem ao longo dos episódios.
Roteiro é veloz e não perde tempo algum
Os coadjuvantes, aliás, rendem alguns dos melhores momentos da temporada. O terceiro episódio, aliás, é um dos melhores da série, e tem uma carga emocional para a qual o público não estará preparado. As histórias e perigos são tão interessantes que é uma pena que muitos apareçam tão pouco.
Neste sentido, The Last of Us está muito mais próxima de House of the Dragon do que The Walking Dead. Isso porque a primeira contava sua história em ritmo acelerado, avançando a trama com pressa. Já o programa de zumbis preferia se arrastar em um só assunto por uma temporada inteira.
Alguns podem estranhar a rapidez de alguns detalhes e como alguns rostos surgem e saem de cena. Ainda assim, cada aventura vale o investimento.
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Trazendo a brilhante trilha sonora de Gustavo Santaolalla (que cuidou da música dos jogos) e uma belíssima direção de arte, The Last of Us tem os suntuosos visuais que um programa deste tipo requer.
Sendo uma das maiores apostas da HBO nos últimos anos, a série traz a ação e o visual dos jogos, mas jamais esquece o que faz das histórias algo realmente importante e pulsante: pessoas e suas emoções.
Carga dramática e personagens carregam The Last of Us
Com forte carga dramática, The Last of Us pode decepcionar os fãs que aguardam ação desenfreada. Na maior parte do tempo, a série é um drama intimista, focado no desenvolvimento dos personagens e em seus desafios pessoais. Ainda assim, quando investe na aventura e no terror, The Last of Us não decepciona. Joel, por exemplo, é uma máquina de matar, uma granada sem pino, prestes a explodir.
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Neste sentido, The Last of Us se assemelha a Chernobyl, já que foca em pessoas comuns que tentam sobreviver e entender circunstâncias adversas e desoladoras. Assim, o roteiro acerta ao manter os personagens em zonas cinzentas, sem nunca classificá-los como meros heróis ou vilões. Com isso, os dilemas morais da trama prometem movimentar a narrativa e o público.
Com episódios que funcionam muito bem isoladamente (sendo que um deles já é um dos melhores capítulos do ano), The Last of Us chega cercada de expectativa. Não demora, entretanto, para que todos fiquem tranquilos. Afinal, logo percebemos que estamos diante da melhor adaptação de jogos já feita.
Nota: 5/5