Crítica: The Politician, nova série da Netflix, começa promissora mas termina artificial

Crítica da primeira temporada de The Politician, série de Ryan Murphy criada para a Netflix. Temporada de oito episódio estreia dia 27 de setembro na plataforma.

The Politician é a primeira série de Ryan Murphy para a Netflix

Ao assistir o primeiro episódio de The Politician na Netflix é impossível não se empolgar. Afinal, o drama apresenta todas as qualidades que uma trama cativante precisa ter, incluindo personagens interessantes e provocativos, bem como um enredo que desperte curiosidade.

Tudo isso, soma-se aos aspectos já conhecidos na assinatura de Ryan Murphy, criador da série que traz na bagagem sucessos como American Horror Story, Nip/Tuck, 9-1-1 e a mais recente indicada ao Emmy, Pose. Os trejeitos, as falas, e até o filtro usado nas produções de Ryan estão lá, e de certo modo tudo funciona. Mas a empolgação, aos poucos, vai dando lugar a uma frustração ao compreender que The Politician é uma série “vazia” sobre personagens ainda mais vazios.

Um político, que de político nada tem

O curioso aqui é que Ryan Murphy está mais preocupado em construir um dramalhão novelesco do que explorar as características da política moderna. Isso poderia funcionar muito bem, se a série não fosse vendida para tal temática.

Na trama, Ben Platt vive Payton Hobart, um garoto rico e adotado que desde sempre quis se tornar Presidente dos EUA. Como forma de aquecimento, ele até se candidata a Presidente do Grêmio Estudantil da escola onde estuda, entrando em uma campanha que praticamente é uma disputa de egos. Logo, tudo na vida de Payton está planejado, incluindo sua trajetória de vida – quando almeja ir para Harvard, depois casando com sua colega de escola, e desenhando assim sua trajetória até a Casa Branca.

Até mesmo parte de suas falas soam ensaiadas, como é o caso da cena da abertura em que Payton diz que Ronald Regan definiu a presidência moderna, envolvendo Presidentes e Celebridades. “As pessoas gostam de pensar em seus presidentes como personagens da TV. A maioria nunca os conhece na vida real.”. Porém, esse é o máximo que The Politician chega perto, de fato, de algo político. A verdade é que Ryan Murphy se importou mais com reviravoltas e clichês adolescentes do que um viés politizado.

Pecados justificáveis

Mesmo com esse problema pontual, The Politician é uma série que faz você comprar a ideia e saca que ela não quer de fato entrar em discussões calorosas de política. Em uma cena de debate, por exemplo, a pauta é sobre ter ou não refrigerante em uma máquina de vendas do local. Com isso, ela foge de temas pesados e foca em tratar sobre o vazio interior de jovens, o propósito de vida e até onde as pessoas podem ir por suas ambições.

Ao final do primeiro episódio – que é muito bem dirigido por Ryan Murphy, por sinal – você já comprou a ideia. E está disposto a seguir. No segundo capítulo, a história deslancha de uma forma bem equilibrada, e então só temos o que comemorar.

E não é somente olhando a história desse ponto de vista citado que as coisas funcionam. Há todo um combo de The Politician que merece ser ressaltado, como os figurinos sutis e ao mesmo tempo extravagantes que quase soltam da tela como um personagem singular. Do mesmo modo, a ambientação, o jogo de cenas e a condução da fotografia – que permanece a mesmíssima de todas as séries de Murphy – também agradam. Esteticamente, The Politician é impecável do início ao fim.

Ben Platt vive o protagonista de The Politician. Imagem: Netflix/Divulgação.

Além disso,

Paletas rápidas são mescladas com tomadas em slow motion, e isso torna-se um perfeito ingrediente para empolgar a ação que não deixa a bola cair em nenhum episódio. Já no quinto capítulo, a série encontra seu ápice, ao finalmente fazer uma crítica ao sistema político e aos eleitores que, provavelmente, contribuíram para a vitória de Donald Trump nos EUA. Tudo, como já dito, de forma implícita. E é como se este episódio fosse o desfecho da possível proposta política da série. Porque é neste exato ponto de virada que algumas coisas começam a desandar.

Morno desfecho

Sem entrar muito em detalhes que poderiam soar spoilers, é preciso destacar que Ben Platt canta. Mais de uma vez. Só que essas cenas parecem artifícios para que o ator use todo o seu talento que lhe rendeu um Tony Award. Ao mesmo passo, Jessica Lange continua impecável em sua atuação. Mas sua personagem tem tons da sanidade e de loucura que parecem estar no texto apenas para dar oportunidade a atriz de mostrar todo o seu potencial. Claro, ela consegue. Mas nada é de forma justificada.

A trama de Gwyneth Patrol também é completamente isolada, fazendo com que a atriz “sambe” entre um núcleo e outro. Fora a cara de frustração que ela faz em quase todas as cenas, quase refletindo a expressão que ela possa ter tido ao ler o roteiro com as falas de suas personagens.

Já o grupo que circunda o personagem de Platt, incluindo seus assessores de campanha, tem seus momentos interessantes. Mas é dividido: hora funciona, hora não. Já Infinity Jackson, (Zoey Deutch) parece ser a única personagem que cumpre bem o seu propósito, mantendo-se fiel a sua persona do início ao fim – sem deixar de lado uma evolução necessárias para a personagem, que é vista na reta final.

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Campanha pela presidência da escola parecia mais importante que a Casa Branca. Imagem: Netflix/Divulgação.

Além disso,

Infelizmente, ao chegarmos no sexto episódio a trama ameaça sair dos trilhos, e no sétimo desencarrilha de vez. Estes capítulos são extremamente massantes, e fogem completamente de qualquer interesse que os capítulos anteriores despertaram. No último episódio, há aquele misto: um desfecho atraente, mas muitos rostos novos e a falta de interesse em resolver tramas que foram criadas naquele mesmo episódio.

Podemos assim dividir The Politician em três atos: um, do primeiro episódio até o cinco, que funciona de forma interessante; um segundo, completamente desinteressante entre os episódios seis e sete; e um último, que não conquista a simpatia do espectador, em apenas um episódio de 50 minutos. O resultado? The Politician encerra sua temporada como uma série que “se perde”. E é uma pena.

O veredito

The Politician é uma série que dá para assistir, e provavelmente irá virar a favorita de muitos núcleos de assinantes da Netflix. Ela trabalha com questões de um mundo reinado pelo medo instaurado no 11 de setembro, que certamente impactou a geração que esteve por vir. Séries como 13 Reasons Why ou até mesmo Euphoria tratam disso também. Tudo é sobre um vazio em que os adolescentes sem deparam ao encarar a passagem para a vida adulta. No caso de Payton, ele usa a política como forma de auto-proteção.

Porém, isso acaba fazendo com que a série também exponha suas falhas, do mesmo modo que o Reitor enxerga a falta de personalidade de Payton, logo no começo do episódio. Não adianta ter uma ótima aparência, se por dentro não te convence. No final, os seus personagens e parte das suas tramas são como os “presidentes celebridades” definidos por Payton. Nós não os conhecemos, eles não são como alguém que iríamos conhecer na realidade. Uma pena, pois The Politician tinha tudo para ser perfeita e atraente, do começo ao fim.

Confira o trailer abaixo.

Além disso, completo.

https://www.youtube.com/watch?v=kgQ8mDXqqyc

 

Sobre o autor
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Anderson Narciso

Criador do Mix de Séries, atua hoje como redator e editor chefe do portal que está no ar desde 2014.Autor na internet desde 2011, passou pelos portais TeleSéries e Box de Séries.Fã de carteirinha de Friends, ER e One Tree Hill, é aficionado pelo mundo dos seriados. Também é fã de procedurais, sabendo tudo sobre o universo das séries Chicago, Grey's Anatomy, entre outras.

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