Crítica: Todas as Mulheres do Mundo mostra o amor em todas suas camadas

Crítica da nova minissérie "Todas as Mulheres do Mundo", produção nacional e original da platafora de streaming Globoplay.

Todas as Mulheres do Mundo é uma obra de arte vestida de simplicidade

Em tempos de quarentena, me peguei assistindo muita coisa que normalmente não assistiria, como as séries nacionais. É inegável a evolução das produções das séries do Globoplay nos últimos anos, mas eu sou muito “americanizado” quando se fala de audiovisual. Sim, eu sei que isso é horrível e, por isso, quando vi a chamada de Todas as Mulheres do Mundo, que fala de um tema que me atrai muito, o amor, pensei comigo mesmo “por que não?”.

E aqui estou, depois de maratonar esta série maravilhosa, de ter os olhos cheios de lágrimas, de sorrir e ter raiva dos personagens. Aqui estou para dizer que errei em ir com o pé atrás para ver essa série, que hoje, posso falar sem nenhuma dúvida, se tornou uma das mais bem feitas que já vi, e com toda certeza, uma das minhas favoritas.

Para quem não sabe, esta série é baseada em um filme homônimo de 1966, que lá atrás já foi um raro sucesso de público para época e com um elenco de estrelas, que até então eram razoavelmente desconhecidas, mas que quase todos nós conhecemos os nomes. Eu falo de Leila Diniz, Paulo José, Joanna Fomm, atores e atrizes de peso no horário nobre global.

Um clichê com tom original

A história do filme é um clichê para nós hoje em dia, falando do personagem Paulo, um galanteador de muitas mulheres, e seu romance com Maria Alice, uma bailarina que fisga seu coração. O filme passa por várias fases turbulentas do relacionamento de ambos, mostrando a dificuldade de se envolver.

A série segue o mesmo caminho no primeiro episódio, Paulo (Emilio Dantas) é um arquiteto de bom coração, que vive mil e uma noites de amor com todas as mulheres possíveis, sempre acompanhado de seus dois melhores amigos, Laura (Martha Nowill) e Cabral (Matheus Nachtergaele), só que em uma festa de natal qualquer, conhece Maria Alice (Sophie Charlotte). O amor é a primeira vista e passamos o primeiro capítulo inteiro sorrindo com a evolução e momentos desse casal, com Paulo declarando amor eterno a Maria Alice.

Mas somos surpreendidos com o fato dele não se aguentar nem um minuto sem Maria Alice e já atracar com outra mulher. É cômico a sinceridade do personagem, que assim que vê a amada, conta tudo que aconteceu como se fosse uma criança que aprontou e merece castigo.

Maria Alice não tolera a traição, mas ainda sente amor. Ela se muda para fora do Brasil, mesmo que ambos estejam se amando. Tudo isso, no primeiro episódio.

E é aí que a série se mostra uma obra de arte. O amor de Paulo por Maria Alice ganha camadas em cada capítulo, pois em todo novo episódio ele se envolve com uma mulher diferente, que vemos com toda a sinceridade, ele nutrir amor e paixão.

Camadas profundas do amor

Paulo tinha tudo para ser só mais um personagem com estereótipo heteronormativo galinha, mas as série e os diálogos dele nos mostram uma profunda complexidade de sentimentos, que até ele sabe que tem dificuldade de expressar com palavras, mas que com atitudes, vemos a beleza disso.

Em determinado momento, Paulo se encanta com os pais de uma das novas namoradas, Adriana (Samya Pascotto), pelo simples fato do tom de liberdade que existe na relação deles. Ele cria um laço com o sogro que beira ao romance, com tons de cumplicidade e juras de amor válidas para o maior dos casais apaixonados.

Igualmente vemos Paulo se declarar para Adriana, que tem dúvidas de qual gênero se identifica e prefere não ser chamada pelo artigo feminino, onde Paulo não se importa com a definição de atração ou sexual da agora companheirx, e sim pelo que sente por ela.

Em todo episódio, o amor dos primeiros minutos, se vai embora ao final e isso põe Paulo em muitos momentos de evolução, como quando temos um episódio todo dedicado ao romance com sua melhor amiga, Laura.  Não posso negar que doeu ver que um casal tão perfeito, que se entende e se completa, não dava certo pelo simples fato de Paulo ter um único amor na vida.

Nem só de romance existe o amor

Paulo cita “o amor é uma consequência do sexo”, quase como se fosse um argumento para ele sempre estar atrás de sexo e acabar se envolvendo mais profundamente com as mulheres. Mas se engana quem acha que ele vivia apenas para isso. Apesar de começar a se relacionar pelo tesão, ele sempre acaba demonstrando mais interesse em conhecer a parceira do que no sexo em si.

O vemos ter caso com uma viciada, na qual ele ajuda na reabilitação. Tem amante do sogro, que ele quer feliz, tem uma cantora de bar que o atrai pela voz. Até uma casada, na qual Paulo não aceitava como o marido (interpretado pelo incrível Fabio Assunção) era machista e a tratava mal, e fez questão de faze-la se sentir desejada como nunca.

O amor além da atração

A série é uma carta aberta de amor, com frases e diálogos poéticos, muitos deles saídos da boca de Cabral, em uma interpretação que nem tenho palavras para descrever feita por Matheus Nachtergaele. O personagem parece sofrer de algum distúrbio social não especificado, mas que encontra em Paulo e Laura uma parceria digna de amor de Hollywood.

Dentro de tantas mulheres, se destaca o carinho de Paulo com Laura e Cabral. A cumplicidade dos três, comprovada quando Laura traí nosso personagem principal, acabando com o relacionamento de ambos, mas sem destruir a amizade. Fora o fato dela engravidar solteira e Paulo e Cabral estarem a todo momento do seu lado, dando suporte e apoio.

E entre tanta mulheres, um episódio é dedicado a mulher mais importante de quase todo homem, a mãe de Paulo, Dionara (Lília Cabral). É um episódio com enredo clichê para nós seriadores, sobre a mãe se casando com outro homem e o filho não aceitando, mas com um texto delicado e bastante humor. Podemos perceber uma abordagem original do que já foi feito em mil séries e novelas, nos presenteando com um dos melhores episódios da série.

Para sempre Maria Alice

Maria Alice está presente durante toda a série, seja como menção de Paulo, que não para de lembrar o quanto ama Maria Alice. Ou quando o ex-casal faz vídeo chamadas e se mostram evoluídos, sempre falando dos romances atuais e mesmo assim, declarando amor eterno.

É um longo caminho até o retorno de Maria Alice a vida de Paulo, mas que com certeza serviu para nos preparar para tudo. Durante seu percurso, vemos crises de ciúmes dos dois a distância, vemos parceria e promessas de um dia ficarem juntos. E esse dia chega, finalmente.

E novamente, somos presenteados com um roteiro tão belo que me fez cair em lágrimas. Nos dois últimos episódios da série, vemos o casamento e a ruína de Paulo e Maria Alice. O fato de ambos gostarem do proibido complicado. E tentar ter isso dentro do relacionamento que já tem muita história, é difícil. Isso só nos mostra que a série toda nos apresentou a essência de ambos os personagens. Nos fez nos importarmos com eles e aprender a compreender cada decisão, cada insegurança.

Eu chorei ao final, quando a realidade bate a porta de ambos, onde o amor existe, mas nem só de amor vive um relacionamento. A série nos presenteia com um ensinamento que infelizmente não vem fácil na vida. O amor é a essência de um relacionamento, mas não é a base. Se não houver conexão, similaridades e entrega, não tem nenhum amor épico que faça o relacionamento resistir, mesmo que se amem para sempre.

Foi uma minissérie linda, engraçada, comovente. Foi uma grata surpresa em um momento que buscar séries está sendo pelo tédio de quarentena e não por gostos. Fica a indicação de um dos melhores roteiros que pude ver na vida. Todas as Mulheres do Mundo está disponível no Globoplay.

Sobre o autor
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Arthur Gonçalves

Publicitário e roteirista amador que é praticamente uma wikipédia de séries.

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