Crítica: Years and Years, da HBO, foge do óbvio e escancara a distopia atual

No limiar, Years and Years despertará comparações com Black Mirror, mas o fato é que a série da HBO está em maior contato com a realidade.

Years and Years se destaca ao ser totalmente imprevisível

Para quem acompanha o mundo das série de TV, é quase impossível se manter totalmente atualizado. Com tantas estreias e retornos a cada mês, assistir todos os programas é um objetivo inalcançável. Com o tempo, assistindo a tantas produções diferentes, passamos a conhecer diversos truques e ideias, e poucas coisas realmente conseguem surpreender. Years and Years, produção da BBC One, exibida no Brasil pela HBO, se destaca no vasto e concorrido universo televisivo justamente por ser algo totalmente novo e imprevisível.

Na trama aparentemente simples, acompanhamos uma família durante vários anos. No processo, vemos as relações entre casais, pais e filhos e o eterno duelo de gerações. O diferencial, aqui, é o contexto. Years and Years investe pesado nos comentários sociais e políticos, o que faz com que a história familiar básica se afaste dos clichês e convencionalidades do gênero. Ao passo que a família segue seu curso, suas vidas são alteradas por fatores externos e muito maiores São acontecimentos que extrapolam o microcosmo familiar. Portanto, neste quesito, surge a política interpretada por Emma Thompson, que, assim como a família, toca seus planos pessoais com objetivos firmes. Entretanto, eles podem atingir toda a população inglesa.

Discursos bem amarrados enriquecem a série sem torná-la panfletária

O grande barato da série, então, é desenvolver suas histórias de forma totalmente imprevisível. O piloto, por exemplo, começa sua caminhada de forma descompromissada, dançando entre o drama familiar e a comédia. Com o tempo, o roteiro começa e desenvolver ideias fortes acerca da política, sociedade e tecnologia. Já no terceiro ato, Years and Years dá uma guinada surpreendente e assustadora, flertando com o suspense, thriller de guerra e até mesmo com o horror. Acompanhar os desdobramentos da trama, por exemplo, torna-se um prazer e um divertimento. Ao apostar na criatividade e na originalidade de ideias e abordagens, o show toma caminhos inesperados.

Não que Years and Years seja uma série excessivamente política. Apesar dos discursos fortes, a série não é House of Cardsnem panfletária. Em outras palavras, Years and Years comenta e pontua, mas não faz disso sua espinha dorsal. No final, ainda é um drama familiar com grandes doses de humor. Em uma descrição ainda mais arriscada, podemos dizer que o programa é um espelho de nossas vidas em família. Assim, temos nossas vidas e momentos próprios e pessoais, mas o contexto social, político e econômico ainda nos impacta em menor ou maior grau.

Humor, drama, tecnologia e o terror dos dias modernos

Years and Years, portanto, é a distopia dos dias atuais. Ao inserir os personagens em um universo totalmente crível, palpável, o público automaticamente se insere naquela realidade. Além disso, ao explorar a passagem do tempo, o roteiro brinca com as falsas mudanças: apesar da troca de presidentes e da morte da rainha, nada muda de verdade. O surgimento de Rook, a politica fora dos padrões, reflete o surgimento de diversos outros falsos salvadores ao redor do mundo. Com isso, o texto mostra que o discurso engraçado e populista dos políticos não represente, de verdade, uma mudança ou sequer a presença de ideais e planos.

No limiar, Years and Years despertará comparações com Black Mirror, mas o fato é que a série da BBC e da HBO está muito mais em contato com a realidade – e consequentemente assustadora – do que a produção da Netflix, que tem perdido o tato com o passar dos anos. Aqui, vemos tecnologias totalmente criveis, mas absurdas em suas lógicas tolas. Logo, por mais que anos e anos se passem, o planeta ainda chegará às mesmas conclusões becos sem saída. O desespero é iminente, e tudo pode piorar.

Pelo menos temos nossas famílias – que, como a série mostra, podem nos surpreender tomando decisões totalmente opostas ao bom senso.

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Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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