Engajada e bem executada, Atlanta assume a dianteira da disputa pelo Emmy
A comédia Atlanta é uma das grandes favoritas para o Emmy 2018.
Comédia tem engajamento social e disputa favoritismo…
Não foi com grande alarde que Altanta foi recebida antes de sua estreia. É o que acontece com várias séries do FX: pouco burburinho prévio e muitos elogios posteriores. Depois de conquistar seu espaço com uma primeira temporada consistente, a série estrelada por Donald Glover chega ao segundo ano não só como a melhor comédia da atualidade, mas uma das melhores séries dos últimos tempos.
This is America
Antes de mais nada, Atlanta é uma série engajada, com forte consciência social. Os roteiristas conhecem o público para o qual escrevem, mas não transformam o produto inacessível. Pelo contrário: embora dialogue com a realidade negra norte-americana, o show tem muito a conversar com públicos mais plurais.
Atlanta, assim como o sucesso de seu criador, Childish Gambino, faz um retrato contundente da América. Tudo através de um filtro de pura sensibilidade e inteligência, sem deixar de lado o bom humor.
A sequência de abertura da segunda temporada, por exemplo, brilhantemente dirigida, não tem conexão direta alguma com a trama central. A força das imagens – e da mensagem que passa -, contudo, revelam que Atlanta conhece o universo que habita, e tem comentários específicos para fazer. Quando os roteiristas investem em um episódio que fala sobre roupas idênticas, eles não querem apenas fazer graça da situação vivida por uma criança. Há um intenso e inquietante subtexto por trás da ideias e diálogos expostos.
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Atlanta é a série que a América – e o mundo – precisa neste exato momento. É o projeto certo na hora certa. Tem o engajamento social que nenhuma outra produção indicada ao Emmy possui. Não pense, contudo, que o show merece vencer apenas por seus comentários sociais relevantes: inúmeras são as razões que colocam Atlanta na dianteira pelo prêmio.
Coadjuvantes protagonistas
Atlanta não possui protagonista. A primeira temporada fixou suas atenções em Donald Glover, mas o segundo ano traz uma abordagem totalmente diferente.
Todos os personagens têm chances de brilhar, e eles brilham muito. Há pelo menos um capítulo dedicado inteiramente a um personagem específico, o que enriquece a trama como um todo e ainda cria novas conexões entre o público e aquelas complexas figuras na tela. Há espaço para Paper Boi – cada vez mais complexo e carismático – brilhar em pelo menos dois capítulos. Darius também recebe atenção especial, assim como Van, encantadora a cada novo episódio.
Pequenas obras-primas isoladas
Este cuidado com os coadjuvante nos levam a outra grande qualidade de Atlanta: episódios que são pequenas obras-primas, que funcionam tanto em conjunto com outros capítulos quanto isoladamente. Barbershop, por exemplo, acompanha Paper Boi em uma saga insana para cortar o cabelo. Trata-se de um roteiro afiadíssimo no humor e totalmente descompromissado. Uma pequena joia recomendada até para quem não assiste a série. Prova de tanta qualidade é que o episódio foi indicado na categoria de melhor roteiro.
Outro que salta aos olhos é Teddy Perkins. Experimental e esquisito, o capítulo é focado em Darius, que vai até a casa de um milionário para comprar um raro piano de teclas coloridas. Toda a trama se desenrola dentro da casa e, conforme o tempo passa, a comédia dá lugar a um sufocante thriller de horror. Van é outra que recebe um episódio só dela e, assim como os outros recém citados, pode ser assistido separadamente sem problema algum.
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O que estes e outros capítulos têm em comum é o forte apelo experimental. Todos brincam com gêneros, técnicas e abordagens narrativa. Barbershop é uma comédia de erros clássica, com um irresistível toque de road movie. Teddy Perkins flerta com o suspense enquanto Helen, voltado à relação de Earn e Val, brinca com o drama e o romance. Todos trazem um pitada inquestionável de estranheza, fazendo de Atlanta uma curiosa versão de Twin Peaks, como se ambas fossem primas distantes.
OS INDICADOS E AS INDICAÇÕES
Melhor Série de Comédia
Atlanta é a franca favorita ao prêmio principal da categoria. Quem pode ameaçar a conquista da estatueta é The Marvelous Mrs. Maisel, excelente estreia da Amazon. Ainda assim, Atlanta segue na frente pelos motivos que recém elencamos, além de uma porção de outros pontos. É a série do momento e com um artista de primeira na linha de frente. Este foi o ano de Donald Glover e a conquista do Emmy pode ser a consagração de uma invejável caminhada.
Melhor Ator de Comédia
Como afirmamos, este foi o ano de Donald Glover, e é muito possível que mais um Emmy entre para sua conta. O único problema que o ator encontra é o seguinte: ele concorre com outros grandes profissionais que têm muito mais tempo de tela, sendo os protagonistas reais de suas respectivas séries. Glover sequer aparece em alguns episódios, e de todas estatuetas que pode receber, a de Ator é a mais incerta.
Melhor Ator Coadjuvante de Comédia
Brian Tyree Henry, o Paper Boi, está impecável na segunda temporada. O curioso aqui é: o que prejudica Glover na corrida de Melhor Ator, favorece Henry na disputa entre os coadjuvantes. Henry tem dois grandes episódios inteiros voltados ao seu personagem, e o ator surpreende em ambos, investido uma carga dramática impecável em um deles e um timming cômico certeiro em outro. Enquanto Glover é mais coadjuvante entre os Atores principais, Henry é mais principal entre os coadjuvantes. Entendeu? Se não pegou, espere para ver no Emmy, pois é bem possível que ele leve a estatueta para casa.
Melhor Atriz Coadjuvante de Comédia
Zazie Beets, a Van, tem uma disputa muito mais acirrada para encarar do que seus companheiros de outras categorias. A corrida das atrizes coadjuvantes está apertada, e uma das maiores ameaças vem justamente de Marvelous Mrs. Maisel. Esta é uma das categorias que Atlanta não tem muita força e, embora Zazie seja excelente, a atriz não é a favorita ou a melhor da categoria.