Le Chalet: série francesa é garantia de suspense e drama familiar

Produção francesa chega à Netflix e surpreende pela consistência do roteiro e a beleza de suas locações.

Imagem: Netflix

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Na abertura de Le Chalet, série francesa recentemente disponibilizada na Netflix, vemos a miniatura de um vilarejo. Nela, amontoam-se pequenas casas e bonecos representando seus moradores. A união entre os elementos modernos e a natureza tornam o cenário convidativo e relaxante. Aos poucos, um líquido vermelho começa a escorrer pelas ruas da pequena cidade. Sangue cobre casas e pessoas, descendo pelas vielas e encontrando árvores e animais. É um pequeno vislumbre do que é Le Chalet: a história de um lugar e seus moradores e toda a maldade que os invade. Assim como Twin Peaks e tantas outras histórias que se passam em pequenas cidades, é como se o mal se espalhasse e aparecesse com mais força e frequência ali, preso nas fronteiras de um falso paraíso.

Belas locações amparam suspense e drama familiar

Le Chalet acompanha um grupo de amigos e familiares que retornam à cidade onde cresceram. Depois de anos afastados, eles resolvem passar uns dias em um famoso chalé da região. O problema começa quando o único acesso ao mundo externo, uma ponte, é implodida, impedindo a saída e a entrada. Logo, segredos do passado, que nunca foram embora, retornam, e o número de mortes começa a crescer. Dividida em seis capítulos, a minissérie (ou série, nunca se sabe) não é um exemplar slasher. Embora tenta vender essa ideia, não se trata de uma história sobre um assassino psicopata mascarado. Nem o gore é elevado, apesar da violência estar presente.

Com isso, Le Chalet acerta ao investir no suspense e no drama familiar, e não na ação e na violência explícita. A minissérie se sai bem ao construir um sólido clima de suspense, alternando duas linhas temporais e um vasto leque de personagens. Na atmosfera bem conduzida, amparada pelos sufocantes Alpes franceses, a narrativa encontra espaço para amarrar as relações interpessoais, repletas de segredos que trespassam as décadas. Ao passo que dedica um bom tempo ao perigo e ao medo provocado pelas mortes e pela ameaça constante, Le Chalet reserva boa parte de seu roteiro a analisar as dinâmicas entre seus personagens, olhando atentamente às famílias que habitam aquele estranho vilarejo.

Minissérie tropeça ao se levar muito a sério e ser levemente previsível

O pecado de Le Chalet é se achar mais inteligente do que realmente é, sendo que a grande reviravolta é uma obviedade tremenda. Além disso, a série demora a achar seu ritmo em meio a tantos personagens. Fica difícil, a princípio, reconhecer os personagens e lembrar quem é quem no contexto, principalmente porque a série brinca justamente com a ideia que preconcebemos acerca de alguns rostos: como acompanhamos duas linhas temporais, tentamos reconhecer no presente os rostos que vimos em suas versões joviais. A brincadeira se complica quando a confusão torna-se incômoda, já que muitos personagens acabam não servindo para muita coisa. Além disso, por jogar com rostos e nomes, o final da trama pode ser antecipado com antecedência.

Apesar de eventuais derrapadas, o roteiro de Le Chalet mostra-se consistente, embora enverede para resoluções básicas de tempos em tempos. O desfecho mostra-se banal e muito do questionamento e do debate moral se perde quando a receita se torna mais convencional do que o ideal. Pois o programa não precisaria tornar-se convencional: com seu perfil tipicamente europeu, respeitando as raízes francesas, dedicadas ao desenvolvimento lento e cuidadoso de personagens e cenários, Chalet poderia achar saídas mais originais para seus mistérios. Além disso, o roteiro encontra desculpas estapafúrdias de últimas hora; quando achamos que uma explicação pode ser dada de modo surpreendente, uma enorme deus ex-machina é jogado no nosso colo.

Apesar de alguns problemas, vale a pena dar uma chance

Com os problemas deixados de lado – e estes não prejudicam o resultado final -, Le Chalet tem dose certa de suspense e drama familiar, trazendo ecos de Stephen King (o mal está nas pessoas e não no sobrenatural; gerações e traumas do passado) e servindo como ótima maratona. Suas enxutas seis horas podem ser assistidas em apenas um dia e o resultado é positivo, já que o show raramente deixa a peteca cair. Além do roteiro amarradinho, ao estilo dos romances de suspense mais famosos, a trama ainda se ancora em atuações sólidas e em uma fotografia que sabe explorar as belas locações da França interiorana.

Ao fim, Le Chalet é uma boa pedida para um fim de semana chuvoso ou uma noite livre, merecendo um espaço na grade. É rápida e cumpre seu papel.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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