Manifest: o que a série fez que Lost não conseguiu fazer

Manifest arriscou ao investir em algo semelhante ao que foi mostrado em Lost. Mas será que desta vez o conceito foi bem utilizado?

Manifest: Como os passageiros viajaram no tempo explicado
Manifest: Como os passageiros viajaram no tempo explicado

A 4ª temporada de Manifest termina após uma jornada que foi tão acidentada para os personagens quanto para o próprio programa. A Netflix, que escolheu a série para sua quarta e última temporada, permitiu que os fãs vissem a conclusão da história. “Embarque Final” lida com o Dia da Morte, um vulcão, o retorno do avião do vôo 828, uma generosa porção de perdão e, claro, um encontro final com um sinistro Anjo Negro.

O conceito Dark Angel/Anjo Negro, portanto, serve bem a Manifest. A figura sinistra e sombria atua como uma espécie de juiz e, como confirmou o TUDUM da Netflix, pode ser considerado o verdadeiro antagonista da série. A entidade serve a um propósito claro e é dissipada quando os sobreviventes restantes do vôo 828 conseguem convencê-la de seu valor.

A propósito, isso torna Manifest o raro drama sobrenatural que realmente atinge uma criatura vilã com tema de fumaça. Considere Lost, um colega representante do gênero que é famoso por apresentar um misterioso monstro de fumaça que fez muito pouco sentido no final. Veja como Manifest foi bem-sucedido com seu Dark Angel, enquanto Lost falhou em sua versão do monstro de fumaça.

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Dark Angel tem parâmetros claros, mas Lost não tinha

O monstro de fumaça em Lost faz sua presença ser ouvida logo no primeiro episódio e, mais tarde, tem um grande momento quando enfrenta o Sr. Eko (Adewale Akinnuoye-Agbaje) e o mata. No entanto, à medida que o show traz mais e mais elementos para a mistura, as coisas perdem a coesão. E o monstro da fumaça está definitivamente entre os elementos mais confusos do show. Na 6ª temporada, descobriu-se que a criatura era na verdade uma forma alternativa do Homem de Preto (Titus Welliver), mas outros aspectos do monstro – como sua tendência de se transformar em Locke (Terry O’Quinn) nunca foram abordados adequadamente. Em outras palavras, o monstro da fumaça era um cara que às vezes parecia outro cara.

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O próprio co-criador Damon Lindelof foi rápido em admitir que Lost perdeu um pouco o rumo ao longo dos anos. Em entrevista ao Collider, ele atribuiu muito disso ao fato de que seu plano original de encerrar o show em tempo hábil e responder a todos os mistérios de maneira ordenada não colou com a ABC, que queria um show mais longo. Isso, disse Lindelof, acabou atrapalhando o equilíbrio.

Uma das notas que estávamos recebendo da ABC era ‘Quando você vai resolver esses mistérios? E depois de resolver esses mistérios, por que as pessoas continuarão assistindo ao programa?’“, disse Lindelof. “E o nível um disso foi: ‘Bem, vamos introduzir novos mistérios à medida que avançamos. Portanto, esperamos que, para cada um que respondamos, tenhamos criado um novo mistério atraente. Se conseguirmos o equilíbrio certo, não vamos acumular.’ Acho que ambos podemos concordar, então, que não conseguimos o equilíbrio certo.

É claro que esse desequilíbrio também prejudicou o arco da história do monstro de fumaça. Compare-o com Dark Angel de Manifest, por exemplo, e seu papel claro como o balanceador de escalas, e fica bem claro qual programa lida com seu antagonista esfumaçado com mais habilidade.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.