Ritmo e humor sempre foram duas palavras-chave nas produções da Marvel. A opção de empregar, sem precisar perder a qualidade daquilo que produz, o humor e desconstruir o tom de “obrigatoriamente sério” adotado e deificado pelas concorrentes – sim DC, estou falando de você – assegurou que o MCU gerasse bilheterias (e audiências) espetaculares. Em seu terceiro episódio desta temporada, Marvel’s Agent Carter abusa dessa combinação para fazer outro maravilhoso episódio.
Como se numa resposta às críticas levantadas quanto ao tom e ritmo da premiere dupla, os primeiros segundos do episódio já passam uma intensidade e um “Q” de imediatismo enorme para o telespectador, ao mostrar Peggy não só achando evidências, mas prontamente assumindo que elas foram plantadas para incriminar o presumidamente morto (e agora também invisível) Dr. Wilkes. Mas tudo isso é esquecido quando a nossa estrela vai visitar Howard Stark no set e solta a pérola “[…] a movie based on a comic book? Sounds like a dreadful idea.”, provando definitivamente que a Marvel não perde a oportunidade de fazer uma boa piada, mesmo que às próprias custas.
Entretanto, nem tudo são piadas divertidas e tempo bom. Para a nossa frustração, Thompson resolveu fazer uma visita a turma de L.A. e cruzar a linha de ridículo insuportável para bocó – a ser lido em letras garrafais e com a mesma entonação usada pelo Rei Julian. É claro que trazer o personagem de volta e antagonizá-lo tanto, em teoria, reforça a katharsis gerada quando ele testemunha a real extensão das manipulações feitas pelo Conselho dos Nove. Mas, conhecendo bem o personagem, ele fará o mesmo que fez na temporada passada depois dos eventos do episódio “The Iron Ceiling” (e até mesmo da finale) – a.k.a. ignorar Peggy e roubar o crédito.
É claro, para tudo existem silver linings. Ver Carter jogar na cara de Thompson que ele é um covarde e que ele prefere perpetuar uma mentira a ir contra alguém poderoso – além da oportunidade única de ouvir Hayley Atwell xingar com esse sotaque maravilhoso – foi uma das melhores sequências da semana, e lembrou muito do espírito que teoricamente embasa o começo da S.H.I.E.L.D.
Mas falando em personagens “melhores”- yes, pun intended –, Whitney Frost roubou a cena. Primeiro com o seu “We’re just like everybody else. We put our pearls on one strand at a time”, tão hollywoodiano, tão anos 40, que chega a realçar ainda mais o possível impacto dela como Madame Masque, principalmente depois de ver o lado manipulative bitch dela em ação. É claro, toda a tensão subentendida entre ela e Peggy, essa preparação de um antagonismo que se desdobrará por toda a temporada, também foi fascinante.
Simplesmente adorei o co-op de Peggy, Jarvis e Howard. Em cada uma de suas aparições, o personagem de Dominic Cooper nos assegura que Tony Stark teve sim a quem puxar. Na verdade, ver Howard brincando com a perturbação do campo gravitacional envolvendo Peggy foi tão Tony que só faltou Robert Downey Jr. Isso para não mencionar Jarvis como assistente de laboratório.
Fazendo a opção por nos deixar com um cliffhanger moderado – chocante, mas moderado – “Better Angels” nos assegura que a temporada de Marvel’s Agent Carter promete ser excelente.
P.S. 1: Como se o episódio já não tivesse quotes excelentes o suficiente, vem Jarvis e joga “I’ve no desire to spend the rest of time as a disembodied voice.”. #MelhorPersonagem
P.S. 2: Não seria Marvel sem easter eggs. “Kid Colt: Outlaw” era uma publicação real, que foi publicada por quase 20 anos por ninguém menos que a Timely Comics (predecessora da Marvel). A invisibilidade, combinada às referências a União Soviética também foram uma senhora referência ao personagem de Jason Wilkes nos quadrinhos, onde ele aceita a oferta comunista para desenvolver um raio de invisibilidade, mas acaba invisível e intangível, portanto impossibilitado de reverter o processo. #OhIrony
P.S. 3: Wynn Everett merece um standing ovation pelo seu desempenho como Whitney Frost.