Os melhores filmes de 2024
Não vivemos só de séries, e os filmes também são parte importante do nossos dia a dia. Por isso, elegemos os 10 melhores filmes de 2024.
2024 prova que os filmes são muito mais que meras diversões. São documentos que registram memórias, lutas, costumes. É verdade que nem todo o filme precisa ter uma mensagem, mas é sempre bom quando aprendemos algo novo, ou pensamos algo inédito. Nos 10 melhores filmes de 2024, aprendemos muitas coisas, mas a principal é um ensinamento antigo: o Cinema é algo bom demais.
10 – Exhuma, de Jang Jae-hyun
Um dos grandes baratos no gênero do terror é o constante sentimento de temor, de que algo está errado. Algo como se a atmosfera estivesse amaldiçoada. Alguns dos melhores títulos vibram nessa frequência: O Exorcista, Hereditário, A Bruxa de Blair, entre outros. Assisti-los é como sentir que algo nefasto está acontecendo – mesmo fora da tela.
Exhuma, terror sul-coreano, não só tem algumas das sequências mais aterrorizantes do ano como também possui esse sentimento ininterrupto de medo e suspense. Além disso, traz alguns elementos sociais e culturais do país que enriquecem ainda mais a experiência. Sem medo de desenvolver ideias aparentemente absurdas, Exhuma é uma obra totalmente segura de si e de suas habilidades.
9 – O Aprendiz, de Ali Abbasi
Peter Morgan, criador de The Crown e roteirista de tantos outros filmes, afirmou que, para fazer jus a nomes e acontecimentos reais, é preciso estar a pelo menos 20 anos de distância daquilo que quer retratar. Ou seja, um fato ou pessoa só pode ser adequadamente levado às telas depois de aproximadamente duas décadas. O tempo, afinal, coloca tudo e todos em perspectiva.
O Aprendiz, de Ali Abbasi, volta alguns anos no passado para entender uma das figuras mais polêmicas da atualidade: Donald Trump. No processo, o filme não só investiga os primeiros anos de um notório vilão como também averigua as sementes de preconceitos e posicionamentos equivocados que sempre circulam sob a superfície. Um veneno que corre adormecido, esperando o surgimento de gente como Trump para entrar em ação e apodrecer o tecido social.
8 – Guerra Civil, de Alex Garland
Alex Garland sempre foi um criador antenado no que acontecia ao seu redor. Desde seus primeiros anos como roteirista em filmes como Extermínio, o sujeito já demonstrava um afiado entendimento acerca da sociedade que o encerra. De lá para cá, não só continuou um escritor de mão cheia como também se tornou um excelente diretor.
São dele os ótimos Ex-Machina, Aniquilação e o subestimado Men. Em Guerra Civil, Garland tenta entender – ou provocar – o mundo dividido no qual habita. Não estamos muito longe afinal, da cena em que um soldado pergunta “Que tipo de americano é você?”. O que o roteirista/diretor já entendeu é que estamos em uma guerra civil há bastante tempo.
7 – Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
Ainda Estou Aqui se passa em um tempo de brutalidades. Não obstante, foi laçado em época semelhante. É curioso, portanto, que seja uma obra tão sensível. A sensibilidade, aliás, é uma de suas maiores virtudes. Seja na adoção do cachorrinho Pimpão, na foto de família ou na despedida de Eunice dos cômodos vazios de uma casa repleta de amores e dores.
O filme de Salles, enfim, é um atestado da importância da preservação da memória. Lembrar é resistir. Manter a história acesa e passá-la adiante é uma forma de entender o passado. Não há mais sobreviventes da 1ª Guerra ou do Titanic, por exemplo. Daqui a alguns anos, os que viveram a ditadura também partirão. O Cinema ainda estará aqui, eterno, e será um dos responsáveis por manter a memória acesa.
6 – Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
Grandes diretores já demonstraram interesse em fazer filmes livres de diálogos, ancorados apenas no poder das imagens. Denis Villeneuve, de Duna, A Chegada, Sicário é um dos cineastas que mais defende esta abordagem, afirmando que ainda deseja lançar um filme com o mínimo ou nenhum diálogo.
Paul Thomas Anderson é outro que já demonstrou interesse neste formato, e nos primeiros minutos de Sangue Negro até consegue conduzir sua obra sem o auxílio das palavras. É notável, então, que uma animação tão singela quando Meu Amigo Robô consiga comunicar tanto sem dizer uma só palavra. O poder da amizade e do amor impressos em animação 2D, música e a pura força do Cinema.
5 – Conclave, de Edward Berger
Os bastidores da Igreja sempre despertaram curiosidade na literatura, Cinema e TV. As engrenagens do poderio católico já serviram de base para clássicos como O Poderoso Chefão Parte III, de séries brilhantes como The Young Pope e agora de Conclave. No longa de Edward Berger, o Papa está morto. Começa, então, a batalha para descobrir quem será seu sucessor.
Em uma trama digna de House of Cards, acompanhamos os desdobramentos de uma eleição excruciante, onde os concorrentes correm acima da lei e da religião para atingir seus objetivos. Conclave fala de Poder, independente qual seja, como seja e de qual livro o guie.
4 – Duna: Parte II, de Denis Villeneuve
Por muitos anos Duna foi uma saga infilmável. Mesmo depois de algumas adaptações, a percepção ficou ainda mais clara: a obra de Frank Herbert era realmente inadaptável. Isso até a chegada de Denis Villeneuve, um dos melhores diretores de sua geração.
Duna tem um ritmo típico dos filmes de Villeneuve. Uma complexidade temática e de personagens que é padrão na filmografia do cineasta. Depois de obras-primas como Sicário, Os Suspeitos, A Chegada e Blade Runner 2048, nenhum outro diretor parecia tão adequado para a tarefa hercúlea de adaptar a saga de Paul Atreides.
3 – Anora, de Sean Baker
Sean Baker é um dos roteiristas/diretores mais interessantes dos últimos anos. Este ano, está na dianteira da corrida pelo Oscar. A verdade é que pelo menos dois filmes atrás ele já merecia uma indicação – quiçá vitória! – pelos fantásticos Projeto Flórida e Red Rocket.
Em Anora, Baker cria mais um hino dos marginalizados, uma ópera caótica e bem humorada com um coração do tamanho do mundo. O cineasta não só domina a técnica como é um exímio diretor de atores. É impressionante o que ele consegue extrair de seu elenco, principalmente daqueles que não são atores profissionais. Em Anora, não há nada fora do lugar, o que é irônico, visto que a narrativa é uma mistura de caos, ansiedade e comédia de erros.
2 – Os Rejeitados
Muitas vezes, para o bom funcionamento de uma história, bastam personagens bem desenvolvidos. E disso, Alexander Payne entende. Os Descendentes, Nebraska e, principalmente, Sideways são exemplos perfeitos do talento do cineasta para criar personagens e narrativas adultas, bem humoradas, mas com total consciência das tristezas e banalidades da vida.
Em Os Rejeitados, há o choque de gerações (“Não há nada de novo na experiência humana, Sr. Tully. Cada geração pensa que inventou a devassidão, o sofrimento ou a rebelião.“), a validade de filosofias (solidão versus convívio) a disputa entre passado e presente. No fim, precisamos apenas de validão, de sermos notados, mesmo quando ficamos para trás.
1 – Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
Quando Rudolf Hess, próximo ao fim de Zona de Interesse, olha diretamente para a câmera, somos transportados para os dias atuais. Aos poucos, entendemos que estamos no Museu de Auschwitz-Birkenau. Aqui, vemos as malas de milhares de vítimas do Holocausto. Ali, centenas de milhares de sapatos – adultos, infantis. Envoltas em silêncio sepulcral, mulheres limpam o ambiente e o preparam para receber visitantes.
No corte mais acachapante desde que Kubrick saltou de um osso para uma espaçonave em 2001, temos a chocante verdade: não há nada que possamos fazer para evitar aquela tragédia. Entre o momento em que Hess olha para a câmera e o museu atual, milhares sofreram e pereceram frente a um ódio descabido. Nada evitará que aquilo ocorra, mas algumas coisas podem ajudar a evitar que aquilo se repita.
Zona de Interesse é uma peça valiosa para que nos lembremos, e que jamais deixemos que se repita.