Os mĂșltiplos universos de The Walking Dead

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The Walking Dead Mix

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ATENÇÃO: SPOILERS SOBRE AS HQs E AS QUATRO PRIMEIRAS TEMPORADAS DA SÉRIE DE TV

Como todo produto de sucesso, The Walking Dead foi adaptado em diversas mĂ­dias. E me refiro Ă  criação de Robert Kirkman como “produto” de forma positiva. A saga espacial Star Wars, por exemplo, estourou no cinema, mas lucrou alto no universo literĂĄrio e televisivo, alĂ©m de fazer sucesso com brinquedos e jogos. O mesmo acontece com The Walking Dead. Hoje, a histĂłria dos sobreviventes ao apocalipse zumbi Ă© um sucesso absoluto na TV, mas teve origem nas pĂĄginas das HQs. Criada e escrita por Kirkman, os quadrinhos foram desenhados por Tony Moore atĂ© a edição nĂșmero seis. A partir da sĂ©tima edição, Charlie Adlard passa a ser o desenhista de Os Mortos-Vivos, como Ă© conhecida no Brasil.

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300c18f1226f30420a602113bbfc59dcPublicada pela primeira vez em 2003, The Walking Dead curiosamente nĂŁo fez grandes vendas em suas publicaçÔes iniciais, mas amealhou sucesso com o passar dos anos. Na metade da dĂ©cada passada, por exemplo, os quadrinhos de Kirkman vendiam como ĂĄgua e esgotavam com rapidez. TWD, como Ă© chamada por fĂŁs (e por quem tem preguiça de escrever o tĂ­tulo completo), chegou Ă s bancas americanas em outubro de 2003. Desde entĂŁo, uma nova edição sai a cada mĂȘs. A cada seis ediçÔes Ă© lançado um volume, reunindo as publicaçÔes. O primeiro volume, Days Gone Bye, foi lançado em maio de 2014 e reuniu as primeiras seis ediçÔes. No Brasil, nĂŁo hĂĄ o lançamento das ediçÔes separadas, mas sim dos volumes. O primeiro chegou apenas em 2006, ano em que a histĂłria começou a ficar fortemente conhecida no mundo inteiro.

O sucesso das HQs talvez resida no traço forte dos desenhos e na histĂłria simples. O arco percorrido pelos personagens Ă© gigantesco, mas os capĂ­tulos sĂŁo curtos. Cada edição da HQ abrange um curto espaço de tempo, mas avança a histĂłria consideravelmente. É claro que, assim como nas sĂ©ries de TV, alguns capĂ­tulos dos quadrinhos sĂŁo mais ou menos importantes. As primeiras ediçÔes, por exemplo, envolvem o leitor de imediato e despertam curiosidade. Esse promissor inĂ­cio, aliĂĄs, foi fielmente adaptado Ă  TV. Frank Darabont, que levou trĂȘs das melhores adaptaçÔes de livros de Stephen King aos cinemas, Ă© conhecido pelo respeito e fidelidade aos materiais com que trabalha. O piloto da sĂ©rie, escrito e dirigido por Darabont, segue respeitosamente as primeiras ediçÔes dos quadrinhos. EstĂŁo lĂĄ o visual arrojado, o protagonista misterioso e solitĂĄrio, os mistĂ©rios e a aparente calma com que as coisas acontecem. Days Gone Bye, o primeiro episĂłdio, investe no suspense e na força de Rick Grimes, o anti-herĂłi da histĂłria.

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Mas, como toda sĂ©rie de TV baseada em algum material previamente publicado, The Walking Dead começou a expandir seu prĂłprio universo e a se distanciar das HQs ainda na primeira temporada. Essa separação entre um meio e outro Ă© compreensĂ­vel: caso a sĂ©rie de TV se mantivesse fiel aos quadrinhos, pouco poderia ser desenvolvido e o primeiro ano nĂŁo passaria de trĂȘs ou quatro episĂłdios. Como na televisĂŁo hĂĄ mais tempo para desenvolvimento de personagens e histĂłrias, TWD expandiu. Hoje, quadrinhos e televisĂŁo andam separados, quase que completamente independentes. Parecem, portanto, duas histĂłrias completamente diferentes, mas com o mesmo nome.

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Mas ainda que a sĂ©rie na televisĂŁo jĂĄ tenha conquistado autonomia para caminhar com as prĂłprias pernas, ainda hĂĄ certa dependĂȘncia e respeito Ă s HQs. Kirkman, que tambĂ©m Ă© um dos chefĂ”es do programa de TV, jĂĄ falou inĂșmeras vezes que uma coisa nĂŁo tem nada a ver com a outra, e que mortes e reviravoltas em uma mĂ­dia (os quadrinhos, por exemplo) podem ou nĂŁo afetar a outra mĂ­dia (a TV). Kirkman afirma, tambĂ©m, que para ele, como autor, Ă© divertido poder alterar e criar uma nova versĂŁo para sua maior criação. É quase como se a sĂ©rie de TV fosse um universo alternativo. O seriado televisivo estreou quando os quadrinhos jĂĄ eram sucesso e jĂĄ estavam na estrada hĂĄ muito tempo. AtĂ© hoje, com a quinta temporada prestes a estrear, TWD da TV ainda nĂŁo contou muito do que jĂĄ foi publicado no papel.

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As Diferenças

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sophiaSão muitas as diferenças entre a série de TV e os quadrinhos. Uma das mais conhecidas é o fato de Shane morrer na sexta edição da HQ, mas permanecer vivo por um bom tempo na TV. Sophia, filha de Carol, permaneceu viva nos quadrinhos, enquanto levou uma bala na cabeça ainda no segundo ano do seriado. O Governador da TV é um galã, charmoso, inteligente e sådico. O dos quadrinhos, ainda que insano, é meio feio, tem um bigode engraçado e estå longe de ser charmoso.

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Outra diferença chocante envolve Lori. Nos quadrinhos, a esposa infiel de Rick morre durante a invasão do Governador à prisão. Ao levar um tiro nas costas, Lori cai sobre Judith, sua filhinha, e a sufoca até a morte. Na TV, Lori morreu dando a luz à caçula que permanece sã e salva até hoje. Outra grande mudança é o fato de Daryl, personagem favorito de grande parte dos fãs, ter sido criado especialmente para a TV, o que mostra a capacidade do seriado em criar e desenvolver personagens e tramas que fogem completamente do material original.

Dale – lembra dele? – morreu bem cedo na televisĂŁo. Ao sair para uma caminhada sadia por um descampado, Dale Ă© atacado por zumbis que lhe abrem o estĂŽmago. Nos quadrinhos, o sujeito vive um pouco mais, arrasta asa para Andrea, leva mordidas de zumbis, perde uma perna, entre outras desventuras. Na TV, Dale foi morto antecipadamente, pois o ator que lhe dava vida pediu para sair da sĂ©rie, jĂĄ que Frank Darabont, criador do programa e seu amigo, fora demitido anteriormente. Como o ator estava no programa pela amizade com Darabont, resolveu pular fora.

Outro “detalhe” Ă© que, nos quadrinhos, Rick perdeu uma mĂŁo. “Perdeu” talvez nĂŁo seja o termo adequado. O Governador arrancou a mĂŁo direita do coitado sem dĂł nem piedade. Na TV, Rick estĂĄ inteirinho. Meio doido, mas inteiro. Todas essas mudanças – principalmente esta, envolvendo a mĂŁo de Rick – sĂŁo compreensĂ­veis. Ter um protagonista sem uma das mĂŁos seria um enorme empecilho para os produtores da sĂ©rie. Todo episĂłdio contaria com efeitos digitais e prĂĄticos para esconder o membro amputado, os roteiristas e diretores deveriam se adaptar ao fato de ter um personagem principal sem mĂŁo. Parece bobagem, mas Ă© um detalhe que muda o modo como as coisas sĂŁo feitas.

Os Livros

The-Walking-Dead-A-Queda-do-GovernadorThe Walking Dead tambĂ©m se aventura no mundo dos romances literĂĄrios. Escrita por Jay Bonansinga em parceria a Robert Kirkman, uma trilogia foi criada para contar a origem, ascensĂŁo e queda do Governador. No primeiro livro, A AscensĂŁo do Governador, Ă© contado como Philip Blake se tornou o maior vilĂŁo do universo dos mortos-vivos. Conhecemos sua famĂ­lia, acompanhamos o personagem em sua busca pela sobrevivĂȘncia e o nascimento de seu lado negro: O Governador.

Na segunda parte, O Caminho para Woodbury, os autores apresentam Lily e sua chegada a Woodbury. Aos poucos, a sobrevivente vai conhecendo a cidade e seus moradores. NĂŁo demora, portanto, para conhecer o Blake, que se auto-proclamou Governador do local. Ainda que apresente novos personagens e tenha mais tramas, o segundo capĂ­tulo da trilogia literĂĄria segue focando na histĂłria particular de Philip Blake antes de conhecer Rick e sua turma.

A terceira parte da trilogia acabou sendo dividida em dois volumes. A Queda do Governador – Parte 1 insere Rick e os demais personagens conhecidos das HQs e da sĂ©rie de TV. No livro, alguns momentos jĂĄ foram vistos nos quadrinhos e na televisĂŁo, mas agora ganham uma nova roupagem e um novo ponto de vista. É uma histĂłria que pode se prejudicar pelo fato de que todos jĂĄ conhecem o fim do Governador. Ainda assim, os livros fizeram sucesso entre os fĂŁs e podem render mais continuaçÔes ou livros que acompanham outros personagens e acontecimentos. O sucesso dos livros, porĂ©m, se dĂĄ pelo envolvimento direto de Robert Kirkman; sem ele, as histĂłrias poderiam perder o rumo. Assim, qualquer outro exemplar que venha a ser lançado deve ficar sob a vistoria do chefĂŁo Kirkman.

The Walking Dead retorna em 12 de outubro com sua quinta temporada.

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve hå quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.