Por que fãs de The Boys não reconhecem Capitão Pátria como vilão?
The Boys tem um vilão claro na trama - o Capitão Pátria. Mas mesmo assim, muitos fãs não conseguem enxergar o personagem como tal.
No universo provocativo e irreverente de “The Boys“, transmitido pela Prime Video, um personagem tem deixado os fãs intrigados: o Capitão Pátria. A série, que é um verdadeiro espetáculo de atuações impecáveis, sátira engenhosa e duplos sentidos sugestivos, nos oferece uma visão crítica dos super-heróis que vai além do que estamos acostumados.
E, ainda assim, apesar de todos os seus atos maléficos, há quem não consiga enxergar o Capitão Pátria como um vilão. Mas o que explica isso?
Antony Starr interpreta o personagem com uma voracidade vilanesca e um timing perfeito, mas nunca foi sequer indicado para um Emmy por esse papel – o que é surpreendente. Ele personifica as piores facetas de heróis icônicos como Capitão América e Superman, mostrando o que aconteceria se alguém de fato possuísse poder sem limites.
O Capitão Pátria maltrata o próprio filho, ignora a queda de um avião cheio de inocentes e desce tão fundo em um abismo moral que seria difícil achar algum resquício de sua consciência. Contudo, os fãs de “The Boys” parecem fascinados por ele, confundindo sua natureza vilanesca com a de um anti-herói moralmente ambíguo.
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Para desvendar essa confusão, precisamos definir o que é um anti-herói na televisão. Trata-se de um tipo de personagem que proporcionou narrativas mais ricas e debates televisivos mais complexos, elevando o meio a um patamar quase literário.
O anti-herói possui falhas, mas também empatia; luta contra seus demônios internos e busca alguma forma de redenção – como Tony Soprano de “The Sopranos“, que apesar de suas ações condenáveis, cuidava de sua família e buscava terapia para seus traumas. Ou Walter White de “Breaking Bad“, um professor que entra no mundo do crime para assegurar o bem-estar de sua família após um diagnóstico de câncer.
Entretanto, o Capitão Pátria não se encaixa na definição de anti-herói. Ele é um vilão, pura e simplesmente. Todas as suas ações em “The Boys” o colocam mais firmemente na categoria de vilões. A cena final da terceira temporada é um exemplo claro, quando ele elimina um civil friamente diante de uma multidão, sabendo muito bem a maldade de seu ato.
A aprovação da multidão após o assassinato revela a natureza corrompida do Capitão Pátria. Ele sabe distinguir o certo do errado, mas escolhe conscientemente o caminho errado sempre que possível.
Certamente, o Capitão Pátria é, em parte, vítima das circunstâncias, manipulado pela Vought desde cedo. Ele apela para o desejo humano de enfrentar adversidades com violência e vingança. No entanto, isso não o redime. A introdução de personagens como o ex-CEO da Vought, Stan Edgar (Giancarlo Esposito), apenas intensifica o clima sombrio que permeia esse universo.
Os espectadores precisam reavaliar suas percepções. Uma escalada no mal que circunda o Capitão Pátria não diminui a gravidade de seus atos. Isso apenas torna mais difícil achar alguém confiável em “The Boys“. Se tirarmos as lentes cor-de-rosa e atualizarmos nosso entendimento de termos literários, veremos o Capitão Pátria como a atrocidade moral que ele realmente é.