Samaritano, com Stallone, é passatempo divertido, mas esquecível
Samaritano, com Sylvester Stallone, é filme de ação divertido, mas que não sabe qual caminho seguir. Resultado é misto, mas interessante.
Sylvester Stallone é dono de um carisma e talento inquestionáveis. A bem da verdade, o astro do cinema de ação é um artista sensível e inteligentíssimo, qualidades que poucos parecem enxergar em sua persona e seus trabalhos. Samaritano, da Amazon Prime Video, é a incursão do ator ao universo dos super-heróis, algo que, de um jeito ou outro, ele sempre esteve envolvido. Agora, entretanto, Stallone explora sua idade e limitações, como já vinha investindo em títulos como Rocky Balboa e Creed. Aqui, o astro e sua equipe tentam humanizar personagens e narrativas tipicamente exageradas e heroicas. O resultado é misto, mas interessante.
Na trama, acompanhamos um garoto que é fã de um antigo herói da cidade, o Samaritano. Depois de extensas brigas com o próprio irmão, o tal herói supostamente morreu e foi esquecido. Depois de encarar alguns apuros, entretanto, o menino é resgatado por um senhor misterioso e visivelmente mais forte do que o esperado. O jovem sabe, então, que encontrou o bom e velho Samaritano – e que ele está mais vivo do que nunca.
Filme tem dificuldade em definir qual caminho seguir
Um dos maiores problemas do filme, então, é a dúvida constante entre manter os pés no chão e ser uma galhofa explícita. Em alguns momentos, roteiro e direção investem em uma abordagem sóbria, realista e suja. Assim, parece um suspense urbano, carregado de violência e perigo. Em outros pontos, entretanto, o longa se joga em tropos típicos dos quadrinhos e suas adaptações. Há objetos mágicos e acontecimentos extremos suficientes para retirar o universo da realidade e realocá-lo em um mundo típico da Marvel.
Leia também: Samaritano: a história que inspirou novo filme de herói com Stallone
Nesta dúvida de estilos e abordagens, Samaritano nunca sabe qual caminho seguir. Perde-se, então, entre o drama familiar do menino e os planos tolos do vilão caricato. Algumas ideias, porém, são interessantes, e a discussão entre bondade e vilania é um dos pontos altos do projeto. A linha tênue entre herói e bandido, na verdade, é algo que permeia a própria filmografia de Stallone. Seus filmes já foram amplamente estudados e discutidos tanto do ponto de vista artísticos quanto do político, social e cultural. Rambo, por exemplo, foi de drama complexo sobre os efeitos da guerra a ação descerebrada pró-conflito. Em uma só franquia, Stallone viveu herói e vilão. Tudo depende do ponto de vista.
Samaritano é veículo para Stallone experimentar o mundo dos super-heróis
Dicotomia semelhante surge em Samaritano, ainda que pouco explorada. Afinal, como já indagava Watchmen, quem vigia os vigilantes? Qual a diferença entre vingança e justiça? Como o mafioso Costello questiona em Os Infiltrados, quando se está do lado errado de uma arma, qual a diferença de ser um policial ou um bandido empunhando a pistola? O longa de Stallone, apesar de merecem reconhecimento, falha ao não desenvolver tais ideias. Seus questionamentos servem apenas para alargar as diferenças entre os mocinhos e vilões, estabelecendo um maniqueísmo que, antes, tentava pulverizar.
Leia também: De Férias da Família na Netflix é tão ruim que chega a doer
Assim, o vilão que no início sugeria complexidade chega ao fim como uma ameaça unidimensional. Resta a Stallone, com olhar cansado e o tal carisma, segurar a barra e manter Samaritano na linha. O longa, chega ao fim, então, sem estabelecer uma franquia ou mesmo um universo totalmente crível. Nas mãos de realizadores mais talentosos, entretanto (como Rian Johnson, de Looper e Os Últimos Jedi), Samaritano poderia ser um interessante ensaio sobre heroísmo e o complicado papel dos defensores na sociedade. Como ficou, entretanto, Samaritano é apenas um veículo para Stallone se divertir. Isso não é ruim, mas também não é suficiente.
Nota: 3/5