Succession entrega final devastador e genial até o último segundo

Succession chegou ao fim de forma devastadora, brilhante e genial até o último segundo. Episódio encerra um dos grandes momentos da TV.

Succession
Imagem: Divulgação.

Há alguns anos, ao assistir O Exorcista pela primeira vez, meu coração estava disparado. Ainda criança, um misto de medo e tensão me rendeu à primeira ansiedade produzida por um produto audiovisual. Eu não sabia o que viria nas próximas horas e, assim, assisti ao filme inteiro sob forte pressão. Esta foi um sensação que fui experimentar novamente apenas no último domingo, durante o derradeiro episódio de Succession.

Nunca, em nenhuma outra series finale fiquei tão tenso e atordoado com as cenas e informações. Mesmo em finais aguardadíssimos (e superiores) como os de Breaking Bad senti tamanha ansiedade.

With Open Eyes” encapsulou o que Succession sempre fez com maestria. Tragédia desoladora e humor declarado preencheram os quase 90 minutos da despedida desta que é uma das grandes séries deste século.

Riqueza de detalhes torna experiência ainda melhor

As grandes séries geralmente são aquelas que se mostram bem planejadas. Ou melhor: séries que, em retrospecto, tornam-se ainda mais geniais. Concorde ou não com os resultados da sucessão, é fato que pouco ou nada poderia ser diferente do que vimos.

E o absoluto controle de Jesse Armstrong sobre sua obra rivaliza aos talentos incontestes de showrunners como Alan Ball (Six Feet Under), David Chase (The Sopranos) ou Vince Gilligan (Breaking Bad).

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Armstrong conhece cada detalhe de suas narrativas e personagens. E é brilhante perceber que pequenos detalhes vistos na finale já haviam sido sugeridos há anos.

Peguemos, por exemplo, um dos momentos mais chocantes do episódio final, que é quando Roman sugere que os filhos de Kendall não são dele, mas de outra pessoa. A incerteza sobre a paternidade – e a incapacidade de Kendall de ter filhos – já havia sido plantada através de momentos muito sutis desde o primeiro capítulo.

No primeiro episódio, quando as crianças chegam ao aniversário de Logan, este se recusa a recebê-los e apenas grunhe com a chegada dos netos. Ali já estava a primeira sugestão de que o velho não encarava os pequenos como membros da família.

Consequentemente, Kendall não poderia ser sucessor, pois ele mesmo não teria sucessores para dar seguimento ao clã de Roy. Outros momentos denotam a total indiferença – e até crueldade – de Logan para com os netos, o que reforça o peso da afirmação de Roman.

Succession

Série é genial até o último segundo – literalmente

Mas a genialidade do planejamento de Succession não para por aí. Mark Mylod, o principal diretor da série, afirmou em entrevista que havia um plano, um enquadramento, que indicava o futuro sucessor de Logan Roy.

Trata-se do que eu chamo de “plano do líder”, que é quando a câmera filma um personagem de costas, como vemos Logan na abertura, por exemplo. Mylod e os demais diretores enquadraram Kendall várias vezes desta forma durante as temporada de Succession, indicando que ele poderia ser o sucessor.

Nos momentos finais, entretanto, vimos Tom enquadrado desta forma. Mas o toque de gênio vem nos segundos finais da série: enquanto Kendall contempla, desolado, a água que ondula em sua frente, a câmera o enquadra rapidamente no “plano do líder”. Achamos por um momento que a série acabará ali, neste belo quadro.

Mas, antes do fim, há um corte e vemos Kendall de perfil. A ele é negado até mesmo um plano de câmera. Ele não é o sucessor de Logan e nunca será. Nem dentro nem fora da empresa. Ele, portanto, não merece o mesmo enquadramento/respeito que seu pai – ou mesmo Tom. Assim, nos despedimos do personagem com um enquadramento mais básico. O de homem comum.

Ciclo de destruição seguirá para sempre

E estes detalhes permeiam cada segundo de Succession, seja através do brilhante trabalho de direção ou do texto irretocável de Armstrong. A série, então, encontra o balanço perfeito entre o cerebral e denso, e o divertido e novelesco.

Além disso, não é só o texto que chama atenção, mas o contexto e – mais – o intertexto. É nas referências (a poemas, história, livros, personalidades, etc.) que Succession torna-se ainda maior. É uma obra que não se encerra em si mesma, mas cresce belissimamente para todos os lados, todo o tempo.

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É irônico, portanto, que os personagens em si não mudam de verdade. Roman termina a série como começou. Shiv torna-se o que mais temia – uma versão de sua mãe. Kendall torna-se o pai nas piores características, mas sem jamais atingir a força e estatura social, política e cultural.

Eles não são pessoas sérias, afinal, e vê-los se estapear nos minutos finais comprova isso. E Shiv, que não sai no tapa, é tão infantil quanto os irmãos. Ela vota contra Kendall não porque não o enxerga como líder. Ela o trai simplesmente porque não aguenta ver o irmão na cadeira do pai.

No final, a mensagem é pessimista. Ninguém muda de verdade, e muitas vezes o topo é destinado a quem tem mais dinheiro ou disposição de parasitar quem tem. Assim, o futuro destes personagens será repetir os mesmos erros e problemas.

Tom é um fracasso, a Waystar talvez amargue um duro fim, já que os problemas e mentiras da GoJo parecem estourar a qualquer momento. Ou seja: mesmo quem ganhou deve perder logo logo.

Só quem ganhou de verdade fomos nós, que presenciamos um pedacinho da história da TV ser marcado mais uma vez!

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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